Quase quatro anos depois de um incêndio destruir a Estação Antártica Comandante Ferraz, o começo da reconstrução da casa do Brasil no continente gelado está próximo. Na segunda quinzena deste mês, chegam à Ilha Rei George engenheiros e técnicos da Ceiec, estatal chinesa contratada para executar a obra.
Sem contratempos, algo difícil em uma região com terreno tomado por gelo, temperatura negativa e vento acima dos 100 km/h, a previsão da Marinha do Brasil é inaugurar a nova Ferraz em 2017. A estimativa inicial era 2016, porém, dificuldades com a licitação forçaram a revisão do cronograma. A obra custará US$ 99,6 milhões (cerca de R$ 370 milhões).
Moderna, apta a receber 64 pessoas e dotada de 14 laboratórios internos, a estação ficará no mesmo local da sua antecessora, na Península Keller, área da Baía do Almirantado, na Ilha Rei George, região da península antártica. No local, a bandeira brasileira tremula há mais de três décadas.
A base antiga foi quase toda destruída por um incêndio em fevereiro de 2012, no qual morreram dois militares. Nos últimos anos, as pesquisas do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) foram realizadas em acampamentos, refúgios e nos módulos emergenciais, ao lado da área da Ferraz original.
- Cerca de 80% do Programa Antártico não foi afetado (pelo incêndio). Nossa diretriz até 2022 é realizar cada vez mais pesquisas fora da área de Ferraz. Estamos otimistas para receber a nova estação, que será voltada de fato para pesquisa - afirma o professor Jefferson Simões, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera.
Diante das condições inóspitas da região, a reconstrução será dividida em duas fases, entre os verões 2015-2016 e 2016-2017. Envolverá uma megaoperação logística para o transporte em navios (de duas a três embarcações, estima-se) dos módulos pré-fabricados até a Ilha Rei George. A previsão é de que a Ceiec mantenha trabalhos na China e na ilha, com passagem das estruturas em portos chineses, chilenos, brasileiros e argentinos.
Mão de obra de 200 operários
A logística e a mão de obra são responsabilidades da estatal chinesa, que projeta utilizar 200 operários. A Marinha auxiliará em eventualidades e atuará na fiscalização do empreendimento, com o Ministério do Meio Ambiente, que ainda estuda o plano ambiental de construção, espécie de licenciamento. A parte pesada da obra só poderá avançar depois do aval do ministério, aguardado para os primeiros meses de 2016.
Ao chegar à Ilha Rei George, os chineses vão concluir o estudo de solo, necessário para executar as fundações. O desejo é terminar essa etapa até março. Para o verão seguinte, ficarão as estacas, a instalação do piso e dos módulos com as partes do prédio (cozinha, enfermaria, laboratórios, dormitórios).
Com novos laboratórios, Ferraz contribuirá com o avanço das pesquisas na área ambiental. Em 2015, completou 40 anos que o Brasil reconheceu o Tratado da Antártica. A partir da década de 1980, a presença do país na região se efetivou. Alguns dos estudos auxiliam a entender o papel da Antártica na formação das frentes frias que chegam ao Brasil.
- O El Niño, por exemplo, está conectado com o nível de congelamento do mar na Antártica. Alguns estudos avançam para entender essa relação e auxiliar na previsão climática - explica Simões.