Aos poucos, as escolas particulares do Rio Grande do Sul estão se preparando para quando puderem voltar a receber crianças e adolescentes. A expectativa da retomada ampliou-se depois da apresentação, nesta terça-feira (1º), de um novo cronograma criado pelo governo do Estado. A definição do calendário de volta às aulas presenciais na Educação Básica foi postergada diversas vezes diante da preocupação com a saúde dos estudantes, seus familiares e dos educadores em um período ainda intenso da pandemia.
Nesta terça, o governador Eduardo Leite reuniu-se com um comitê científico do Estado e prefeitos, representados pela Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs). Na semana passada, o Piratini chegou a dar um passo atrás quanto à proposta inicial de retorno das aulas presenciais a partir desta segunda, 31 de agosto. O recuo do Piratini ocorreu após 94,6% dos prefeitos rejeitarem a ideia, conforme pesquisa da Famurs.
Pelo novo cronograma, a ideia é retomar os encontros presenciais em setembro, de forma escalonada, concluindo o processo em novembro. As etapas começariam pela Educação Infantil em 8 de setembro, passando pelo Ensino Médio e Ensino Superior, em 21 de setembro, e o Ensino Fundamental, entre 28 de outubro (anos finais) e 12 de novembro (anos iniciais). A decisão, em qualquer das datas propostas, caberá aos municípios.
Representando as escolas particulares do Estado, o Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS) defende que, se a rede pública não tem condições de abrir as portas, essa opção seja dada às escolas privadas que desejarem e estiverem prontas para retomar as aulas presenciais e acolher seus alunos.
Mas há muito mais em jogo do que a definição e adequação de protocolos para receber os estudantes. Avalia-se, por exemplo, o risco de que o retorno às aulas presenciais represente um aumento ainda mais expressivo no número de casos de coronavírus no Estado. Espécie de "laboratório" da volta às aulas, o Amazonas, pouco mais de três meses após o pico da pandemia e o colapso do sistema de saúde, viu ao menos 10% dos professores da rede pública estadual testarem positivo para covid-19 na segunda semana da reabertura das escolas, no final de agosto.
As escolas da rede privada gaúcha têm promovido adaptações passo a passo: primeiro, com protocolos de segurança e planejamento, para depois buscar a readequação dos espaços e a disponibilização de materiais como dispensadores de álcool gel nos corredores.
Para criar um protocolo de segurança que garanta o retorno presencial às aulas após a liberação das autoridades sanitárias, a Rede La Salle firmou uma parceria com a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. O hospital apoiará os colégios lassalistas do Brasil no planejamento e nas orientações técnicas por meio do Serviço de Controle de Infecção e Infectologia Pediátrica da Santa Casa.
A partir dessa parceria, foi criado um Protocolo de Proteção e Prevenção à Covid-19 da Rede La Salle, e os colaboradores receberão capacitação de como estar preparado para a pandemia na retomada das aulas. O primeiro encontro de orientação foi de forma virtual e destinado às equipes diretivas das unidades lassalistas.
Segundo o diretor de Missão da Rede La Salle, Irmão Jorge Alexandre Bieluczyk, o protocolo de retomada das atividades presenciais que fará parte de toda a rede chancela as medidas de segurança, bem-estar e proteção em operação nas três unidades do Brasil que retomaram as aulas presenciais, nas cidades de Manaus (AM), Rio Verde (MT) e Zé Doca (MA).
Nas escolas em que a adesão ao retorno presencial não foi alta, como em Manaus e Rio Verde, os estudantes estão divididos entre aulas presenciais e remotas simultâneas. Assim, a sala comporta o número de alunos respeitando o distanciamento. Em Zé Doca, como houve alta adesão à retomada, está ocorrendo um revezamento: metade da turma presencial e metade, domiciliar. Elas se revezam por semana.
La Salle Canoas
Entre as medidas adotadas pela Rede La Salle estão o distanciamento de 1,5 metro entre as classes. Com isso, foi reduzido o número de mesas e cadeiras nas salas de aulas, houve demarcações de distanciamento nas entradas e nas filas de cantinas, sinalização de taxa de ocupação por ambiente, disponibilização de álcool gel nos ambientes educativos e reforço de dispensers com sabão nos banheiros, distribuição de cartazes que elucidam as medidas de segurança, aferição de temperatura na entrada da escola, higienização em cada turno e restrições de acesso de fornecedores e demais pessoas que não fazem parte do ambiente educativo.
No Brasil, ao todo, a rede tem 47 mil alunos. Destes, 13 mil estão no Rio Grande do Sul. Uma das escolas que está praticamente pronta, à espera dos estudantes, é o Colégio La Salle Canoas, que tem 2,1 mil alunos.
— O investimento da retomada das atividades presenciais não é baixo e tem uma variação significativa para cada local. Nossas estruturas são variadas, e isso reflete no investimento a ser realizado. Em números, o investimento vai de R$ 50 mil, nas unidades menores, a R$ 100 mil, nas maiores — aponta Bieluczyk.
O diretor da rede destaca ainda que, mesmo após a autorização dos órgãos competentes para retomada das atividades presenciais, as escolas permanecerão com atividades domiciliares na modalidade a distância, pelo menos num primeiro momento. Isso porque deverá ocorrer o retorno gradual por nível de ensino e porque as instituições respeitarão a posição de cada família que não se sentir confortável com a ida do estudante à escola.
Colégio Santa Inês
No Colégio Santa Inês, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, os protocolos para o retorno às atividades presenciais levarão em consideração questões sanitárias, pedagógicas e de mobilidade. Para limitar a aglomeração e a circulação nos ambientes internos dos quase mil estudantes da Classe Bebê ao Ensino Médio, a instituição fez um estudo coordenado por arquitetos. Houve reorganização dos fluxos e da capacidade de ocupação dos espaços para garantir o distanciamento necessário.
Já os protocolos de saúde estão sendo supervisionados por profissionais do hospital da Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, à qual pertence o Colégio Santa Inês, além da consultoria de outros profissionais e do compartilhamento de informações com outras escolas.
Entre as ações implementadas pelo Santa Inês estão o processo de sanitização de todos os ambientes no final de cada dia de aula, a divisão dos acessos por níveis de ensino e de acordo com a proximidade das salas de aula de cada segmento, uso de máscaras para alunos acima de três anos de idade, aferição de temperatura na entrada, disponibilização de totens de álcool gel e tapetes sanitizantes, demarcação de espaços, criação de cartilha para orientações e, para evitar aglomerações, os pais não entrarão na escola — somente os de alunos da Educação Infantil, se as crianças estiverem em adaptação.
Segundo a diretora do Santa Inês, irmã Celassi Dalpiaz, o pedagógico da escola manterá o ensino híbrido, com um investimento especial nas questões socioemocionais e de inserção neste contexto.
— Mesmo juntos, continuaremos em distanciamento, e, neste momento, a escola não será mais a mesma, em função dos protocolos sanitários e da reinvenção que será necessária para que todos continuem aprendendo, na escola ou em casa. A tecnologia será nossa grande aliada. Quando voltarmos, talvez o maior desafio seja o acolhimento dos estudantes, dos colaboradores e das famílias, bem como a adaptação a esse novo momento, dando uma atenção especial aos aspectos socioemocionais. Precisaremos confiar uns nos outros para, com segurança, fazermos um retorno com todos os cuidados que serão necessários — diz irmã Celassi.