Um grupo internacional de astrônomos, liderado por pesquisadores do Grupo de Dinâmica Orbital e Planetologia da Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Guaratinguetá, desenvolveu um novo método para identificar famílias de asteroides.
O método foi apresentado durante encontro da Divisão de Astronomia Dinâmica (DDA) da Sociedade Americana de Astronomia (AAS, na sigla em inglês) e descrito em um artigo publicado em julho na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
- O novo método permite identificar membros de famílias de asteroides com melhor precisão do que os existentes hoje - disse Valério Carruba, professor da Unesp de Guaratinguetá e primeiro autor do estudo.
As "famílias" são formadas por partes de asteroides de grandes dimensões que, ao colidirem, se despedaçam em fragmentos de tamanhos diferentes. Ao serem ejetados, esses fragmentos tendem a viajar em trajetórias semelhantes em torno do Sol e se afastam gradualmente uns dos outros ao longo do tempo.
Alguns pedaços acabam em órbitas instáveis, que os desviam para perigosas incursões no Sistema Solar, e outros objetos passam a integrar as populações de asteroides próximos da Terra.
A fim de identificar famílias de asteroides, segundo Carruba, atualmente são utilizados modelos baseados no levantamento de objetos rochosos próximos a um asteroide de grande porte. O problema, de acordo com o pesquisador, é que esses modelos levam em conta apenas a posição orbital dos objetos rochosos, e não aspectos importantes como cores e a quantidade de luz que refletem (asteroides de uma mesma família possuem a mesma cor em luz visível e refletem quantidades semelhantes de luz).
Em função disso, muitos objetos identificados atualmente como membros das famílias de asteroides existentes são, na realidade, "intrusos" que passaram a ocupar ou já ocuparam a mesma região orbital. Em colaboração com colegas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, além do SouthWest Research Institute, dos Estados Unidos, da Universidade Pierre e Marie Curie e do Observatório de Paris (Syrte), ambos na França, Carruba desenvolveu agora um método que combina a posição orbital, as cores e o albedo geométrico para identificar famílias de asteroides.
Com o novo método, de acordo com Carruba, é possível diminuir bastante a probabilidade de classificar objetos intrusos como membros de determinadas famílias.
- O novo método tem alta eficiência para identificar objetos que têm alta probabilidade de fazer parte de famílias reais de asteroides, pois permite delimitar o número de interlopers (intrusos). Isso melhora a identificação dos limites orbitais ocupados para cada grupo - explicou.
De acordo com Carruba, o desenvolvimento do método para identificar famílias de asteroides foi possibilitado pelos dados fornecidos por duas missões espaciais realizadas nos últimos anos pela NASA, a agência espacial americana, que disponibiliza catálogos com informações sobre a fotometria de asteroides. A partir de 2011, os dados possaram a incluir o "albedo geométrico" de mais de 100 mil asteroides, possibilitando o cálculo das propriedades reflexivas desses corpos.
O método também permitirá calcular com maior rigor a idade das famílias de asteroides. Isso porque, segundo Carruba, para ter uma boa noção da idade de uma família de asteroides, é preciso ter uma estimativa precisa da dispersão orbital de seus membros, como o que o novo método possibilita desenvolver.
- Se não há uma boa estimativa da dispersão da família de asteroides, dos objetos que realmente fazem parte dela e do tipo espectral do seus membros, o cálculo da idade pode ser errado. Isso tem implicações muito importantes na nossa compreensão dos processos evolutivos que moldaram o cinturão principal de asteroides - disse Carruba.