No novo tempo / Apesar dos castigos / De toda fadiga / De toda injustiça / Estamos na briga / Pra nos socorrer. Os versos de Ivan Lins proferidos pelo Coral da UFRGS – e ovacionados pelo público – deram início à cerimônia na qual Marcia Barbosa foi conduzida ao cargo de reitora e Pedro Costa ao de vice-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na manhã desta sexta-feira (27).
Na sessão solene do Conselho Universitário (Consun) no Salão de Atos, aberta à comunidade acadêmica e lotada, os demais integrantes da Gestão 2024-2028 também foram empossados.
A chegada dos novos gestores foi comemorada e aplaudida de pé pelo público. O evento foi marcado pela alegria da comunidade acadêmica presente e dos convidados, que celebraram a primeira eleição com paridade de votos na universidade.
A primeira ação da nova reitora foi entregar ao Consun os projetos de criação da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade, da Secretaria Especial de Mudanças Climáticas e da Coordenadoria de Educação Básica. Na cerimônia, Marcia e Costa receberam itens simbólicos dos servidores, como um pedaço de grade, representando a abertura das portas da universidade.
O discurso da reitora foi marcado pela ênfase na participação da comunidade na administração e na necessidade de ações para enfrentar as emergências climáticas. A professora de Física destacou que a universidade é o local onde se cria, protege e espalha o conhecimento, e possui duas características: ali, as revoluções nascem, e as pessoas se renovam.
A reitora ressaltou, porém, que a universidade necessita de uma transformação frente aos ataques ao conhecimento, à democracia e ao negacionismo das mudanças climáticas. A gestão afirma ter um plano: utilizar instrumentos da própria universidade para se revolucionar. Eles são dois, típicos do Sul global:
- extensão: para fortalecer o conhecimento e a verdade
- capacidade de diversidade: aproveitar diferentes modos de ver o mundo e produzir conhecimento para encontrar soluções
— Esse é meu plano, aqui do sul do Sul: utilizando nossos polos de extensão, que já estão sendo mapeados, juntando com a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade, vamos criar os meios para trazer um novo olhar não só para a UFRGS, Porto Alegre, RS e Brasil, mas para o mundo. E vamos fazer isso porque temos de resolver os problemas da democracia, da distribuição de renda e das mudanças climáticas — afirmou, destacando a biodiversidade do Brasil como alternativa para resolver problemas.
Além disso, um projeto transversal de saúde planetária está sendo construído, envolvendo todas as áreas do conhecimento, com o objetivo de preservar a existência. A revolução acontecerá pelas mãos da comunidade:
Hoje assume a reitoria da UFRGS, o povo brasileiro.
MARCIA BARBOSA
Reitora da UFRGS
Em seu discurso, o vice-reitor destacou que a gestão foi escolhida pela comunidade de forma paritária, democrática e autônoma. A reitoria percorreu a instituição e observou problemas, mas também encontrou pessoas orgulhosas e motivadas, e, aos poucos, tem sido possível reconstruir expectativas, conforme Costa.
O professor da Escola de Administração reiterou o compromisso social e a responsabilidade da universidade pública em um país com mazelas socioeconômicas e ambientais e com escalada de violência e preconceitos. A UFRGS é referência em ciência, artes e humanidades e motivo de orgulho, mas não pode se acomodar no lugar de soberba, apartada das grandes questões contemporâneas e necessidades da sociedade, alertou. A presença marcante da qualidade “pode e precisa” se traduzir em um mundo melhor.
Costa também salientou que a gestão trabalhará com diálogo e deve ser cobrada e vigiada:
Chega de muro, chega de grades. Nossa grandeza coloca desafios e tarefas proporcionais, e tenho convicção de que podemos, juntos, dar conta dessas expectativas. Temos pessoas, saberes, equipamentos.
PEDRO COSTA
Vice-reitor da UFRGS
A posse contou ainda com a participação de alunos. Em sua fala, Niara Luz, representante da União Nacional dos Estudantes (UNE), comemorou a democracia universitária por meio da paridade. A aluna reforçou a necessidade da presença da instituição no centro do desenvolvimento nacional.
Niara também cobrou um projeto de universidade popular, opôs-se ao desligamento de colegas por meio da matrícula provisória de cotistas, defendeu o fim da lista tríplice e ressaltou a importância das cotas trans.
O aluno Wellington Porto apontou a necessidade de compromisso com o diálogo, a transparência e a democracia na nova gestão. Porto também frisou a importância de pastas voltadas às mudanças climáticas, para definir protocolos frente a eventos climáticos extremos e evitar que a comunidade acadêmica tenha de se colocar em risco quando há enchente e temporais. Os alunos depositaram um voto de confiança pela mudança e transformação da universidade:
— Nós queremos mais. E esse é o desafio que colocamos para essa nova gestão, construir a nova UFRGS, na qual estudantes, técnicos, trabalhadores terceirizados e professores tenham voz e espaços na tomada de decisão de forma paritária e transparente.
O evento foi encerrado com a apresentação da Escola de Samba Imperadores do Samba, em ritmo de festa, com direito à dança dos novos reitores e da comunidade.