A Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) informou professores nesta semana que deve encerrar parte dos 26 programas de pós-graduação (PPGs), alguns com conceito de excelência reconhecido. Por meio de nota, a instituição confirmou que 12 PPGs serão descontinuados: Arquitetura, Biologia, Ciências Contábeis, Ciências Sociais, Comunicação, Economia, Enfermagem, Engenharia Mecânica, Geologia, História, Linguística Aplicada e Psicologia. Demissões também teriam sido anunciadas pela universidade, mas ainda não foram confirmadas.
Os professores foram informados da decisão em reuniões entre quarta (20) e quinta-feira (21). Em e-mail enviado aos estudantes, o Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia destacou que "essa é uma das mensagens mais difíceis" que já tiveram de escrever. O texto destaca que todas as atividades acadêmicas e bolsas serão mantidas até a data prevista da defesa de cada aluno, bem como o acesso às instalações dos laboratórios para o desenvolvimento das pesquisas dos mestrandos e doutorandos.
A Unisinos afirmou, em nota, que "o contexto do ensino superior brasileiro mudou radicalmente ao longo dos últimos anos" e citou, além da redução do número de matrículas, "a redução expressiva de financiamento público para o ensino superior" e a pandemia. "Para promover o equilíbrio financeiro da instituição e sua preparação para crescer de forma sustentável nos próximos anos, a Unisinos está adotando algumas ações que envolvem o início do processo de desativação de uma parte de seus programas de pós-graduação. Os alunos desses programas não serão prejudicados, pois lhes será garantida a continuidade do curso até que concluam sua formação."
"A Coordenação e os professores do PPG Psicologia estão profundamente tristes com todo esse cenário. Contudo, pretendemos garantir a qualidade de ensino e pesquisa do Programa até a última defesa, a fim de honrar os 16 anos de excelência em pesquisas na área de Psicologia Clínica do PPG Psicologia", diz ainda o e-mail, que também lamenta a demissão de quatro professores do programa.
A Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós) emitiu nota, protestando contra o fechamento do PPG de Comunicação da Unisinos. No texto, lembra que é um dos três programas na área com nota 6 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o que expressa excelência em nível internacional, e que é "uma referência histórica para a pesquisa em Comunicação no Brasil". A Compós destaca ainda que seus grupos de pesquisa são parte de dezenas de projetos nacionais e internacionais, inclusive com financiamento — projetos que, acrescenta, devem ser encerrados com o fechamento do programa. Salienta ainda: "Construir um programa deste porte — com tudo e todos que isso envolve — demora décadas. Para destruir, basta uma canetada".
A Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das Américas (ANPHLAC) lamentou o encerramento do programa de História. "O encerramento das atividades do PPGH da Unisinos representa uma perda irreparável, principalmente para a área de História das Américas", afirmou em nota.
A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), a Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) e a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) emitiram nota conjunta, lamentando o encerramendo dos programas. "Foram 22 anos de grande empenho e muitas conquistas por parte deste PPG reconhecido e respeitado por sua qualidade científica. Lamentamos profundamente esta decisão institucional que interrompe carreiras de prestígio e apaga um importante curso de formação de estudantes em Sociologia, Antropologia, Ciência Política e Ciências Sociais", pontuaram.
A Capes emitiu nota citando aumento em investimentos na pós-graduação da Unisinos. "O número de bolsas destinadas aos estudantes dos cursos de mestrado e doutorado aumentou de 644, em 2021, para 754, em 2022, e os recursos subiram de R$14,4 milhões para R$15,4 milhões neste período", consta na nota.
Alunos organizam protesto
Doutoranda no PPG de Comunicação, Beatriz Blanco, 34 anos, destaca que a notícia do fechamento "foi muito chocante":
— A notícia chegou pelo boca a boca porque não recebemos nenhum comunicado oficial da reitoria, o que nos deixou em um clima ainda mais incerto e angustiante.
Alunos estão organizando uma manifestação para a próxima terça-feira (26), com concentração às 16h no acesso 2 da universidade, em São Leopoldo, e posterior caminhada até a reitoria.
