No dia em que saiu o listão de aprovados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 19 de janeiro, Adriane Fernandes Zanini, o namorado, Gabriel Henrique Montanet, ambos com 19 anos, e Hechiley Maraya da Silva, 17, optaram por não vê-lo para evitar decepção. Doce engano. Alunos do primeiro curso pré-vestibular gratuito de Alvorada, onde professores voluntários dão aulas na periferia, os três foram aprovados na universidade mais disputada pelos gaúchos, embora, para eles, fosse pouco provável chegar tão longe.
— Quando minha chefe viu a lista e me mostrou, achei até que podia ser a lista dos inscritos — brinca Adriane, que trabalha como atendente de loja em um shopping e passou no curso de Filosofia, enquanto Gabriel foi aprovado em Engenharia da Computação, e Hechiley, em Música.
Os três alunos aprovados são os primeiros de suas famílias a entrarem na universidade e garantem que não conhecem ninguém que já tenha conseguido entrar na UFRGS. Eles mesmos ainda não acreditam direito na conquista.
— Levou um dia para cair a minha ficha. Mas já comecei a incentivar meus primos e minhas colegas de trabalho, dizendo que é possível, sim, entrar na universidade — afirma Adriana.
Os dois fizeram o curso pré-vestibular juntos. Trabalhando durante o dia e estudando à noite, usavam também os finais de semana para passar a matéria. Um ajudava o outro com as disciplinas que tinham mais dificuldade.
— Nosso período de descanso era usado para estudar — lembra Gabriel, que, na época, era atendente em uma lanchonete.
Agora, ambos vão se dedicar exclusivamente ao curso superior.
Hechiley só entrou no curso em setembro, quando iniciou a greve dos professores e diz que, até o fim do curso, em novembro, conseguiu aprender tudo que não tinha fixado em três anos de Ensino Médio:
— É o método de ensino dos professores que é diferente, mais fácil. Até química a gente consegue entender. As aulas de redação também eram muito boas, debatíamos muito os temas e formávamos opinião.
Hechiley participa da Orquestra Jovem de Porto Alegre, da Banda de Nova Santa Rita e da escola em que fez o ensino médio em Alvorada. Tornar a música uma profissão virou um objetivo:
— Decidi que era isso que eu queria para mim e fui atrás. Me sinto ansiosa e com medo, mas estou feliz.
Por amor à causa
O grupo de professores do Pré-Vestibular Minervino enfrentou todo tipo de adversidade – salários parcelados, falta de dinheiro para transporte e até mesmo cansaço pela jornada exaustiva – para dar aula no cursinho, de segunda à sexta-feira à noite, com alguns aulões aos sábados, em uma sala cedida pelo Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Campus Alvorada, no bairro Campos Verdes.
— Eles foram incansáveis e a gente também se esforçava por ver o empenho deles — conta Adriane.
A professora de química Graziela Traçante acredita que o curso conseguiu ganhar visibilidade dentro da IFRS e junto à comunidade. Mas o melhor, segundo ela, é perceber o crescimento pessoal dos alunos:
— Muitos aprenderam a se impor, colocar sua opinião, os professores de redação conseguiram trabalhar muito bem isso.
Inspiração
A turma começou com 50 alunos e terminou o ano com 30. Nas salas de aula, nunca havia menos estudantes do que isso. O professor de geografia Christian Castro afirma que, no 3º ano do Ensino Médio, muitos alunos sequer consideram a possibilidade de tentar ingressar em uma universidade. A maioria até desconhece como pode ter essa chance:
— A gente tenta ser uma inspiração para eles. Acreditamos na educação como instrumento para transformar a sociedade. E aqui, com outros professores, vemos que conseguimos fazer isso e não estamos sozinhos.
— Fizemos tudo por amor. O processo todo é gratificante, não é só a aprovação, vimos o crescimento deles em vários aspectos, até na maneira de conversar — aponta a professora de Literatura, Janice Gomes.
Procura-se voluntários
Neste ano, os professores pretendem abrir duas turmas, mas isso só será possível com mais docentes. Faltam professores para todas as disciplinas. Interessados em participar podem procurar a direção do curso e devem ter disponibilidade de dar aulas uma vez por semana no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Campus Alvorada, no bairro Campos Verdes.
As primeiras reuniões para organizar o ano serão feitas em fevereiro, onde serão definidas datas de inscrição. As aulas devem começar em abril.
Interessado?
* Entre em contato pelo e-mail: minervino.cursopopular@gmail.com
* Professor Leandro, pelo telefone: (51) 99124-7899.
* Professora Janice, pelo WhatsApp: (51) 99879-6425.
* Preferencialmente, fazer contato até 12 de fevereiro.