Os dispensadores de álcool em gel estão instalados, as classes nunca estiveram tão afastadas, a equipe de limpeza foi treinada e há máscaras para dar e vender. Mas, com o agravamento do coronavírus no Estado, a estrutura física adaptada por escolas particulares para receber alunos de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio já não tem mais data para ser estreada.
Prevista para julho, a retomada das atividades presenciais no Rio Grande do Sul, que se daria de forma escalonada, já não tem mais data para ocorrer. Mas, mesmo quando houver nova projeção, as instituições devem trabalhar com um novo normal de incertezas, e ainda mais desafios.
— Desde março a escola começou a se organizar para o retorno. Mas fizemos uma pesquisa com os pais e descobrimos que só 34,5% têm intenção de trazerem os filhos em um primeiro momento — conta a diretora administrativa do Colégio Santa Doroteia, Janaina Kunzler.
Com as salas de aula prontas para o distanciamento social, a escola estuda, agora, formas de conciliar as aulas presenciais com as atividades remotas, que, ao que tudo indica, devem continuar para a maioria dos estudantes. Isso porque, atualmente, os professores dão aulas ao vivo diariamente, e ficam disponíveis para os alunos durante o restante do tempo. Manter o padrão respeitando a carga horária dos professores exigiria estrutura técnica para transmitir a sala de aula em tempo real para quem estiver em casa.
No Colégio Marista Rosário, uma equipe trabalha na concepção de um plano de retorno híbrido, com metade dos alunos a distância e outra na escola. A instituição também trabalha em uma cartilha que deve ser distribuída à comunidade escolar na próxima semana, orientando todos os protocolos de distanciamento, como as entradas escalonadas e questões de ordem prática, como a retirada de livros — que agora passarão por quarentena quando retornarem à biblioteca. O contingente de adesão ao retorno, no entanto, ainda é desconhecido.
— Está cada vez mais difícil pensar no retorno presencial porque agora não se vê mais um horizonte. Temos a expressão de muita famílias que não pretendem enviar os filhos pra escola quando ocorrer, mas outros dizem que vão mandar quando souber o que o colégio estruturando — diz o vice-diretor administrativo, Mauricio Erthal.
Apesar do ambiente de indefinições, Erthal destaca que o período tem proporcionado experiências positivas, especialmente na relação com as famílias dos alunos. Ele destaca que as reuniões com as famílias e entre a comunidade escolar tornaram-se mais objetivas e transparentes. Além disso, a necessidade de enviar com antecedência os planos de aula aos pais das crianças menores aprimorou o processo de planejamento — agora o programa da semana seguinte chega às mãos dos responsáveis toda sexta-feira. Os atrasos praticamente acabaram.
Mais desafiadoras para escolas e famílias, a situação das crianças da Educação Infantil, menos autônomas, também promete ser um desafio no retorno. Enquanto algumas escolas montam equipes pedagógicas para trabalhar de forma lúdica as regras de distanciamento com os pequenos, outras têm feito alterações físicas nas salas de aulas — trocando as mesas e cadeiras por almofadas, por exemplo —, para minimizar os riscos de contágio.
No Colégio Farroupilha, que restringiu as atividades com os pequenos a grupo de no máximo três crianças nas aulas remotas, houve palestras virtuais com diversos profissionais sobre cuidados físicos e psicológicos com as crianças em casa — segundo a escola, com adesão maior do que as atividades do mesmo tipo realizadas na instituição. Além disso, todas as atividades feitas para essas séries ficaram gravadas, para que os pais pudessem acompanhar no horário que fosse melhor para a família.
— As crianças precisam de um adulto, e muitos pais estão trabalhando em casa, então deixamos para acessarem a hora que quiserem. Mas, no futuro, não vejo a educação infantil em modelo remoto. Ela é presencial, precisa da interação das crianças na escola, da experiência, da prática — explica Maricia Ferri, diretora Pedagógica do Farroupilha.
Segundo a gestora, a estrutura física da escola, que contou com consultoria do Hospital Moinhos de Vento, já foi adaptada para o retorno presencial. Já o modelo das aulas deverá ser definido a partir das diretrizes dos governos estadual e municipal para a retomada. A escola fará recesso entre 18 de julho e 2 de agosto.
Sinepe defende retomada pela educação infantil
Na avaliação do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS), os alunos da educação infantil tem sido, de fato, os mais afetados pelas mudanças impostas pelo distanciamento social. Para o presidente da entidade, Bruno Eizerik, o plano de retomada presencial deve priorizar os pequenos — a interpretação é diferente do primeiro protocolo divulgado pelo governo do Estado, que previa o retorno pelo Ensino Médio.
— Obviamente, uma criança não pode ficar tantas horas na frente de um computador. As escolas não estão conseguindo entregar tudo que entregariam numa aula presencial — diz.
Apesar disso, considera que a maior parte das instituições conseguiu se adaptar ao modelo de ensino remoto imposto pela pandemia. Defende, ainda, que as escolas estão prontas para receberem os alunos presencialmente em segurança:
— A gente acredita que, depois que as primeiras crianças voltarem e nada acontecer, os outros pais vão mandar também. Os pais que voltarem trabalhar vão ter que deixar os filhos na escola. É um ambiente protegido, onde foram tomadas todas as medidas.