O ministro da Educação, Milton Ribeiro, chegou de surpresa na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados para falar sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na manhã desta quarta-feira (17). A visita aconteceu no exato momento em que os parlamentares discutiam a convocação do ministro para dar esclarecimentos sobre supostas interferências nas provas e sobre o pedido de exoneração de mais de 30 servidores do instituto responsável pela operacionalização do exame.
Ribeiro se defendeu das acusações que recebeu de trabalhadores de que o governo Jair Bolsonaro estaria influenciando ideologicamente no teor das questões que irão aparecer no Enem nos dias 21 e 28 de novembro.
— Em nenhum momento houve interferência na qualidade e na quantidade, porque essas questões fazem parte de um banco de questões que já foi preparado por outras gestões. Nós só tivemos uma comissão que escolheu essas questões. Em nenhum momento, houve esse tipo de interferência — afirmou.
O ministro disse ainda que não vê as provas do Enem antes da aplicação e que nem quer ter acesso a elas.
— Não há controle ideológico. Em nenhum momento eu tive acesso à prova — afirmou.
Bolsonaro voltou a atacar a formulação do Enem nesta quarta-feira durante viagem a Doha, no Catar. O presidente afirmou que havia "temas esquisitos" no passado e negou ter tido acesso às perguntas do exame a ser aplicado nos próximos dias em todo o Brasil.
— Olha o padrão do Enem do Brasil, pelo amor de Deus. Aquilo mede algum conhecimento ou é ativismo político e comportamental? Não precisa disso — disse Bolsonaro, durante entrevista a jornalistas, depois de passear de moto com apoiadores no Catar. — Você gostava do sistema do passado, você tem família, filhos? Pelo amor de Deus, que temas esquisitos no passado, acaba com isso.
Dias antes, Bolsonaro havia afirmado que as perguntas do Enem terão "a cara do governo", o que provocou forte reação política. Ribeiro concordou com a fala do presidente, porém, segundo o ministro, é no sentido de "competência, honestidade e seriedade".
Sobre o pedido de exoneração de servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), entidade responsável pela aplicação de provas como o Enem, o ministro alegou "questões administrativas".
— Isso passa por questões de ordem administrativa. De gratificação. Nenhum pediu demissão, eles são concursados. E nenhum deles eu aceitei os pedidos de exoneração, em um primeiro momento, porque eles são responsáveis pela prova. Depois da prova, vamos avaliar se podemos aceitar — explicou Ribeiro.
Na semana passada, servidores do Inep afirmam que sofreram pressão psicológica e vigilância velada na formulação do Enem deste ano para que não escolhessem questões polêmicas que eventualmente incomodariam Jair Bolsonaro, o que motivou a entrega dos cargos.