Apesar de seguir acima da média de desempenho nacional, o Rio Grande do Sul teve queda na pontuação nas três áreas de conhecimento (ciências, matemática e leitura) avaliadas pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Os resultados do exame realizado por alunos de 70 países em 2015 foi divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) nesta terça-feira.
Na última edição da avaliação, os estudantes gaúchos na faixa etária dos 15 anos fizeram 411 pontos em ciências (a média nacional foi de 401 pontos), 385 em matemática (377) e 410 em leitura (407). Em 2012, a pontuação do Estado havia sido 419, 407 e 433 respectivamente. As diferenças entre os resultados gaúchos nas duas edições do Pisa, no entanto, não são consideradas "estatisticamente significativas" – o desempenho no Estado está, então, estagnado. Zero Hora entrou em contato com a Secretaria Estadual de Educação, mas ainda aguarda a avaliação da pasta sobre os resultados.
Na economia, o Rio Grande do Sul assume a 4ª posição entre os Estados brasileiros na participação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional (conforme dados de 2014) e o 3º lugar no volume de exportações (informações de outubro de 2016). Quando o assunto é educação, no entanto, o Rio Grande do Sul ocupa as 6ª, 9ª e 7ª posições em ciências, leitura e matemática, respectivamente. São os estudantes do Espírito Santo (11º na participação do PIB nacional) que vêm à frente no desempenho nas áreas de ciências e leitura, e os alunos do Paraná (5º no PIB), em matemática. Os adolescentes no Rio Grande do Sul assumem as 6ª, 9ª e 7ª posições respectivamente. Alagoas (20º no PIB) é o último colocado nas três áreas.
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A pontuação do Rio Grande do Sul está acima da média nacional nas três áreas. Mas, se o Estado fosse um dos países integrantes da lista do Pisa, a colocação não seria muito diferente da do Brasil – bem abaixo da média internacional. Com o desempenho apresentado nesta edição, ele ficaria em 60º lugar em ciências, junto com países como Montenegro e Geórgia, e somente três posições à frente do Brasil. Em matemática, com pontuação próxima à da Indonésia, o RS assumiria a 64ª colocação, uma à frente do Brasil. E em leitura os gaúchos desbancariam a Tailândia, a 57ª da lista, e ficariam duas posições à frente do Brasil.
No Pisa, a competência do aluno em cada área é avaliada por níveis que vão desde o 1B, passando pelo 1A, nível 1, nível 2, até chegar ao nível 6. De acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela prova, o nível 2 compreende as capacidades mínimas para exercer uma cidadania plena – mas a grande parte dos brasileiros não chega a ele. Em matemática, 70% dos brasileiros que realizaram o exame em 2015 ficaram abaixo do nível 2. Em ciências, 56%, e em leitura, 51%.E os resultados gaúchos não são muito diferentes dos nacionais. Pouco mais de 50% dos estudantes do Estado que fizeram a prova não chegaram ao nível 2 em ciências. Em matemática, 67% não apresentaram as capacidades, e em leitura, 48%.
Conforme a avaliação, os brasileiros têm maior facilidade para compreender textos que dizem respeito ao universo pessoal: e-mails, mensagens de texto e cartas. Mas penam para interpretar notícias e documentos oficiais. Em matemática, em que a dificuldade é maior, as habilidades dão contas de simples adições e subtrações do cotidiano, como o cálculo de um troco em uma compra. O sufoco é grande quando os números começam a ficar abstratos, como ocorre nos cálculos geométricos, por exemplo. Para Olavo Nogueira Filho, a explicação pode estar na qualificação dos professores para lecionarem as disciplinas.
– O professor é o elemento que mais pode fazer diferença no aprendizado do aluno. Na nossa realidade, no entanto, pode-se dizer que mais de 60% dos professores de ciências no Ensino Fundamental no Brasil não tem formação específica na área. Os resultados de aprendizagem do sistema estão condicionados à qualidade dos professores – afirma Nogueira.
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Especialista em Psicologia da Educação e professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fernando Becker credita o mau desempenho dos alunos brasileiros, e também particularmente os gaúchos, no Pisa à metodologia aplicada no ensino e ao jogo de empurra-empurra enraizado na educação.
– O ensino que se pratica no Brasil é o do "conteudismo". O professor não está preocupado com a aprendizagem, mas em passar conteúdo. Se ele passou o conteúdo, com esse verbo mesmo, ele se sente com o dever cumprido. Se o aluno não entendeu, o problema é dele. Muito do rendimento do aluno também depende da expectativa dos pais e de como a transformam em acompanhamento. Só que os pais transferiram a responsabilidade do ensino integralmente para a escola, e a escola trabalha com competência baixíssima, em sua grande maioria. E daí é um jogo de empurra, dos pais para a escola, da escola para os alunos. O resultado está aí.
Confira os 10 Estados que lideram o ranking no Brasil:
Ciências
1º Espírito Santo: 435 pontos
2° Distrito Federal: 426 pontos
3º Paraná: 425 pontos
4º Minas Gerais: 422 pontos
5º Santa Catarina: 418 pontos
6º Rio Grande do Sul: 411 pontos
7º São Paulo: 409 pontos
8º Goiás: 409 pontos
9º Mato Grosso do Sul: 403 pontos
10º Ceará: 401 pontos
Leitura
1º Espírito Santo: 441 pontos
2º Paraná: 433 pontos
3º Minas Gerais: 431 pontos
4º Distrito Federal: 430 pontos
5º Santa Catarina: 419 pontos
6° São Paulo: 417 pontos
7º Goiás: 418 pontos
8º Mato Grosso do Sul: 411 pontos
9º Rio Grande do Sul: 410 pontos
10º Ceará: 409 pontos
Matemática
1º Paraná: 406 pontos
2º Espírito Santo: 405 pontos
3º Minas Gerais: 398 pontos
4º Santa Catarina: 398 pontos
5º Distrito Federal: 396 pontos
6º São Paulo: 386 pontos
7º Rio Grande do Sul: 385 pontos
8º Ceará: 382 pontos
9º Goiás: 380 pontos
10º Amazonas: 378 pontos