Faltando poucos dias para a consulta à comunidade acadêmica sobre quem devem ser a nova reitora e o novo vice-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que acontece nesta segunda-feira (15), as três chapas inscritas têm apresentado, em suas redes sociais, uma sucessão de vídeos de apoiadores. Através dos apoios, os candidatos revelam parte de sua inclinação política, seja ela a partidária ou a interna da instituição.
A universidade é constituída por cerca de 50 mil pessoas, sendo 30 mil estudantes de graduação, 13,5 mil de pós-graduação, 2.970 professores, 2.337 mil técnicos-administrativos e 1.308 terceirizados – estes últimos não votam na consulta. Com uma "população" superior à da maioria dos municípios gaúchos, a vida política da instituição envolve diferentes grupos e alianças formadas nos corredores das unidades acadêmicas e que, às vezes, se estende para fora dos campi. Na próxima eleição municipal, por exemplo, a técnica-administrativa Tamyres Filgueira, que declarou apoio à chapa 1, será candidata pelo PSOL a vice-prefeita de Porto Alegre.
Todas as chapas criticam a atual gestão da reitoria, composta por Carlos André Bulhões e Patrícia Helena Pranke, e rechaçam qualquer acusação de vinculação a esse grupo.
Chapa 1
Denominada "Virada na UFRGS", a chapa 1 é composta pela atual diretora da Faculdade de Educação, Liliane Giordani, e por Carlos Alberto Gonçalves, professor do Departamento de Bioquímica que já foi vice-presidente da Adufrgs e presidente da Andes/UFRGS, ambas entidades sindicais que representam docentes da universidade.
A dupla foi unida pelo Movimento Virada, que há mais de 10 anos defende a paridade na eleição para a reitoria da instituição, o que significa almejar que o peso dos votos de alunos, professores e técnicos-administrativos seja o mesmo. Hoje, as escolhas dos docentes valem 70% do total, contra 15% das outras duas categorias.
Em suas redes sociais, além de Tamyres, outras pessoas vinculadas a partidos de esquerda, como os deputados federais Glauber Braga (PSOL-RJ) e Fernanda Melchionna (PSOL-RS), a deputada estadual Sofia Cavedon (PT) e os vereadores Karen Santos, Pedro Ruas e Roberto Robaina (PSOL), manifestaram que apoiam a chapa 1.
Durante o debate ocorrido nesta quarta-feira (10) no Salão de Atos da UFRGS, a dupla aproveitou o bloco que previa tema livre de pergunta entre chapas para questionar sobre a forma de financiamento defendida para as universidades federais. Liliane lembrou do programa Future-se, criado em 2019 pelo governo federal, com a possibilidade de captação de recursos privados por essas instituições, e reforçou que defende verba 100% pública para pagar o funcionamento das unidades acadêmicas.
No encontro, a candidata destacou, ainda, a vontade de "derrubar as grades" da universidade e acabar com o "policiamento em cima dos estudantes e dos servidores técnicos". Entre integrantes da comunidade acadêmica da UFRGS ouvidos pela reportagem, a impressão é de a chapa 1 tem boa aceitação em especial entre técnicos-administrativos e parte dos alunos.
Chapa 2
Nomeada "Geração UFRGS", a chapa 2 é composta por Ilma Brum, diretora do Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) em seu segundo mandato, e por Vladimir Nascimento, diretor da Faculdade de Veterinária em seu terceiro mandato, que já foi pró-reitor de Pós-Graduação de 2012 a 2016 e de Graduação de 2016 a 2020, nas gestões de Rui Vicente Oppermann e Carlos Alexandre Netto.
Os candidatos foram escolhidos por um grupo de diretores que se uniu, em 2021, para fazer um levantamento das demandas das unidades acadêmicas. Em julho do ano passado, esse trabalho foi concluído e os gestores passaram a elaborar uma proposta para a nova reitoria.
Diferentemente das outras chapas, a 2 não tem, em suas redes sociais, menção a apoio de pessoas ligadas a partidos. Há vídeos manifestando o suporte à dupla de representantes de entidades de classe, muitas delas vinculadas à área veterinária, e diretores e vice-diretores de unidades acadêmicas como a Escola de Engenharia, a Faculdade de Odontologia, a Faculdade de Ciências Econômicas e a Faculdade de Agronomia.
No debate realizado no Salão de Atos, o candidato a vice da chapa 2 ressaltou que 20 diretores de unidades acadêmicas apoiam a proposta da dupla, o que, em sua opinião, não aconteceria se eles "tivessem qualquer coisa a ver com o que está aí", se referindo à atual reitoria. Sobre esse assunto, Vladimir pediu que a plateia "não acredite em fake news".
A acusação tem como pano de fundo uma percepção, segundo pessoas vinculadas à UFRGS ouvidas pela reportagem, de que a chapa 2 defende perfis mais tradicionais da instituição, sem tanto espaço para o novo. Por outro lado, o longo período de atuação da dupla em cargos de gestão confere a alguns confiança sobre a viabilidade das propostas.
Chapa 3
Chamada de "Somos Unidade UFRGS", a chapa 3 é composta por Marcia Barbosa, que foi diretora do Instituto de Física por dois mandatos e, até dois meses atrás, era secretária de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do governo Lula, e Pedro Costa, professor da Escola de Administração com atuação em especial em atividades de extensão.
A candidatura dois dois é fruto da união de dois coletivos: "Somos UFRGS" e "Unidade UFRGS", ambos atuantes, nos últimos quatro anos, em espaços como o Conselho Universitário (Consun) e o Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (Cepe), como oposição à gestão da reitoria que se encerra em setembro.
Assim como a chapa 1, a 3 também conta com nomes conhecidos de partidos políticos de esquerda apoiando suas propostas nas redes sociais. Entre eles, estão Manuela D'Ávila (PCdoB), os deputados estaduais Bruna Rodrigues (PCdoB), Leonel Radde (PT) e Matheus Gomes (PSOL). A dupla também publicou um manifesto com nomes de integrantes da UFRGS que oferecem suporte à candidatura.
O debate do Salão de Atos foi espaço para a chapa 3 demonstrar conexão com temas atuais, como ações afirmativas, que teriam uma pró-reitoria especial em sua gestão, e a preparação da instituição para áreas como a produção de fármacos, que, conforme Marcia, receberão fortes investimentos federais nos próximos anos. A dupla defendeu uma presença maior da UFRGS em Brasília e acenou com uma facilidade, nesse sentido, fruto da atuação recente da candidata a reitora como secretária de um ministério.
No final do encontro, os dois tiveram um período extra de direito de resposta, por terem sido acusados, entrelinhas, de apresentarem propostas sem conhecer o orçamento da universidade. A dupla defendeu que está preparada e que não aceita a pecha de "chapa aventureira". Pedro destacou que "a Márcia poderia estar lecionando em qualquer universidade do mundo" ou "ter ficado em Brasília", mas se exonerou.
Calendário
A consulta ocorre nesta segunda (15) entre 7h e 22h. A divulgação dos resultados da Consulta Informal se dará até 23h59min. No dia 18 de julho, haverá o julgamento dos recursos e a divulgação do resultado final, o que deve ser feito até 12h.