O calendário de permissão para a retomada das aulas presenciais na Educação Básica da rede municipal de Porto Alegre e na rede particular foi concluído nesta terça-feira (3). Estudantes de anos finais do Ensino Fundamental, dos dois primeiros anos do Ensino Médio e de Educação Especial estavam autorizados a voltar aos trabalhos em sala de aula, segundo o cronograma proposto pelo governo do Estado.
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Presidente Vargas, no bairro Passo das Pedras, na zona norte da Capital, apenas quatro alunos retornaram durante a manhã: um do terceiro ano, dois do sexto e um do nono.
Um estudante do último ano do Ensino Fundamental, de 14 anos, disse que voltou para conseguir aprender mais:
— É melhor vir do que ficar em casa, aqui tenho ajuda do professor para tirar dúvidas e para ficar mais preparado para o Ensino Médio — afirma ele, enquanto pesquisava sobre racismo no esporte, conteúdo da disciplina adaptada de educação física em sala de aula.
O professor que acompanhava o aluno que estava sozinho em sala de aula era Jovani da Silva, responsável pelos ensinamentos de educação física. Na avaliação dele, até o momento, a situação está controlada:
— Agora, como temos poucos alunos e, basicamente, um estudante por aula, está muito tranquilo. Muito fácil de administrar, estamos sem recreio, por exemplo. Teremos que reavaliar quando outros alunos passarem a vir para a instituição. Se os protocolos darão conta.
Apesar de a escola contar com totem de álcool e uma pia com sabonete líquido — logo no hall de entrada —, tapete sanitizante, sinalização indicando o correto fluxo das pessoas para evitar que elas se choquem, placa indicativa da lotação máxima das salas de aula, dispensador de álcool e papel toalha nos banheiros, o clima é de insegurança na direção do colégio.
Raquel Venzon, orientadora educacional da instituição, explica que a escola não passou por uma vistoria externa:
— A gente fez o que era solicitado nos protocolos, mas não sabemos se está correto porque ninguém apareceu aqui para fiscalizar o que fizemos. Isso causa uma aflição de modo geral, uma insegurança.
A diretora da instituição, Elis Regina Griebler, complementa:
— Acredito que isso deveria ser uma competência, talvez, da vigilância sanitária, porque não temos a expertise na área de saúde e protocolos sanitários.
Para Fábio Franco, presidente do conselho escolar, os funcionários do colégio realizam funções para além de suas respectivas formações.
—A gente pega o plano com os protocolos, faz sua execução e a gente se autofiscaliza. Ninguém apareceu aqui para dizer se o modo como organizamos tudo está realmente seguro para os alunos, professores e funcionários. Tem uma falta de condução muito grande por parte do governo — pontua.
Já na Escola Municipal de Ensino Fundamental Campos do Cristal, no bairro Vila Nova, na Zona Sul, ainda não havia retorno de aulas porque a direção está no aguardo da autodeclaração de sanitariedade por parte da Secretaria Municipal de Educação (Smed).
Segundo a Smed, 14 escolas de Ensino Fundamental e 30 de Educação Infantil retornariam nesta terça-feira.
Adesão maior em escola particular
Algumas escolas particulares de Porto Alegre seguiram o calendário proposto pela prefeitura e também retomaram as aulas presenciais dos ensinos Fundamental e Médio nesta terça.
No Colégio Santa Doroteia, na zona norte da Capital, a estimativa era de que 25% dos estudantes dessas classes tenham retornado. O movimento foi maior pela manhã, e à tarde apenas uma turma voltou a funcionar. Na semana passada, haviam retornado os estudantes do 1º ao 5º ano, com adesão de até 50% em algumas turmas.
A Rede Marista, com cinco escolas na Capital, incluindo Assunção e Rosário, também retornou nesta terça na cidade. Entre as medidas previstas estão o uso obrigatório de máscara por todos que circularão pelos colégios, higienização constante dos espaços, escalonamento dos horários de entrada, saída e de recreio e treinamentos contínuos de professores e funcionários, entre outros. Não foi divulgada a adesão.
Também voltaram às aulas o Colégio Nossa Senhora da Glória, mas igualmente sem divulgação da adesão. O Sindicato do Ensino Privado do Estado (Sinepe-RS) informou que o Instituto Maria Auxiliadora também retornaria, mas a reportagem não conseguiu contato com a direção da escola.
Conforme o Sinepe-RS, ainda não há informações sobre quantas escolas retornaram na Capital e quantas pretendem voltar nesta semana. O órgão pretende realizar nos próximos dias um levantamento entre os associados para verificar os números. O levantamento anterior foi feito na divulgação do calendário da rede pública, e 38 de 104 escolas consultadas no Rio Grande do Sul não tinham planos para retornar.
Na rede estadual, o calendário se conclui na próxima semana, em 12 de novembro, com o retorno dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Segundo levantamento realizado por GZH, que contatou 37 escolas distribuídas nas diversas regiões do mapa do distanciamento controlado que, em tese, poderiam ter aulas presenciais, a imensa maioria das instituições enfrenta problemas de ordem política, de infraestrutura, de escassez de recursos humanos, entre outros fatores que as impedem de reabrir as portas.
Calendário das atividades de ensino
Onde já há aulas presenciais*
- Educação Infantil
- Ensino Superior
- Ensino Médio (em geral, os terceiros anos)
- Ensino Técnico
- Anos finais do Ensino Fundamental na rede estadual
- Anos iniciais e finais do Ensino Fundamental nas redes municipais e na particular
* Em todas as redes de municípios sem bandeira vermelha há pelo menos duas semanas
Onde as aulas presenciais estão começando a retornar
3 de novembro
- Anos finais do Ensino Fundamental, especial, 1° e 2° anos do Ensino Médio e atividades de turno inverso na rede municipal de Porto Alegre
- Anos finais do Ensino Fundamental em diversas escolas da rede particular
- 1° e 2° anos do Ensino Médio em diversas escolas da rede particular
Onde as aulas ainda vão ser retomadas
12 de novembro
- Anos iniciais do Ensino Fundamental na rede estadual