Se o azar de alguns é a sorte de outros, como reza o dito popular, pode-se dizer que o infortúnio de Flávio Steffens de Castro veio para o bem de centenas de empreendedores que já ouviram suas palestras e retomaram o prumo do negócio. Em 2011, ele deixou o emprego no setor de Tecnologia da Informação de uma grande empresa para criar sua própria startup. Desenvolveria uma ferramenta para gerar modelos de sites para pequenas construtoras anunciarem seus imóveis.
— Era o momento do “boom” no mercado imobiliário, havia prédios novos para todo lado. Parecia óbvio que o serviço atenderia uma necessidade das construtoras — relembra Castro, então com 32 anos.
Improvisou na garagem dos pais um escritório com dois funcionários, e ao longo de um ano trabalharam na ferramenta até chegar a um design que “saltasse aos olhos”, como ele diz. Quando começou a visitar empresas para oferecer o produto, descobriu que o negócio só existia na sua cabeça.
— As construtoras não tinham interesse, ou algumas queriam funções que nosso programa não tinha. Não conseguimos vender para absolutamente ninguém — conta, com ar de tragicomédia.
Flávio insistiu: por mais seis meses tentou melhorar o produto, incorporar as sugestões dos empresários, mas as ideias e o orçamento de R$ 50 mil estavam por um fio.
— Chegou um momento em que eu estava vendendo meus DVDs, livros e até comprando coisas da China para renegociar e sustentar a empresa. Quando vi que não ia dar certo, tive que demitir os dois funcionários e encerrar o projeto — explica.
Ainda que à beira da depressão, envergonhado do fracasso perante a família, a namorada e os amigos, ele encontrou forças para analisar seus erros e tentar algo novo. No ano seguinte, lançou em fase experimental o Bicharia, um site para que ONGs lançassem vaquinhas online para causas animais. Dessa vez, o desenvolvimento ocorreu em apenas um mês e com um investimento modesto. Nas primeiras semanas, recebeu a primeiro pedido de vaquinha, e muitos outros vieram na sequência. Apenas quando viu que a ideia tinha boa aceitação decidiu investir alto.
— Fiz tudo diferente: validei a ideia junto ao mercado, desenvolvi a plataforma rapidamente e só depois fiz o investimento para melhorar o serviço — explica.
Poucos meses depois, o projeto foi comprado pela Vakinha, um dos principais sites de crowdfunding do Brasil e do qual Flávio se tornou sócio. Hoje, ele — que também participa da organização da FailCon – equilibra sua carreira de executivo com palestras e mentorias em eventos para empreendedores, estudantes e até empresas para desmistificar o fracasso e mostrar como a inovação só ocorre com base em sucessivas falhas.