Um dos maiores sindicatos em número de docentes afiliados da América Latina e um dos mais emblemáticos do Rio Grande do Sul vai às urnas nesta terça (27) e na quarta-feira (28) para definir quem estará à frente das reivindicações da categoria pelos próximos três anos. Para assumir a diretoria central, quatro chapas disputam o apoio de 83,2 mil mil professores. Apesar do número grandioso, a presidente da comissão eleitoral, Nilza Schebella, acredita que o pleito de 2017 conte com a presença de 50% dos associados. Neste ano, a novidade é um projeto-piloto de urnas eletrônicas, que serão colocadas à disposição nas sedes de alguns núcleos para a votação.
As chapas apostam em um discurso combativo, de não poupar o governador José Ivo Sartori das mobilizações contra ações do governo como o não cumprimento da lei do piso salarial, o parcelamento de salários e o fechamento de turmas, entre outras. Os grupos de oposição à presidência atual de Helenir Aguiar Schürer acreditam que a forma como a atual gestão articulou as reivindicações não ficou à altura do tratamento dado pelo Piratini aos professores. Helenir tenta se reeleger encabeçando a Chapa 2 – Cpers Unido e Forte, e divide com o governador o alvo das críticas de seu oponentes.
– A atual gestão trata o governo de forma branda, não dá a resposta à altura dos ataques que ele faz à categoria – disse Rejane Oliveira, ex-presidente do Cpers entre 2009 e 2014 e candidata da Chapa 1– A Categoria em Primeiro Lugar. Unida para Lutar – Oposição.
Leia mais:
Rosane de Oliveira: oposição se une para disputar eleição no Cpers
Evento discute o preconceito e leva drag queen e drag king para a escola
Na mesma linha de não dar folga ao governo, a professora de língua portuguesa Tânia Mara Magalhães Freitas, do 24º núcleo de Pelotas, decidiu disputar novamente a diretoria central (ela concorreu em 2014) pela Chapa 5 – Lutar Sempre, ampliando os debates entre as diferentes forças políticas que hoje se destacam no sindicato. O caráter agregador, segundo ela, é o diferencial de seu grupo na eleição.
– Para fazermos uma boa luta, temos de ter um bom trânsito entre as correntes internas e respeitar as diferenças – disse.
O mais jovem candidato, Lucas Berton, 33 anos, foca seu discurso na valorização das bases e na desburocratização do sindicato. Ele também promete oposição ferrenha ao governo Sartori, inclusive no campo ideológico.
– O Cpers perdeu a confiança, em parte, por conta de métodos burocráticos que vão contra as reais reivindicações da categoria. Temos de pensar nossas propostas no chão da escola – diz.
A atual presidente, Helenir Schürer, 63 anos, reconhece que há divisões da categoria, mas entende como um desafio para um segundo mandato a busca por maior sintonia entre os núcleos e as correntes políticas dentro do Cpers. Quanto às criticas de que mantém uma postura "branda" em relação ao chamado ataque do governo à categoria, ela rebate:
– Sou uma educadora e balizo minhas ações assim. Não sairei quebrando cadeira por aí. Não tomarei nenhuma atitude que eu não concebesse numa sala de aula.
Como seus opositores, enxerga no governo falta de habilidade para o diálogo e pouco compromisso com a educação. Quanto ao atual secretário da pasta, Ronald Krummenauer, os discursos de todos os candidatos convergem: é um representante do modo de agir do governo.
Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) afirmou que não se manifestaria sobre as eleições do Cpers porque acredita que o tópico trata-se de uma questão interna do sindicato.
QUEM CONCORRE
Chapa 1 – A Categoria em Primeiro Lugar. Unida para Lutar - Oposição
Candidata: Rejane Silva de Oliveira
O grupo, ligado a Conlutas, aposta na experiência da professora Rejane, 55 anos, que esteve à frente do sindicato por dois mandatos, de 2009 a 2014, para recolocar a luta pelo piso salarial como prioridade na pauta da diretoria central, algo que, segundo os integrantes da chapa, foi esquecido pela atual gestão. O caráter de negociação com o governo promete ser mais combativo, visando à reafirmação do Cpers como um sindicato autônomo quanto a governos e partidos. A ideia também é valorizar as negociações salariais, mas mantendo a mobilização da categoria. A pauta da chapa também inclui luta por condições melhores de trabalho para professores e funcionários das escolas e melhorias no aprendizado dos alunos. Outra preocupação é retomar a credibilidade do Cpers frente a sociedade. Rejane aposentou-se neste ano e, antes disso, sempre atuou na Escola Custódio de Mello, no bairro Serraria, em Porto Alegre. Está desde 1982 no magistério e é formada em Pedagogia, com especialização em alfabetização pela Fapa.
