Esclarecimento: o síndico profissional Jefferson Settin, retratado nesta reportagem, é o dono da empresa contratada para administrar o condomínio onde foram feitas as imagens que ilustram a matéria, mas não é o síndico responsável diretamente por aqueles prédios.
Missão da qual muita gente foge para evitar incomodação, o trabalho de síndico se profissionaliza cada vez mais. O cargo de gestor do condomínio — e "resolvedor de problemas" de todo tipo e grandeza, da implicância entre vizinhos a vazamentos capazes de inundar andares inteiros — tornou-se não apenas uma alternativa de emprego em um cenário econômico ainda preocupante, mas inclusive uma possível fonte de ótima remuneração. Um síndico profissional que administra vários condomínios é capaz de conquistar uma renda mensal no patamar dos dois dígitos.
Para atender a uma demanda crescente por capacitação, a Faculdade Mário Quintana (Famaqui), em parceria com a Associação dos Síndicos do Rio Grande do Sul (AssosíndicosRS), promove, a partir de agosto, uma pós-graduação em Gestão Condominial. Com carga horária de 360 horas/aula, o curso pode ser frequentado também por alunos que não têm Ensino Superior completo (neste caso, o diploma emitido será o de um curso de extensão). Serão três módulos, com conteúdos abrangendo noções de direito tributário, trabalhista, civil e processual, engenharia, segurança, sustentabilidade, administração, liderança e relacionamento, entre outros temas.
Descrita no Código Civil, a função de síndico não é regulamentada como profissão. Fundada em 2016, a AssosíndicosRS é a primeira entidade a reunir membros dessa categoria no Estado. Mauren Gonçalves, presidente, explica que a missão da associação é treinar síndicos, aspirantes ao cargo e demais interessados, como moradores que querem entender melhor a administração de seu prédio, com cursos, palestras e workshops. A AssosíndicosRS não tem números que ilustrem o aumento de síndicos profissionais nos últimos anos, mas Mauren afirma que o interesse é claramente crescente:
— Há pessoas que chegam a estar largando a advocacia para serem síndicas profissionais.
Os cinco Cs que demandam mais energia
Quando o síndico é morador do prédio, o mais comum é que obtenha, como pagamento, um pró-labore ou a isenção da taxa de condomínio. Tem muitos que ainda atuam "por amor", lembra Mauren, porque querem que as coisas funcionem no lugar onde vivem. Quando se decide pela contratação de um síndico profissional, o ideal é que seja alguém com empresa constituída. Como no caso de síndico morador, o síndico profissional também manterá contato direto com a administradora do condomínio. A carga horária será acertada no momento da contratação do serviço. Há síndicos profissionais que atendem apenas em horário comercial, enquanto outros se colocam à disposição 24 horas por dia, inclusive aos finais de semana.
Para Roger Luciano Silva, diretor de condomínios da Auxiliadora Predial, a procura por síndicos profissionais tem aumentado devido a dois fatores principais. Um deles é o elevado número de novos condomínios, opção considerada mais segura como moradia e com possibilidade de variada oferta de serviços e infraestrutura, mesclando torres ou áreas residenciais e comerciais. A maior complexidade da atividade é outra razão: atualmente, um síndico precisa entender de questões fiscais, trabalhistas e contábeis, além de conhecer o Código Civil.
— Antes, era uma função mais tranquila, só que, cada vez mais, a população é mais exigente, e as regras e as necessidades são maiores — comenta Silva.
Com mais demandas, a função também afasta quem prioriza suas poucas horas de lazer.
— Tem envolvimento com os vizinhos, o síndico pode se indispor. Em um final de semana, ele às vezes trabalha bastante. Queria estar com a família e não pode — enumera Silva, listando também o que os síndicos costumam chamar de "cinco Cs" que absorvem mais tempo das administrações: carro, cachorro, cano, criança e condômino.
Ganhos podem ser bem relevantes
Sem regulamentação, a profissão não tem uma tabela que sirva de base para a estipulação da remuneração. Há síndicos profissionais que começam cobrando um salário mínimo. Costuma-se calcular o preço considerando-se a região e o tamanho do imóvel, o número de apartamentos, de funcionários e de visitas a serem feitas. Quando os condomínios sob sua responsabilidade passam de 10, o profissional geralmente contrata um auxiliar para as questões administrativas, relata Silva.
— Tem síndicos aqui em Porto Alegre ganhando R$ 30 mil administrando 22 ou 23 condomínios pequenos — conta o diretor de condomínios da Auxiliadora Predial.
Depois de quase duas décadas atuando no atendimento a clientes de grandes companhias, Jefferson Settin, 39 anos, aproveitou um período de transição para se reinventar. Era síndico do prédio onde morava quando decidiu fazer um curso de formação de síndicos na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) para conhecer melhor o mercado — e acabou encontrando também aquele que se tornaria seu sócio em uma empresa de síndicos profissionais. Settin agora é síndico de oito condomínios — o que corresponde a cerca de 400 apartamentos —, para os quais está disponível a qualquer hora do dia ou da noite. Boa parte da comunicação é feita via WhatsApp, em grupos formados com os membros dos conselhos, mas todos os moradores têm seu e telefone. A experiência prévia no trato com pessoas se mostrou fundamental para mediar discussões e conflitos.
— Tratamos os condomínios como se fossem empresas. Não têm fins lucrativos, mas são como empresas. O principal desafio é mostrar resultados para os moradores. Não dá para lembrar do síndico só quando a lâmpada está queimada ou faltou água. Tenho que fazer um trabalho preventivo — ensina Settin.
— No início, meu celular tocava mais: falta de água, vazamento, infiltração durante uma chuva muito forte, portão que estragou, barulho... Hoje, toca menos porque tem mais prevenção. Às vezes, pegamos condomínios muito sucateados. Se o problema da falta d'água é uma bomba, consertamos a bomba e para de dar problema — completa o síndico, que conta com uma rede de fornecedores e prestadores de serviços para auxiliá-lo no dia a dia e também nas emergências.
Ao se profissionalizar, Settin deixou o comando do próprio condomínio, depois de quatro mandatos.
— Descobri que ser síndico do meu prédio não é um bom negócio. Em casa, a gente tem que descansar — diverte-se o empresário que, apesar de eventuais imprevistos, gosta da flexibilidade de horários que sua agenda permite.
— Ser síndico é trazer harmonia para onde as pessoas vivem. Me sinto fazendo a diferença. Me apaixonei pela profissão.
Formação
Mais informações sobre a pós-graduação em Gestão Condominial da Famaqui (Rua Baroneza do Gravataí, 123, Cidade Baixa) podem ser obtidas pelo telefone (51) 3225-3641, pelo WhatsApp (51) 98055-2549, no site famaqui.edu.br ou pelo e-mail comercial@famaqui.com.br.