Os estudantes do 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Rincão, no bairro Belém Velho, zona sul da Capital, não sabem se vão conseguir ingressar no Ensino Médio em 2021. Isso porque desde março, quando as aulas presenciais pararam, eles estão sem professor em duas disciplinas vitais: português e matemática. Porém, a situação não é de agora. No ano passado, quando ainda estavam no 8º ano, os estudantes também não tinham profissionais à disposição para lecionar estas disciplinas.
O drama da escola Rincão fica visível em um ofício enviado pela instituição à Secretaria Municipal de Educação (Smed), no começo deste mês. No documento, a entidade enumera as faltas. Dos 32 professores, dois estão afastados para aposentadoria, outros 16 fazem parte do grupo de risco da covid-19 e seis são parte da direção.
A entidade alega que há 11 professores para atender 17 turmas. Pelas contas da escola, faltam 12 profissionais para suprir a escassez nas salas de aula. A comunidade escolar da Rincão luta contra o problema há um bom tempo. Pais se mobilizam em protestos, colocando faixas na escola e na busca de respostas junto à Smed. Entretanto, o esforço tem sido em vão.
O ofício enviado neste mês, por exemplo, recebeu uma resposta quase que padrão da secretaria. No texto, a Smed informou apenas que “as necessidades de recursos humanos da escola já constavam abertas neste setor e que estava empenhando esforços para atender as demandas”. Sem qualquer previsão de uma solução para o caso.
Agravante
Para a monitora Charlene Oliveira Goularte da Silva, 38 anos, mãe de uma estudante da Emef Rincão, é triste ver a filha em casa desde março, e ainda sem professores. Ana Caroline, 14 anos, não sabe o que é ter contato com o português e matemática desde o 8º ano. No início deste ano, até chegou a ter aula de matemática com uma professora com contrato emergencial, que foi interrompido quando as aulas presenciais cessaram.
– Que condições a minha filha tem de chegar no Ensino Médio? Ou se ela quiser tentar uma vaga no Instituto Federal da Restinga, por exemplo, que chance ela vai ter contra outros alunos que tiveram professores nos últimos dois anos? – questiona a mãe.
Profissionais empenhados, mas pessoal escasso
Conforme Charlene, a falta de profissionais nunca foi marca da instituição. Outro filho, mais velho se formou no colégio e ela não recorda que problemas semelhantes tenham ocorrido naquela época. Segundo a mãe, faltas pontuais eram sanadas, mas períodos extensos sem professor, como o atual, nunca haviam ocorrido.
– A escola é excelente. Neste período de pandemia, os professores estão muito empenhados, durante a entrega de materiais impressos, sempre presenteiam os alunos com mimos confeccionados por eles mesmos. Não podemos confundir e achar que a falta de professores é culpa da direção – aponta Charlene.
Falta de diálogo
A diarista Márcia Côrrea Kozeniski, 41 anos, é mãe da estudante Nattany, 14 anos, colega de Ana Caroline. As duas estudam juntas desde o 1° ano. Agora, não sabem se vão conseguir ingressar no Ensino Médio quando deveriam. Márcia integra uma comissão de pais e reclama da falta de diálogo com a Smed. O grupo de pais também é contrário ao retorno das aulas presenciais, pois alega que a escola ainda não tem condições adequadas para atender os alunos.
Contratos emergenciais
Em nota, a Smed informou que, desde maio do ano passado, a diretoria de Recursos Humanos da pasta “encaminhou diversos professores, tanto temporários quanto do quadro, para suprir as faltas da escola”.
A secretaria confirma que “ainda há necessidades em aberto, mas os processos de contratos emergenciais foram suspensos devido à pandemia e estão em tramitação para serem retomados”. Por fim, a Smed alega que foram “encontrados problemas na gestão de recursos humanos pela direção da escola, como a presença de professores em setores de coordenação e secretaria, quando a prioridade deve ser sempre o atendimento em sala de aula”.