Quem circula pelo campus da Universidade de Passo Fundo (UPF), onde ocorrem as principais atividades da Jornada Nacional de Literatura, não tem dúvidas de que alunos e professores de pelo menos 80 escolas da região norte do Rio Grande do Sul estão aproveitando a oportunidade de conhecer escritores e de mergulhar no universo da leitura. No entanto, o evento também se tornou espaço para protesto de educadores da rede estadual contra o parcelamento de salários. A categoria está em greve desde o dia 5 de setembro.
Na noite de terça-feira (3), os mediadores da primeira conferência, os escritores Augusto Massi, Alice Ruiz e Felipe Pena, leram uma carta enviada por professores ligados ao Cpers-Sindicato em protesto não só pelo pagamento parcelado, mas pelo que chamam de descaso com a educação pública. Na noite anterior, uma faixa com os dizeres "Sartori, nossa ausência nesse evento é culpa tua" havia sido estendida em frente ao palco principal, na solenidade de abertura.
Um dos professores que ergueu a faixa é Ruben Luft, diretor da Escola Estadual Adelino Pereira Simões, de Passo Fundo. Ele diz que os educadores decidiram fazer um ato pacífico para dar o recado sobre a situação da categoria, mas sem prejudicar o evento.
— A nossa manifestação repercutiu de forma positiva. Teve apoio dos escritores. Queremos mostrar que falta dinheiro para participar de eventos culturais, que não estamos recebendo mais o incentivo de promoção da carreira por se envolver nessas atividades — afirma o diretor que, embora em greve, está participando das atividades da Jornada.
A coordenadora da Jornada de Literatura, professora Fabiane Burlamaque, defende a mobilização dos educadores. Segundo ela, é preciso ampliar o debate sobre a importância do professor, que precisa ser valorizado pelos governos e pela comunidade.
— Apesar de todo o contexto da educação, os professores estão aqui, participando e também se mobilizando. Esse evento que temos hoje só acontece porque tem o professor que está lá na ponta, na escola, fazendo acontecer. Isso precisa ser reconhecido.
Nesta quarta-feira (4) pelo menos 4 mil crianças participaram das atividades da Jornadinha de Literatura. Eles se revezaram em quatro tendas para conhecer os escritores das obras que leram ao longo do ano. Também acompanharam shows musicais e de dança.
A professora Elisa Daros, de Mato Castelhano, levou a turma do primeiro ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Jorge Manfore para o evento. Ela diz que não está em greve, mas que apoia a manifestação dos colegas em busca de melhores condições de trabalho e de pagamento em dia.
— Estou aqui pelas crianças, mas é triste o que estamos passando (sobre o parcelamento).
De acordo com Fabiane Burlamaque, mesmo com orçamento mais enxuto, foi possível manter na edição deste ano a mobilização de quase 20 mil estudantes. Ela diz que a greve não impediu a participação dos professores estaduais.
— Muitos vieram, mesmo em greve. E trouxeram alunos.
A Jornada Nacional de Literatura ocorre até sexta-feira (6) em Passo Fundo, com programação para o público infantil da Jornadinha durante o dia e painéis sobre Literatura à noite.