Chapa 2 – Cpers Unido e Forte
Candidata: Helenir Aguiar Schürer
Atual presidente do Cpers, Helenir, 63 anos, lança mão de conquistas de seu mandato para se reeleger, entre elas, as melhorias nas condições financeiras da entidade, com acerto de dívidas e prestação de contas online, o que, segundo ela, reforça a participação de associados e as condições de luta do sindicato. Ela também cita ações na área pedagógica, como as mostras de trabalhos escolares, que valorizam a atividade do professor frente à sociedade e melhoram o aprendizado nas escolas. Assim como as chapas de oposição, ela promete ser implacável com o governo, mas reconhece que as negociações não foram cumpridas pelo Piratini. O trabalho também se dará no campo político, mobilizando a categoria para as próximas eleições para o governo do Estado, colocando-se em oposição ao atual governo. Helenir, que já dirigiu um núcleo em Santana do Livramento e hoje vive em Porto Alegre, reconhece divergências dentro da categoria e promete discutir mais com a base para saná-las. Quanto às greves – no ano passado, durante a gestão dela, houve a maior paralisação em 25 anos –, ela acredita que é preciso reorganizá-las e ampliar os debates, inclusive, com mudanças no estatuto. A chapa é ligada a movimentos sociais e a iniciativas como Educadores do Projeto Popular.
Chapa 4 – Construção pela Base – Por um Cpers Organizado Pela Base e de Luta Pelo Socialismo
Candidato: Lucas Cortozi Berton
A principal bandeira da chapa é acabar com o afastamento da categoria do que chama de "chão da escola" e reorganizar a soberania das bases. Lucas concorreu no último pleito. Professor de história, sociologia e filosofia na Escola Alcídes Cunha, em Porto Alegre, ele tem 33 anos e é o mais jovem candidato. Na opinião dele, é preciso mais debates com as bases e mais respeito às decisões da categoria. Outro ponto questionado pelo grupo é a burocratização do Cpers em detrimento de uma aproximação com o dia a dia das escolas. A chapa também critica a maneira como está sendo implantado o Plano Nacional de Educação (PN), que inclui as reformas do Ensino Médio. Como os outros concorrentes, promete um trabalho ferrenho de oposição ao governo Sartori, ressaltando que também fará uma oposição ideológica, porque entende que o governo usa a desculpa da crise política para desqualificar os professores.
Chapa 5 – Lutar Sempre
Candidata: Tânia Mara Magalhães Freitas
Concorrendo pela segunda vez, mas com larga experiência em direções do Cpers, a professora de português da escola Dom João Braga, de Pelotas, Tânia Mara entende que, para enfrentar o governo, não basta negociação, é preciso mobilização da categoria. A chapa, ligada à CUT, em uma concepção mais à esquerda na política, promete ser combativa na luta pelas reivindicações históricas da categoria. Um dos pontos que considera a seu favor é o bom trânsito entre as várias correntes políticas que estão presentes no Cpers. Não concordam com a nomeação de Ronald Krummenauer para a Seduc e temem que as terceirizações dos serviços bata à porta das escolas. Plano de carreira e nomeação de concursados é outra luta que o grupo pretende investir frente ao governo do Estado.
QUEM PODE VOTAR
– Nestes dois dias, os sócios da entidade elegerão a diretoria estadual do Sindicato e as respectivas diretorias dos 42 núcleos do Cpers. Os educadores poderão votar em seus núcleos ou nas escolas de suas regiões, entre 8h e 22h nas instituições que têm três turnos e, nos demais colégios, nos turnos regulares de funcionamento.
– Podem participar da eleição aqueles que tenham ingressado na entidade até 28 de abril deste ano ou reingressado até 28 de março e que estejam em dia com a tesouraria.
– Aqueles professores que mudaram suas atividades para outro núcleo também podem participar do pleito, desde que a alteração de endereço tenha ocorrido 60 dias antes da data da eleição. Fora deste prazo, esse eleitores só poderão votar para a direção central.
Confira as chapas concorrentes nos 42 núcleos do Estado: bit.ly/42nucleos