Explicar para crianças temas como a composição dos vírus, a transmissão de doenças e a ação das vacinas no corpo humano pode ser uma tarefa complexa, que requer recursos lúdicos e criativos. Por este motivo, um projeto da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) utiliza jogos, animações, protótipos e uma linguagem simplificada para fazer com que alunos do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental aprimorem seus conhecimentos científicos.
Professor da instituição e idealizador da iniciativa, Luiz Carlos Rodrigues afirma que o Aprendendo sobre Vírus e Vacinas foi criado em 2019 especialmente para a Feira de Saúde, evento da UFCSPA que leva trabalhos de alunos e professores para escolas da Capital, a fim de abordar assuntos relacionados à saúde pública. A partir dessa apresentação inicial, foi constatada a necessidade de tornar o projeto uma atividade contínua.
— Observamos que existia um desconhecimento por parte das crianças sobre vacinação, o que são vírus, como ocorre a contaminação. Eles não sabiam, por exemplo, para que servia cada vacina, achavam que se fossem imunizados para HPV também estariam imunes à gripe ou ao HIV — relata.
Em 2020, a iniciativa virou um projeto de extensão que envolve alunos dos cursos de graduação e de pós-graduação da UFCSPA, mas, devido à pandemia, não foi possível colocar em prática todo o planejamento. Mesmo assim, a equipe coordenada por Rodrigues produziu dois livros digitais sobre o tema, sendo um infantil e um infantojuvenil, e utilizou o período para modificar o projeto, adaptando-o ao formato virtual, com aulas remotas.
Atualmente, o Aprendendo sobre Vírus e Vacinas atende 10 turmas da Escola Estadual de Ensino Fundamental Vicente da Fontoura, da zona sul de Porto Alegre, com os estudantes divididos em três níveis, de acordo com o ano em que estão matriculados. Para colocar o projeto em prática com a instituição, foi realizado um diagnóstico inicial para verificar o conhecimento das crianças sobre vírus e vacinas. De acordo com o professor, muitos estudantes sabem bastante sobre o coronavírus, mas a maioria desconhece outros vírus e formas de prevenção e contaminação:
— Perguntamos as formas de transmissão dos vírus e todos responderam “pelo espirro, passar as mãos nos olhos, na boca, contato”, mas outras formas eles não sabem. E é isso que a gente quer ensinar, o nosso projeto vai além do coronavírus, então trazemos o conteúdo de uma forma bem lúdica para que eles possam entender, fazemos jogos e aulas práticas.
O que é jornalismo de soluções, presente nesta reportagem?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
Os encontros virtuais, de até uma hora, ocorrem semanalmente em dias e horários combinados com a escola. A iniciativa prevê ainda a montagem de um laboratório dentro da instituição, com protótipos e equipamentos que a universidade não utiliza mais. Além disso, há seminários com os professores para a transferência das metodologias adotadas durante as aulas.
Maria Berenice Brandli Pereira, coordenadora pedagógica da Escola Vicente da Fontoura, comenta que a iniciativa está tendo um retorno bastante positivo por parte dos alunos, que ficam empolgados e ansiosos pelas próximas aulas:
— É algo que está acrescentando muito na vida deles, eles adoram as aulas online, e são atividades diferenciadas que o projeto faz, então as crianças se envolvem e participam muito.
Para Rodrigues, o Aprendendo sobre Vírus e Vacinas tem uma grande importância social, pois impacta diretamente na formação de crianças em relação a questões de saúde pública e ajuda a disseminar conhecimentos fundamentais. O professor considera essencial essa aproximação entre universidade e escola e acredita que o projeto possa ser utilizado para ampliar assuntos de outras áreas que são pouco abordadas nas instituições de ensino.
— As universidades têm condições de proporcionar muito mais do que a escola em termos de amplitude dos assuntos. As escolas seriam beneficiadas nesses projetos e os alunos das universidades também, porque aprenderiam a ter esse contato com a sociedade em que eles efetivamente vão trabalhar depois — defende.
A previsão é de que, no final deste ano, o projeto seja transformado em um programa para que possa contemplar mais escolas. Os livros produzidos pela equipe da UFCSPA estão disponíveis para download por meio deste link.