GZH ouviu cinco alunos com deficiência que estudam em universidades gaúchas para entender como estão lidando com a rotina de aulas online e o que pensam sobre a perspectiva de retorno. Esses relatos não representam toda a comunidade, mas, em suas individualidades, compartilham experiências mais amplas.
Além deles, a produtora da Rádio Gaúcha Cris Lopes escreveu sobre sua experiência no Ensino Remoto Emergencial da UFRGS.
"Lendo essa frase do título, você, nobre leitor, pode pensar que sou de esquerda, mas isso não tem relação com posições ideológicas. A afirmação diz muito sobre como os estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estão lidando com o Ensino Remoto Emergencial (ERE), utilizado para iniciar o primeiro semestre de 2020 no Ensino Superior.
Sou Cris Lopes, produtora da Rádio Gaúcha e estudante do terceiro semestre de Direito, aluna com deficiência visual, que enfrenta dificuldades no acesso remoto, devido a problemas de acessibilidade. Para quem está pensando que todos encontram dificuldades, devido a inovação na forma de aprender e oferecer atividades de ensino, eu concordo plenamente, mas lembre-se, que a dificuldade é dupla, quando você precisa driblar barreiras de acesso aos conteúdos.
Tudo começa com as instruções para acesso do ERE, imagens, links pouco acessíveis, que retornam à página inicial e não levam o aluno efetivamente aos procedimentos necessários para adaptação. Nem a própria plataforma de reuniões da universidade é acessível para escrever mensagens aos professores.
Falando em plataformas de acesso, cada professor tem liberdade para utilizar aquela que melhor lhe convir tanto para dar aulas, quanto para inserir conteúdos e atividades, mesmo que a própria UFRGS tenha pago por ferramentas da Microsoft. Você então me perguntaria qual o problema disso, e eu respondo: nem o melhor leitor de telas do planeta consegue ser acessível em tantos aplicativos diferentes, que nem o celular com a maior memória do mundo é compatível com leitor mais outros tantos suportes tecnológicos.
Então tivemos o período de correção de matrícula, na qual precisei solicitar acréscimo de disciplinas, pois estando em home office tanto no trabalho quanto na faculdade, posso dar conta de outras demandas ao mesmo tempo. De novo, para abrir o processo necessitei a ajuda de vidente (pessoa que enxerga) para descobrir como abria o processo e depois para entrar no formulário e salvar as informações, que consegui escrever, sem entraves.
O próximo passo é acessar a biblioteca da universidade, na qual há livros a disposição dos alunos para leitura e complementação do ensino. Mas, espera, o tutorial está em imagem, ou seja, inacessível de novo.
O preconceito em relação a capacidade para aprender ou exercer a profissão escolhida é a barreira mais difícil de derrubar, pois envolve pessoas que usam de seu cargo para tornar nossa vida mais difícil. E quando coloco no plural, somo minha experiência a de colegas com outras deficiências, que batalham duramente pelo essencial, aulas em condições mínimas de igualdade com os demais colegas.
Eu seria injusta se não agradecesse publicamente a funcionários da universidade, bons professores e colegas de diferentes semestres, que auxiliam a cada dificuldade durante o ensino emergencial, segurando as mãos uns dos outros. Entretanto, não dá pra ignorar o somatório de problemas e a quantidade de pessoas que fecham os olhos para o imprescindível, ainda mais em uma faculdade de direito: o direito a educação, a isonomia e a inclusão."