A necessidade de distanciamento social não deixou nas crianças somente saudade de seus colegas e professores – a falta de contato com a natureza também foi muito sentida por elas. Para sanar essa demanda, escolas de Porto Alegre têm investido, para o segundo semestre, na oferta de mais atividades nas áreas externas e na criação de mais espaços de conexão com o ambiente fora e dentro das salas de aula.
No Colégio Santa Inês, quatro salas da Educação Infantil foram transformadas em duas para que oferecessem um espaço mais amplo aos pequenos, e o mesmo deve ser feito com outras. A grande novidade do segundo semestre, porém, é a implementação do conceito de biofilia na escola. Do grego antigo, o termo é traduzido como “amor às coisas vivas” e costuma ser usado na arquitetura, quando são aproveitados elementos naturais para pensar o design dos espaços.
Além de embelezar a escola, a biofilia será parte do currículo das crianças no Santa Inês. Segundo a coordenadora pedagógica da Educação Infantil do colégio, Rosana Rego Cairuga, os alunos farão uma investigação sobre quais plantas podem ser cultivadas dentro da sala de aula e qual o efeito delas nas pessoas – o que acontece, por exemplo, quando alguém sente cheiro de alecrim ou hortelã.
— Buscamos aproximar as crianças da natureza e mostrar que mesmo quando elas não estão perto de uma mata ou de uma floresta, elas podem conviver e cuidar das plantas. É a natureza invadindo a sala de aula — resume Rosana.
Além do cultivo, os estudantes terão nas salas de aula ambientes propícios a movimentos naturais. Os professores incentivarão as crianças, por exemplo, a engatinhar, se arrastar e, assim, explorar sua motricidade, que foi limitada durante a maior parte da pandemia.
Durante o segundo semestre, o Santa Inês concluirá, ainda, a construção da Praça dos Quatro Elementos Naturais. Voltado para os alunos mais novos, o local terá brinquedos que reproduzem os elementos fogo, água, ar e terra, com os quais as crianças irão interagir e se conectar, também assim, com a natureza.
No Colégio Farroupilha, o fortalecimento da relação com o meio ambiente é proposto por meio da realização de mais atividades curriculares ao ar livre. A instituição de ensino tem passado a oferecer no pátio aulas de expressão criadora, como música e pintura, para que os estudantes se inspirem em elementos da natureza durante seu processo criativo.
— O que antes se fazia dentro, agora se faz fora. É muito rico a criança poder se inspirar no que observa na natureza para poder criar — observa a assessora pedagógica do Farroupilha, Gabriela Dal Forno Martins.
A escola também está delimitando recantos em seu jardim para que estudantes desenvolvam habilidades e aprendam por meio do contato com a natureza. Para seu uso seguro, os locais estão sendo cercados, mas não haverá intervenções além dessa – a ideia é que o ambiente seja o mais natural possível, com pedras, barro, barranco e areia, a fim de que os alunos da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental aprimorem sua habilidade investigativa.
— Desde a Educação Infantil, trabalhamos com projetos de investigação, nos quais as crianças fazem perguntas que, depois, vão sendo respondidas. É nesse contexto que as professoras levam as crianças para esses recantos, para explorar os conceitos na vida real — relata Gabriela.
A decisão de implementar as novidades se devem tanto pela demanda por garantir espaços com menos risco de transmissão da covid-19 como para suprir a falta de conexão das crianças com a natureza durante o período de maior isolamento. Conforme a assessora pedagógica do Farroupilha, o contato com a natureza mostra às crianças que elas são parte de algo maior, que é o universo, o que traz impactos socioemocionais positivos.
Durante as férias de julho, o Colégio Santa Doroteia aposta em incluir no seu Ecoparque uma caixa de areia planejada para funcionar integrada ao ambiente. Ela servirá tanto para as experiências orientadas como para as brincadeiras espontâneas das crianças da Educação Infantil.
A ideia de agregar o elemento ao Ecoparque se deu diante da constatação, por parte da escola, de que os pequenos estão carentes de espaços que possibilitem, ao ar livre, mais momentos de interação, cooperação e brincadeira. Esse parque tem 1,2 mil metros quadrados de natureza preservada e inclui uma área de horta, brinquedos, mesas e bancos para atividades.
Além das atividades ligadas ao ambiente, o Colégio Marista Rosário planeja, para o segundo semestre, o retorno presencial de atividades complementares, que envolvem modalidades artísticas, culturais, científicas e esportivas, como artes, capoeira, balé, teatro, teclado, patinação e violão. As turmas serão reduzidas, e as atividades ocorrerão em espaços adaptados.
Ainda no primeiro semestre, o Rosário já havia testado outras modalidades de escalonamento, visando ao início do segundo semestre. Aliadas à testagem e à mitigação de casos suspeitos, viabilizadas pela parceria com o Hospital São Lucas da PUCRS e o Instituto do Cérebro, a instituição tem ampliado a frequência presencial de seus alunos.
Sindicato quer reduzir a distância entre alunos nas salas de aula
O Sindicato do Ensino Privado no Rio Grande do Sul (Sinepe/RS) negocia com governo do Estado e prefeitura de Porto Alegre a redução da distância mínima entre os alunos em sala de aula. Atualmente, é necessário 1,5 metro de espaço entre os estudantes. A entidade, que representa as instituições particulares de ensino, almeja que a separação seja de um metro, para que as salas comportem mais estudantes por vez.
— Nossas escolas não estão conseguindo atender todos os alunos, ainda, em função do distanciamento previsto na norma estadual. Já estamos com todos os professores e funcionários vacinados, o número de casos está caindo e muitos alunos estão voltando às aulas, mas nos incomoda não poder atender ao mesmo tempo todos os estudantes que desejam o retorno presencial — destaca o presidente do Sinepe/RS, Bruno Eizerik.
Cerca de metade das escolas privadas do Rio Grande do Sul está conseguindo oferecer as aulas de forma presencial sem necessidade de escalonamento, segundo Eizerik. As instituições priorizaram o retorno dos alunos de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, que têm mais dificuldades de adaptação ao formato remoto. O presidente do Sinepe/RS cita que Estados como São Paulo e Santa Catarina já preveem a distância de um metro entre os alunos.
Rede pública foca na avaliação das perdas de aprendizagem
Na rede pública, o foco, para o segundo semestre, é em avaliar as perdas de aprendizagem entre os alunos. A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) realizou uma avaliação diagnóstica entre estudantes do 2o ano do Ensino Fundamental ao 3o ano do Ensino Médio e utilizará o resultado para formular planos de recuperação desses conhecimentos. Outra avaliação – esta presencial e com atribuição de nota – está prevista para agosto. A pasta também trabalha na capacitação de diretores e professores para analisarem os dados da avaliação e elaborarem os planos de recuperação.
Na Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre (Smed), será feito um chamamento às famílias para que aquelas que ainda não aderiram ao ensino presencial o façam. A pasta também fará uma avaliação diagnóstica para aferir os níveis de aprendizagem dos estudantes de Ensino Fundamental, do 2o ao 9o ano. As provas serão feitas de setembro a novembro. Ao final, haverá uma análise do desempenho dos alunos e será feito um planejamento de formações, das políticas de recuperação de aprendizagem e o replanejamento das estratégias de ensino para o ano letivo de 2022.