— Estamos todos revoltados, tristes e dispostos a lutar pela nossa formação e pelos nossos professores. Nosso PPG é referência nacional e internacional, nota altíssima, alta produtividade — diz Beatriz.
Situação nas outras universidades
GZH contatou outras universidades comunitárias da Região Metropolitana e Vale do Sinos. A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) não realizou corte de programas de pós-graduação. Afirmou, em nota, que “o cenário de redução de investimentos e cortes de recursos na pesquisa e pós-graduação stricto sensu no Brasil é uma realidade que preocupa as universidades há alguns anos” e que “a universidade vem buscando alternativas que visam atender aos parâmetros de excelência alcançados ao longo da sua história e assegurar a sustentabilidade dessas áreas”. Em relação aos desligamentos de docentes, afirmou que não há demissões massivas e que iniciou um processo de integração dos pesquisadores, buscando maior compartilhamento entre os programas.
A Unilasalle também afirmou que, como as demais universidades comunitárias, vem enfrentando diminuição do número de estudantes da modalidade presencial ao longo dos últimos anos, fato que se acirrou durante o período pandêmico. Mas afirmou que, neste momento, não existe previsão de descontinuação de nenhum dos quatro programas de pós-graduação mantidos pela universidade, e que demissões de professores têm ocorrido na mesma linha de semestres anteriores, com desligamentos pontuais.
A Feevale, de Novo Hamburgo, disse que “manterá os processos seletivos para seus mestrados e doutorados, sem alterações previstas nos programas ou redução de pesquisadores”.
Confira, na íntegra, a nota da Unisinos
"O contexto do ensino superior brasileiro mudou radicalmente ao longo dos últimos anos. Houve significativa redução do número de matrículas, resultado da crise econômica do país, da redução expressiva de financiamento público para o ensino superior e da pandemia. Para promover o equilíbrio financeiro da instituição e sua preparação para crescer de forma sustentável nos próximos anos, a Unisinos está adotando algumas ações que envolvem o início do processo de desativação de uma parte de seus programas de pós-graduação. Os alunos desses programas não serão prejudicados, pois lhes será garantida a continuidade do curso até que concluam sua formação.
Cabe destacar que a Universidade seguirá investindo e mantendo sua reconhecida excelência em pesquisa acadêmica por meio de 14 programas de pós-graduação, produzindo conhecimento que gera impacto positivo para a sociedade.
A Unisinos mantém-se inabalável em seu propósito de oferecer educação superior de excelência. A Universidade potencializará seu portfólio de cursos e programas, em permanente conexão com as oportunidades e demandas do mercado, visando contribuir ainda mais para o desenvolvimento do estado do Rio Grande do Sul."
Confira, na íntegra, a nota da Capes
A Capes aumentou os investimentos na pós-graduação da Unisinos. O número de bolsas destinadas aos estudantes dos cursos de mestrado e doutorado aumentou de 644, em 2021, para 754, em 2022, e os recursos subiram de R$14,4 milhões para R$15,4 milhões neste período.
Além das bolsas no país, a Unisinos também é beneficiada pela Capes por meio do Programa Institucional de Internacionalização (PrInt), que fomenta planos estratégicos de internacionalização de 36 instituições de ensino e pesquisa. O recurso programado para o ano de 2019, início do Programa, foi utilizado conforme planejamento da Unisinos. As cotas de bolsas previstas para o ano de 2020 e 2021 foram impactadas pela pandemia de Covid-19 e não puderam ser completamente executadas em função do estado de emergência mundial e fechamento das fronteiras. Em função disso a Capes prorrogou o programa por mais um ano e permitiu que parte das cotas previstas fossem reprogramadas para os anos de 2023 e 2024. Dessa forma, o orçamento previsto de R$ 4,9 milhões para a implementação das bolsas e R$ 1,3 milhão para execução dos projetos de pesquisa foi mantido com a reprogramação de parte do recurso para os anos de 2023 e 2024, em função da pandemia.