A nova proposta de retomada das aulas presenciais em escolas públicas e privadas foi divulgada pelo governador Eduardo Leite na terça-feira (1°). As restrições ao trabalho e ao estudo presenciais em instituições de ensino foram retiradas pelo governo, o que liberou a volta das atividades, de forma escalonada, a partir da próxima terça-feira (8), começando pela Educação Infantil. Contudo, a decisão tomada pelo Piratini divide os pais.
Os contrários ao retorno das atividades presenciais afirmam que o Estado não tem segurança sanitária para uma retomada das atividades presenciais. Já os favoráveis ao retorno dizem que a reabertura dos colégios será boa para os pequenos voltarem a ter uma rotina.
A proposta prevê ainda que os encontros presenciais recomecem em 21 de setembro para o Ensino Médio e Superior. A volta das atividades do Ensino Fundamental foi dividida entre 28 de outubro – para anos finais – e 12 de novembro – para anos iniciais.
Já a data de 13 de outubro marca o fim das restrições na rede estadual, se as condições sanitárias permitirem. As turmas de Ensino Médio serão as primeiras. Já os anos finais do Ensino Fundamental podem retornar em 28 de outubro, junto à rede particular. O mesmo ocorre com os anos iniciais, que poderão retornar em 12 de novembro com a rede particular.
A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) destaca que, em função da excepcionalidade provocada pela pandemia, os pais não são obrigados a enviarem seus filhos para a escola, caso a instituições retomem as atividades presenciais. A pasta reforça que não haverá qualquer tipo de punição para os responsáveis que optarem pela permanência no ensino remoto.
Confira o que algumas famílias têm a dizer sobre a volta às aulas presenciais:
Contrárias
"A pandemia até está em quadro de estabilização, mas os valores são muito altos. Ontem (terça-feira), batemos recorde de ocupação de leitos de UTI covid aqui em Porto Alegre (eram 344 leitos ocupados). A gente não achatou a curva de contágio, pelo contrário, estamos vivendo seu pico. Colocar as crianças em sala de aula dentro deste contexto é muito arriscado, por mais que o sistema híbrido de atividades seja implementado. Isso porque as crianças têm o costume de ficarem próximas, dividirem materiais escolares, interagirem de maneira próxima fisicamente. Além disso, o professor ficaria sobrecarregado porque, além de ensinar, ele teria que ficar responsável pelo cumprimento dos protocolos de segurança por parte dos alunos. E esses educadores, funcionários, têm família, e eles ficariam expostos ao terem que se deslocar até o trabalho e também por entrarem em contato com essas crianças e jovens que também estarão em mobilidade, pegando ônibus, por exemplo, para chegar até a escola."
Cassiana Lipp João, 43 anos, advogada. Mãe do Cássio, 11, e do Andrew, três, que estão na rede privada. Ela também administra o grupo Direito ao Ensino Não Presencial na Pandemia, que conta com mais de 6,7 mil pessoas no Facebook.
"Não sou a favor do retorno porque é humanamente impossível evitar que crianças se toquem ou deixem de trocar materiais escolares, como um apontador ou uma borracha que seu colega peça. Eu sempre disse pra ela dividir, compartilhar, não ser egoísta e ajudar seus colegas. Agora, dizer não toque, não empreste, não se aproxime é algo difícil de ser cumprido pelos pequenos. Talvez, a minha até entenda, mas os outros não temos como garantir. Há diferenças na criação de cada família. Temos grandes chances de colocar todos em risco. A volta é totalmente desnecessária."
Luciana Lemos, 48 anos, estudante. Mãe da Roberta Berlato, oito, estudante da rede pública
"Não faz sentido o governador falar em retomada enquanto vivemos este contexto, é uma decisão descolada da realidade. Estudei em escola pública. Muitas vezes, não tínhamos sabão para lavar as mãos nem papel higiênico. Falta professor nas escolas estaduais, não sei como o Estado pretende garantir um número suficiente de funcionários para fazerem a limpeza de tudo e equipamentos de proteção para os profissionais das escolas. O mesmo vale para as escolas privadas. Elas são empresas, e seguir esses protocolos custa dinheiro. Acredito que o governo precisa ampliar o acesso à internet de qualidade para estudantes da rede pública e pensar em estratégias de alimentação das crianças, já que muitas iam para a escola também para ter uma refeição de qualidade. É desesperador o que vivemos, com a reabertura poderemos ter novos surtos que vão sobrecarregar o sistema de saúde. Lutamos contra um inimigo invisível. O ano escolar a gente pode recuperar, a vida, não."
Lênia Moraes, 51 anos, técnica judiciária. Mãe da Marina Maia, nove anos, aluna da rede privada.
Favoráveis
"Eu, particularmente, acho ótimo. As crianças já estão entediadas em casa, já não têm mais rotina e ficam de casa em casa para os pais trabalharem. Precisamos nos acostumar com o vírus, tomar todas as precauções possíveis e voltar à vida normal, já que a vacina não tem nem data estabelecida ainda. Acredito que cada um deva fazer o que acha melhor para si, risco corremos em todos os lugares. Meus filhos, por exemplo, não estão 100% isolados, ficam cada dia em um lugar."
Daniele Araújo, 34 anos, empresária. Mãe do Benjamin Araújo, quatro, Lorena Araújo, dois, e Teodoro Araújo, dois, estudantes da rede privada.
"Quando as atividades online tiveram início na escola da minha filha foi bem difícil. Ela ficou muito irritadiça. Como não tive grandes descontos na escolinha, acabei tirando ela de lá e a deixo aos cuidados de uma moça que já teve escolinha e, atualmente, cuida de crianças na casa dela. Acredito que as crianças precisam da presença de outra pessoa no aprendizado. Com a reabertura, pretendo rematricular a minha filha na escola, porque eu simplesmente não tenho com quem deixá-la. Não deixei de trabalhar nesse meio tempo porque sou da área de saúde. Além disso, a situação do coronavírus no Estado estabilizou um pouco e muitas coisas já voltaram ao normal."
Márcia Segobia, 38 anos, bioquímica. Mãe da Clara Freitas, quatro anos, que estuda na rede privada.
"Achei a decisão apropriada neste momento. Porto Alegre voltou para bandeira laranja e a tendência é que fique cada vez menor a incidência do vírus, pois já passamos pelo pior. Sou a favor da volta às aulas porque as crianças precisam do seu ambiente. Sim, as crianças estão bem em casa, cuidados, muitos, em uma bolha de álcool gel. Contudo, elas precisam, pela sua saúde mental, voltar ao convívio com outras crianças. Acredito que ninguém é obrigado a levar seu filho se não quiser, mas, sim, deve existir a oportunidade de escolha, pois isso é liberdade. Os professores, infelizmente, têm uma profissão muito exposta, mas também os policiais, médicos, bombeiros, padeiros e atendentes de supermercado. Eu, particularmente, me sinto segura em levar meus filhos na escola. Crianças ficando ansiosas, depressivas, com muito medo, isso deveria ser motivo de preocupação."
Claire Scussel, 42 anos, empresária. Mãe do Francesco Scussel, nove anos, e da Martina Scussel, quatro, alunos da rede privada.