A poucos dias do retorno das aulas presenciais obrigatórias no Rio Grande do Sul, diretores de parte das escolas públicas de Porto Alegre e da Região Metropolitana seguem apreensivos com a necessidade de garantir medidas de segurança e com a adesão dos estudantes. A regra passa a valer a partir da próxima segunda-feira (8) e permite que as instituições mantenham o sistema de revezamento de alunos se não conseguirem garantir o distanciamento de um metro entre as classes. Conforme estimativa da Secretaria Estadual da Educação (Seduc), o caso se aplica a um quarto da rede estadual, o que significaria menos de 600 escolas de um total de 2.376.
No entanto esse número pode ser maior, já que os dados ainda estão sendo contabilizados. Das oito instituições públicas - municipais e estaduais - ouvidas por GZH, nenhuma garantiu que será possível comportar todos os alunos de uma vez só, sendo necessário aplicar o rodízio em pelo menos parte das turmas.
Em alguns casos, o modelo é aplicado desde o início do ano. Na escola estadual Medianeira, na zona sul da Capital, as turmas são hoje separadas em dois grupos, que revezam a cada semana. A coordenação aguarda resposta dos pais para saber a quantidade de jovens que se enquadram no grupo de risco para a covid-19 e têm permissão para seguir em casa. Caso todos voltem presencialmente, será necessário criar mais um grupo.
A situação é a mesma na escola municipal Larry José Alberto Ribeiro Alves, localizada no bairro Restinga, também na zona sul de Porto Alegre. As turmas possuem em média 32 alunos, e, com o distanciamento, é possível receber até 15. O diretor Gustavo Vianna afirma que, com isso, as crianças que já estavam comparecendo ficarão uma semana em aula para cada duas em casa.
— O que vai acontecer é que os alunos vão demorar ainda mais pra ter aulas presenciais, já que mais um grupo entrará no revezamento — relata.
Já o colégio estadual Protásio Alves, um dos maiores de Porto Alegre, não está precisando realizar escalonamento, mas deve passar a fazê-lo no momento em que a obrigatoriedade entrar em vigor. A instituição, no bairro Azenha, recebe em média 20 estudantes de Ensino Médio por turma, o equivalente à metade dos matriculados.
O Instituo Estadual Rio Branco também deve passar a implementar o modelo a partir de agora, exceto em turmas menores, como as do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental. O revezamento, no entanto, não é o único impasse vivido pelos gestores. Na escola estadual Luciana de Abreu, no bairro Santana, alguns alunos não possuem condições de retornar devido às condições financeiras.
— Eles se mudaram para bem longe da escola porque a situação financeira dos pais ficou muito ruim. Com isso, eles não terão como pagar passagem para os filhos. Para assistir às aulas de forma remota, eles dão um jeito: arrumam emprestado o celular, dividem o computador, usam o wi-fi do vizinho, mas passar todos os dias debaixo da roleta do ônibus não vai acontecer — conta a diretora Maria Rita Cezimbra.
Em locais com menor estrutura, a principal crítica é quanto à obrigatoriedade entrar em vigor restando apenas um mês para o fim do ano letivo. É o que aponta o diretor da escola estadual Manoel de Almeida Ramos, Laércio Lancelotti, de Capela de Santana. A instituição não possui estrutura física própria desde 2013, devido a um incêndio que atingiu o prédio. Há cinco meses os alunos estudam em um porão de uma capela. Com um espaço menor, sem espaço externo e refeitório, professores demonstram dificuldade em atender uma grande quantidade de alunos.
Ensino privado
Algumas escolas privadas de Porto Alegre também estão tendo de se adaptar para receber a totalidade de alunos. No Colégio Santa Doroteia, na Zona Norte, a dietoria busca espaços alternativos para alocar os estudantes, como forma de evitar o revezamento. Uma das turmas será acomodada num auditório, que já possui estrutura multimídia e receberá cadeiras e mesas. Outra turma deve ir para uma sala normalmente utilizada em eventos e para atividades de formação de professores e funcionários, que está sendo transformada para ter a estrutura adequada.
Já na ACM, no Centro Histórico, o rodízio será feito dentro das dependências da escola: uma turma estará em sala com o professor numa semana e, na outra, em outro espaço, assistindo através de plataformas digitais.
Em outros locais, será necessário aplicar o escalonamento apenas no Ensino Médio e nos Anos Finais do Ensino Fundamental. No La Salle Santo Antônio, na Zona Leste, mais da metade das turmas dos dois níveis de ensino passarão por esse processo, com dois grupos revezando de forma semanal. Atualmente, o índice de presença dos mais velhos está em 40%. Apesar disso, para o supervisor educativo da escola Fávaro Lummertz, isso não causará impacto para a instituição:
— Para nós é indiferente. Temos condições de manter o ensino híbrido através das tecnologias.
Escolas como Anchieta, Farroupilha e Monteiro Lobato garantem que será possível receber os estudantes de uma vez só, pois já apresentam um alto índice de presença. O Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe) realiza uma pesquisa para saber quantos locais não conseguem comportar todos os alunos. O resultado deve ser divulgado nos próximos dias.
Colaborou: Isabella Sander