Em linhas gerais, acertar muitas questões no Enem garante pontuação alta?
É claro que, numa prova com 45 questões, o aluno que acertar 45, 44 ou 43 terá uma boa pontuação, independentemente de quais questões ele acertou. Por outro lado, um aluno que tem baixos acertos, depende muito, mas muito mesmo, de quais questões ele acertou. Vou dar um exemplo pela análise que fiz da prova de matemática do Enem 2010. O método é o mesmo, Teoria de Resposta ao Item (TRI). Nesta prova, era possível fazer nota 370 acertando uma questão. A nota mínima foi 334. O impressionante é que, nesta prova, houve alunos com 16 acertos que tiveram nota abaixo de 370 pontos. Por exemplo, com 27 acertos, a nota ficou entre 600 e 750 pontos, uma variação de 150 pontos por prova. Com 15 acertos, a pontuação foi de 330 pontos (praticamente a nota mínima observada) até 612, variação de quase 300 pontos. Quanto menor o número de acertos, maior a variação da nota. Por que isso acontece? Porque o TRI é baseado num modelo estatístico que pretende identificar o chute.
Então, um aluno que acertou mais da metade das questões ou dois terços da prova é menos provável que tenha chutado. Mas, mesmo assim, se esse conjunto de questões certas não é muito coerente, o sistema identifica e penaliza ele.
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O que é "coerente" neste caso?
Imagine um professor que montou uma prova com 10 questões, cinco muito fáceis e cinco muito difíceis. Aí, ele recebe o cartão-resposta de dois alunos. Um deles acertou exatamente as cinco fáceis e errou as muito difíceis. O outro fez o contrário, acertou as difíceis e errou as fáceis. Qual entre eles é mais provável que tenha chutado? É lógico: aquele que acertou as fáceis fez mesmo a prova, chutou as cinco difíceis e deu azar e não acertou nada. Mas o outro não sabia nada e deu a sorte. O TRI é complexo, com bases matemáticas que vêm de antes da década de 1950. Traz ideias matemáticas de medição de desempenho e habilidades em determinadas tarefas. O problema é que, antes, a gente não tinha capacidade computacional para avaliar muitos dados.
É um método que tenta punir o chute então?
Eu diria, como matemático que estudou o assunto, que ele consegue punir com alta probabilidade, porque tudo em estatística envolve um grau de incerteza. No Enem, pode acontecer de um aluno acertar as mais difíceis da prova? Pode. E ele será penalizado pelo TRI? Vai. Mas, na minha opinião, esses casos são raríssimos, se é que vão acontecer. Para um exame deste tipo, o método com o número de acertos definindo a aprovação, como nos vestibulares, é absolutamente impossível. Numa faixa média de 120 acertos, por exemplo, haveria milhares de pessoas. Como selecionar essa quantidade de gente?
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As questões são divididas em fáceis, médias e difíceis?
Não formalmente, mas há uma intenção da banca de variar o nível de dificuldade, e o TRI envolve hipóteses sobre probabilidade de acerto de cada questão dependendo da proficiência do aluno. Essas hipóteses envolvem três parâmetros, sendo que um deles é a dificuldade, mas, na minha análise, tentei usá-lo como medidor e achei péssimo.
No que é deficiente?
Ele mede apenas a proficiência de um candidato que teria 50% de chance de acertar a questão. Na prática, isso é feito por meio de pré-testes. Bem, uma das hipóteses do TRI é de que todas as pessoas já têm uma proficiência naquela matéria que está sendo medida. O teste (no caso, o Enem) se propõe a medir essa proficiência. Cada questão já foi pré-testada com pessoas cuja proficiência já é conhecida numa escala absoluta. Como a questão já foi testada, teoricamente sabemos como será o desempenho de uma pessoa com determinada proficiência.
O que seria uma boa pontuação no Enem?
É difícil determinar. Uma pontuação boa na prova de matemática de 2010 seria 700. O aluno poderia consegui-la com 23 acertos, quase metade das questões. Mas há alunos com 31 acertos que tiveram nota menor do que 700, pelos fatores do TRI, que avaliou que essas 31 não estavam bem distribuídas. O TRI entende que esse aluno chutou mais do que o outro.
Então, fazer uma pontuação baixa não é o fim do mundo?
Não. Se o aluno tiver consciente de que fez o melhor, viu todas as questões e se dedicou às mais acessíveis. O TRI deveria ser uma tranquilidade para o aluno sério. Em outro método, o candidato fica muito mais à mercê da sorte. Com o TRI, o aluno pode ter segurança de que seus esforços serão recompensados.
Vale chutar no Enem?
Sim, um acerto nunca prejudica. A dica em termos de estratégia é encontrar as questões que você sabe fazer e respondê-las com atenção. A coerência das respostas é que fará a diferença.
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