Caminho quase natural ao final do Ensino Médio - e exigência de diversos cargos e empresas -, cursar uma graduação nem sempre corresponde às expectativas de quem acabou de deixar a escola. Isso não quer dizer que não ter um diploma na mão é estar fadado ao insucesso. Ainda existem campos a serem explorados, e bem aproveitados, por quem não tem interesse na vida acadêmica. Todos exigem tanta dedicação e estudo quanto uma faculdade.
- Hoje é mais difícil, mas ainda é possível ter sucesso sem cursar a graduação, especialmente em áreas muito novas, que ainda não têm cursos formalizados. O maior campo é o da tecnologia, principalmente na área de criação de aplicativos e programas para dispositivos móveis. Mas há gente que largou tudo e está muito bem produzindo cerveja artesanal em casa. É a chamada indústria criativa - diz Francisco Zanini, diretor da unidade de educação continuada da Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos).
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Gerente executivo da consultoria Michael Page, que trabalha com recrutamento especializado, Fernando Pomziocyk concorda que a tecnologia seja o ramo mais propício a receber profissionais qualificados, mas sem diploma universitário. Ele acredita que as melhores oportunidades para não graduados são aquelas em que o conhecimento prático tem peso maior, o que é levado em consideração para muitos cargos de gestão.
Repleta de autodidatas anos atrás, a área de tecnologia da informação (TI) ainda é uma das mais favoráveis para quem não pretende entrar para a universidade. Isso porque existem cursos mais específicos nessa área, com duração menor do que a de uma faculdade.
Áreas técnicas e empreendedorismo
A área técnica também pode credenciar profissionais sem canudo ao sucesso. Apesar de os cargos públicos, por exemplo, remunerarem melhor vagas de nível superior, alguns técnicos podem se dar tão bem quanto quem passou pela universidade. Segundo a coordenadora-geral de ensino do campus Viamão do Instituto Federal,
Maria Clarice de Oliveira, o que conta é o grau de especificidade do curso:
- Em algumas áreas técnicas, os salários são muito bons. Os cursos em recursos naturais, com técnicos em agricultura, agropecuária e agroindústria, por exemplo, formam profissionais com habilidades específicas que não são desenvolvidas na graduação.
Outra via possível, segundo especialistas, é a do empreendedorismo. Hoje, existem cursos rápidos para ajudar quem quer abrir o próprio negócio. Antes, porém, é preciso descobrir um nicho que possa ser atendido por um produto ou serviço que o estudante tenha vontade de explorar, além de um bom
planejamento. Mas não só.
- Quem quer empreender ou se posicionar no mercado de trabalho sem cursar uma faculdade tem que ter um certo espírito aventureiro. Porque, nesses casos, a pessoa vai ter que, muitas vezes, criar oportunidades - conclui Francisco Zanini.
Graduações tradicionais já não são garantia de sucesso
O argumento da sua avó segue fazendo sentido: todo mundo precisa, e vai continuar precisando, de médicos, engenheiros e advogados em algum momento da vida. Nem por isso essas carreiras são, como foram no passado, garantia de sucesso.
- Não existe mais uma resposta absoluta. As graduações tradicionais ainda são populares, e sempre serão necessárias. Mas o mercado, hoje, valoriza profissões versáteis, que formem profissionais com capacidade de adaptação. E a Medicina, por exemplo, é uma carreira mais focada - analisa a psicóloga Jaqueline Mânica, diretora executiva do Escritório de Carreiras da PUCRS.
Segundo a profissional, alguns cursos podem até estar mais em alta do que outros, mas, no fim das contas, o que costuma determinar uma carreira de sucesso está mais relacionado a um bom planejamento do que a uma graduação específica. Além disso, destaca, é preciso que o aluno tenha interesse real pelo curso que escolheu.
- Carreira é aquilo que dá sentido à vida. É um processo de autoconhecimento. A pessoa precisa saber no que é boa, respeitar seus valores e suas características pessoais e, independentemente de cursar uma graduação ou não, traçar um plano - diz.
Ficar atento ao que é tendência no mercado, por outro lado, não faz mal a ninguém. Em tempos de crise econômica, como os atuais, o objetivo das empresas é fazer mais com menos. Nesse contexto, profissionais polivalentes, que possam atuar em mais de uma frente, tendem a ser valorizados, segundo o consultor Fernando Pomziocyk.
- Para posições mais altas de empresas grandes, via de regra, a graduação é pré-requisito. As áreas que trabalham com organização, infraestrutura e tecnologia resistem bem, e podem crescer nesses momentos - avalia.
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