Sentado na praça em frente ao Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, Danilo de Brito, 20 anos, segurava uma garrafa de água e a embalagem lacrada com canetas, máscara extra e documentos. Era tudo que o jovem de Teresina, capital do Piauí, precisava para enfrentar primeiro dia de provas do vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ao todo, 15.234 estão inscritos para as 3.980 vagas.
O primeiro dia do disputado vestibular teve início às 15h deste sábado (12) em sete cidades. Além da Capital, Bento Gonçalves, Canoas, Gravataí, Imbé, Novo Hamburgo e Tramandaí também realizam o processo seletivo. Mas a movimentação em frente aos locais de provas em Porto Alegre começou bem antes disso. São 28 pontos, em diferentes regiões da cidade, onde 11.173 estão inscritos para os testes.
Com 50,17 candidatos por vaga, Medicina, curso para o qual Danilo está inscrito, é o mais disputado entre os candidatos. Desde janeiro, o jovem já mora na Capital, onde cursa Engenharia da Computação, também na UFRGS, após ser aprovado por meio do Sistema de Seleção Unificado. Ainda assim, decidiu tentar também o vestibular. O tio Nicodemus, 47, que já reside em Porto Alegre há quase uma década e hospeda o sobrinho, acompanhava o aguardo pelo início da prova.
— Acho que a prova do segundo dia pode ser mais e o tema da redação — prospectou o jovem.
Na mesma praça, sentada ao lado da mãe, Renata Ramos, 17, aparentava tranquilidade, mas confidenciava estar nervosa para o seu primeiro vestibular na UFRGS. De Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, a jovem estava mais ansiosa com a redação. Acompanhada dos pais, chegou à Capital ainda na sexta-feira (11).
— Viemos antes, porque não somos daqui, queríamos vir com tranquilidade, ver o local da prova – detalhou a mãe, Fabiane, 45, que chegou com a filha no colégio às 13h - a orientação era para que estivessem nos locais dos testes no máximo 14h30min.
Às 14h, os portões de acesso ao pátio do campus central da UFRGS foram abertos e os estudantes ocuparam o espaço, muitos acompanhados de familiares. Em frente ao prédio da Faculdade de Educação (Faced), Ana Carolina Caldieraro, 18, permaneceu debaixo de árvores com a mãe Karen, 44, de um lado e o pai Franco, 50, do outro. A família veio de Nova Prata, na Serra, para o primeiro vestibular da jovem na UFRGS.
Formada em dezembro no Ensino Médio, Ana Carolina também decidiu disputar a concorrida vaga para Medicina. Para se preparar, nas últimas semanas, virou madrugadas estudando.
— Rendia mais para mim estudar de madrugada, entre meia-noite e cinco horas. Estou com expectativa boa. Não dá para ter certeza, mas estou confiante — disse.
Também no campus do Centro, no pátio do prédio de Salas de Aula, Amanda Peixoto, 19, aguardava acompanhada da família. Moradora de Alvorada, tem como objetivo ser aprovada no curso de Jornalismo.
— Estou confiando no que estudei. A parte da redação é a que mais gosto. Estou muito curiosa com isso — afirmou a jovem, que no último mês participou de um cursinho preparatório popular (sem custos).
Dizendo-se tranquila, Amanda só reclamou do calor, na tarde que chegou aos 33ºC na Capital. Os estudantes foram orientados a levar suas próprias garrafinhas de água, já que os bebedouros dos locais permaneceram isolados, em razão da pandemia, e muitos fizeram isso para enfrentar o calorão. Nos acessos aos locais, ambulantes aproveitaram também para comercializar o produto.
Abraços e apoio
Às 14h30min, enquanto parte dos vestibulandos já se reunia para entrar no prédio da Faced, Carmela Quaini Bresolin, 18, recebia os abraços dos pais Nadia, 49, e Eduardo, 50.
— Vai com calma, fica bem tranquila, filha, que tudo vai dar certo — disse o pai, enquanto fazia brincadeiras para descontrair a jovem.
Os dois ficaram observando, enquanto Carmela andava na direção do prédio, com a mochila nas costas. Eduardo não se conteve e caminhou logo atrás. Se colocou do lado de fora, observando pela parede de vidro. Assim que a jovem subir as escadas, em prontidão com o celular, registrou o momento. Carmela acenou para o pai, antes de continuar subindo.
Moradores de Cruz Alta, no noroeste do Estado, desde que a filha se formou no ensino médio, o casal vem fazendo quase um tour pelas cidades onde ela decidiu prestar vestibular. Já estiveram em diferentes regiões do RS e em Santa Catarina. A garota foi aprovada em três universidades particulares para o curso de Medicina.
— Mas quem não quer passar na federal? Mesmo já tendo as outras aprovações, ela está tentando. Está tranquila. É muito estudiosa. Sabemos que a concorrência é grande, mas estamos confiantes — garantiu a mãe.
— A expectativa é muito positiva — disse o pai, enquanto mantinha os filhos fixos no celular e digitava a última mensagem de incentivo para a filha, que prometeu só deixar a sala de provas no fim das cinco horas e meia previstas para realização.
Ainda que muitos tenham se programado para que tudo corresse com tranquilidade, chegando mais cedo, imprevistos não deixaram de acontecer. Às 14h53min, duas jovens cruzaram em disparada o pátio arborizado da Faced, em direção ao outro lado da Sarmento Leite, onde deveriam chegar para ingressarem nas salas.
Dois minutos depois, um jovem desembarcou de um veículo em frente ao campus central. Andou com tranquilidade até um dos guardas, que repassava orientações aos vestibulandos. Sacou o celular do bolso e descobriu que seu local de prova era do outro lado da Sarmento Leite, no prédio Salas de Aula. Após receber as informações, agradeceu, e caminhou com a mesma serenidade, até cruzar a via e passar pelo portão de acesso.
— Se tiver essa calma para a prova, vai se sair bem — brincou o funcionário.