Apesar de se posicionar de forma favorável à retomada das aulas presenciais no Estado, a Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul afirma que este não é o "momento oportuno" para o retorno às escolas. A entidade diz que vinha defendendo a reabertura das instituições de ensino, mas que, diante do avanço do coronavírus registrado em março, acredita que seja preciso esperar.
A entidade divulgou, nesta terça-feira (6), uma nota aos médicos que integram a sociedade, afirmando o posicionamento.
— Claro que a escola é importante, que não pode ficar fechada e que essa pausa é ruim para a criança. Mas o momento não é oportuno para a reabertura, diante dos altos índices de infecções e de internação no Estado. Para que a escola realmente possa abrir, as pessoas precisam se sentir seguras. Isso envolve crianças, pais, professores, todos nós — diz o presidente da entidade, Sérgio Amantéa.
— Mesmo que a curva da taxa de transmissão da doença venha diminuindo nas últimas duas semanas, ainda não temos uma taxa de segurança. Talvez, daqui mais algumas semanas, o cenário seja melhor,e poderemos lutar pelo retorno — complementa.
Amantéa destaca que, além da circulação de crianças e professores, o retorno das aulas implica na mobilidade de todo o setor, como trabalhadores da limpeza e do transporte escolar.
Na nota enviado aos associados, a entidade ressalta que o momento é de "união". "Nenhum país do mundo que adotou política de escolas abertas em meio à pandemia o fez com tal cenário de transmissão. Não devemos entrar em discussões vazias de dados, que não traduzem a realidade imposta. Temos exemplos recentes de que isso não se constitui em uma agenda construtiva. Nosso momento é de união", diz o texto.
"Continuaremos nossa luta por esse direito a nossas crianças, mas no momento, não devemos aumentar o risco imposto à saúde da nossa população", sintetiza a nota.
Veja a íntegra do texto
"Prezado Pediatra,
A abertura das escolas não é um objeto de discussão científica. É o compromisso e o senso de responsabilidade dos adultos, voltado para a proteção do futuro da criança e da Sociedade. A SPRS e a SBP têm assumido posições claras, tanto na forma de documentos escritos, quanto em resposta a demandas da mídia sobre este posicionamento.
Entretanto o cenário sanitário recente, recomenda cautela e bom senso. Ao longo do mês de março, as taxas de novas infecções e de internação no nosso estado saíram do controle e passamos a transitar num cenário definido por alguns como “transmissão descontrolada”.
Embora ninguém possa estabelecer quais são taxas de infecção consideradas seguras para reabertura das escolas, alguns posicionamentos têm adotado que uma transmissão moderada poderia ser um indicador: < 10 casos /100.000 pessoas. No mês de março, suplantamos algumas centenas de vezes este indicador de segurança, sem considerar a insuficiência da capacidade assistencial de leitos de terapia intensiva para população adulta (ocupação acima de 100% e listas de espera superior a 100 pacientes / dia já há algumas semanas).
Nenhum país do mundo, que adotou política de escolas abertas durante o período de pandemia, o fez com tal cenário de transmissão. Não devemos entrar em discussões vazias de dados, que não traduzem a realidade imposta. Temos exemplos recentes que isso não se constitui numa agenda construtiva. Nosso momento é de união.
Portanto, firmamos nosso apoio a todos aqueles que reconhecem na escola uma atividade prioritária à Sociedade. Continuaremos nossa luta por esse direito a nossas crianças, mas no momento, não devemos aumentar o risco imposto à saúde da nossa população.
A SPRS não possui nenhum vínculo ideológico ou político, se posiciona a luz da evidência e daquilo que considera importante para saúde das crianças. Esperamos que nossa comunidade pediátrica estabeleça um juízo claro sob os fatos. Permanecemos abertos para qualquer discussão e com posicionamentos dinâmicos, determinados pelo cenário sanitário vigente.
Agradecemos o apoio recebido de colegas de todo Estado. Continuaremos a trilhar nossos projetos de abertura das escolas num cenário de maior segurança e para isso contamos com o apoio da pediatria e da própria sociedade civil. O processo de abertura das escolas só poderá ser considerado seguro, se todos se sentirem seguros.
O ano tem sido difícil, principalmente para aqueles envolvidos no cenário da assistência. Temos a convicção e muita esperança, que logo estaremos trilhando um caminho de mais saúde e segurança."