Em busca de uma forma de incentivar os alunos a ler e escrever, um grupo de professoras criou um projeto de troca de cartas entre alunos de todas as regiões do país. Por meio de correspondências, as crianças do 4º ano, além de aprenderem português, geografia e história em uma única lição, conhecem diferentes realidades de alunos com a mesma faixa etária que a sua.
Batizada de Viajando pelo Brasil através de Cartas, a ideia surgiu num grupo de troca de experiências sobre turmas do 4ª ano formado pelas professoras Paula Fernanda Corrêa do Prado, de Mogi das Cruzes (SP), Charleny Aparecida de Moura Fernandes, de Uberlândia (MG), Fabiana Pinto Gomes Lima, de Nova Iguaçu (RJ), Susana Alves da Silva, de Brasília (DF), e Janaína Flores, de São Sebastião do Caí.
Por meio das redes sociais, as professoras contataram escolas de 20 cidades de dez Estados e todas regiões do país. Ao todo, são 28 escolas envolvidas. Em São Sebastião do Caí, duas escolas fazem parte do projeto: a Escola Estadual de Ensino Fundamental Josefina Jacques Noronha e a Escola Municipal São José.
Na Escola São José os alunos fazem festa toda vez que recebem uma nova carta. O projeto começou em março, quando as primeiras correspondências foram trocadas entre alunos, professores e direção da escola. Em seguida, a turma escreveu uma carta coletiva apresentando os alunos, a escola e a cidade e a enviou para outras escolas. Criou o próprio selo postal – que na Escola São José é uma foto dos alunos – e aprendeu como se enviam cartas pelos Correios.
Os 22 alunos da turma do 4º ano da São José já receberam 14 cartas. Entre os remetentes estão escolas de Caratinga (MG), Serra do Ramalho (BA), Leme (SP) e Curuçá (PA). Agora, estão elaborando as cartas que irão trocar entre os alunos das escolas participantes.
Vinda do carteiro é motivo de festa
Todos leem em voz alta as correspondências recebidas e, assim, descobrem curiosidades de outras cidades.
– Promovemos a vinda de um carteiro até a escola e foi uma festa para eles. As turmas respiram cartas, escrevem cartas para todos na escola. Houve melhora na escrita e principalmente na leitura nesse tempo que iniciamos o projeto. Cada cartinha é surpresa e uma emoção – diz Janaína.
Para os alunos, cada correspondência nova é um universo diferente a descobrir.
– Uma escola de São Paulo tem até aula de judô, achei muito legal – confessa Renan Henauer, 10 anos, se referindo a uma instituição de Mogi das Cruzes.
– Foi bem triste ao ler sobre uma escola que não tem biblioteca nem posto de saúde por perto – admite Marlon Christian Junior Santos dos Passos, 10 anos, citando a realidade de uma escola de Canhoba, no Sergipe.
Na carta de uma escola de Cataringa (MG), os alunos descobriram que esta é a cidade do escritor Ziraldo Alves Pinto, criador do personagem infantil Menino Maluquinho.
– É realmente uma viagem que eles fazem sem sair da sala de aula – afirma Janaína.
Resgatando a magia
Ao ler em voz alta uma carta escrita por uma turma de uma escola de Curuçá, no Pará, a aluna Mônica Nascimento, 10 anos, se dá conta que, além da distância geográfica – a cidade está localizada na outra ponta do mapa brasileiro – existem outras curiosidades, como as frutas típicas do Norte brasileiro bem pouco conhecidas pelos gaúchos: o cupuaçu e o bacuri.
– Nossa intenção era ensinar sobre o Brasil e resgatar a magia de ler e escrever, que está um pouco perdida com o uso da tecnologia – afirma a professora Paula, de Mogi das Cruzes (SP).
Ela conta que a maior surpresa da sua turma ao ler a carta dos alunos de São Sebastião do Caí foi o termo "guri e gurias".
– As minhas crianças não faziam ideia do que significava esse termo. Eles conseguem sair do seu mundinho e perceber outras coisas. É uma gritaria toda vez que chega uma carta, todo mundo quer ler. E eles não veem a hora de escrever a próxima carta. Era bem isso que a gente queria – conta Paula.
Diferentes realidades
A professora Charleny, de Uberlância, afirma que, ao mesmo tempo em que os alunos praticam a escrita de textos, se dão conta de diferentes realidades e ganham em cultura.
–Eles estão achando o máximo e ficam muito ansiosos pela próxima carta –diz ela.
Agora, os alunos envolvidos no projeto estão aprendendo a escrever sobre a própria história, uma espécie de autobiografia.
–No começo, eles tinham dificuldade, mas cada vez mais estão pegando jeito e, principalmente, estão empolgados em falar com um colega de outra região – conta Janaína.
O pequeno Renan já sabe o que quer escrever:
– Vou falar da minha família, das minhas brincadeiras favoritas e que pretendo ser dentista quando crescer. Vou escrever mais de 20 linhas – planeja.