Ter uma formação voltada à carreira e ao desenvolvimento profissional pode ser um diferencial na disputa por uma vaga ou posição de gestão, mas é importante buscar cursos compatíveis com as necessidades do mercado de trabalho ou da empresa em questão. Nesse contexto, a aproximação das organizações às universidades tem papel decisivo para qualificação de quadros profissionais e estudantes.
— Esse muro que existe entre os dois, a academia e as organizações, não deve mais existir. É preciso haver inovação dentro das empresas, e a aproximação com as universidades é essencial para o nosso futuro — ressalta Cristiano Richter, pró-reitor de Administração da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Impulsionada pela pandemia e pelas novas tecnologias no contexto organizacional, a economia digital impõe desafios dentro das empresas. Com isso, são exigidas novas habilidades dos colaboradores, tanto no que se refere às competências técnicas, quanto no âmbito comportamental. Uma das demandas do momento são as soft skills.
Conforme Richter, o Rio Grande do Sul deve aproveitar o potencial que possui para gerar parcerias entre empresas e o universo acadêmico, tendo em vista os polos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico no Estado.
Para o gerente de relacionamento com o mercado da Unisinos, Douglas Veit, o conhecimento funciona como um ativo a ser agregado por cada colaborador dentro da organização:
— A única coisa que o aluno ou colaborador não perde dentro da empresa é o conhecimento. Ele vai aplicar, dentro da empresa que forneceu esses conhecimentos a ele, e provavelmente irá gerar resultados para essa organização. E esse conhecimento ele leva junto com ele, independentemente do que aconteça, se ele é promovido, se vai para uma outra organização.
Planejamento estratégico
Para o gerente, é importante que as empresas tenham no planejamento estratégico um desenho de educação executiva, levando em consideração as áreas que precisam ser desenvolvidas. Muitas vezes, os gestores buscam resolver os problemas a curto prazo, com formações mais rápidas, sem um planejamento por trás, mas isso pode gerar gastos e frustração no futuro.
— Vemos muitas empresas destinando parte do orçamento para treinar os colaboradores. Chega no fim do ano, os gestores percebem que ainda têm verbas para gastar, e começam a comprar cursos de prateleira só para cumprir a meta de horas de treinamentos, sendo que muitas vezes não é daquilo que a empresa necessita — explica Veit.
Segundo ele, é aí que entra o papel das instituições de ensino, que são capazes de apoiar as empresas no que elas precisam, identificando os problemas, fortalecendo as deficiências e gerando soluções customizadas.
— Na Unisinos, nem sempre ofertamos cursos prontos. Muitas vezes, a gente vai construindo isso junto da empresa parceira. Por meio de conversas, tentamos entender o problema que precisa ser sanado, mapeamos quais competências podem agregar valor àquela empresa e quais soluções farão mais sentido — afirma o gerente.
Segundo a diretora de Educação Corporativa da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Rio Grande do Sul (ABRH-RS), Katherine Minella, a empresa pode buscar diversos fornecedores, inclusive dentro da organização, mas esse processo precisa ser acompanhado de um planejamento.
— As organizações devem identificar internamente suas necessidades, com um olhar estratégico, estabelecer metas e objetivos, para então desenhar um programa de educação e buscar fornecedores internos ou externos alinhados a essas necessidades. Dentro de casa se tem muito conhecimento. A empresa pode formar pessoas para que possam compartilhar conhecimentos, para que sejam multiplicadores. Ou, pode buscar parceiros de fora para atender a essa demanda — explica.
Guarda-chuva de possibilidades
Conforme Katherine, as possibilidades de formações são muitas. Workshops, treinamentos internos, capacitações, pós-graduação, ensino de línguas, mentorias, coachings, entre outras, podem ser conduzidas dentro das organizações para promover o desenvolvimento das equipes. Segundo a diretora, o investimento contribui para que as empresas permaneçam saudáveis financeiramente.
Mas, com o apoio das universidades, é possível acelerar o desenvolvimento e a inovação dentro das empresas. Por outro lado, essa troca entre a academia e o mercado de trabalho permite trazer para as salas de aula problemas reais do ambiente profissional, preparando os alunos para atuarem nesses espaços futuramente, segundo Veit:
— Nos programas de mestrado e doutorado, stricto sensu, trabalhamos para desenvolver cases dentro das linhas de pesquisa que já existem. Assim, os alunos podem trazer questões de suas organizações. Já os MBAs nós podemos customizar, podemos moldar cursos pensando nas necessidades das organizações. Eu não preciso pegar uma solução pronta.