— A maior dica é repetição, muita repetição. Eu repetia de modo exaustivo as redações. Em 2018, quando comecei a estudar, escrevi umas 230 redações, enchi uma pasta cheia de redações no modelo do Enem — diz Igor Castagnetti Silva, que está entre os seis candidatos do Rio Grande do Sul que conquistaram nota máxima na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O psicólogo de 29 anos é de Santa Maria e estava estudando há seis anos para passar no vestibular. Além de ter conquistado, pela primeira vez, a nota mil na prova, ele conseguiu a tão cobiçada vaga no curso de Medicina, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2024. Igor é calouro na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Ele atua como servidor público e psicólogo clínico. Quando começou a se preparar para o Enem, em 2018, já trabalhava na Prefeitura de Santa Maria e realizava atendimentos psicológicos. Por isso, conta que não foi fácil conciliar a jornada de trabalho com a rotina de estudos, mas o esforço compensou:
— Eu trabalhava por 40 horas semanais e estudava mais quatro, cinco horas por dia, sempre à noite, depois do trabalho. Eu também tentava aproveitar meu intervalo do almoço para estudar, tinha 1h30min de almoço. Nos finais de semana, era religioso, eu sempre fazia simulado do Enem e estudava em média oito horas por dia — conta.
Ana Carolina Riechel Famoso, Geórgia de Carvalho Cunha, Mariana Goulart Felippe dos Santos, Rafaela Pinto Müller e Vitória Taschetto são as outras jovens que alcançaram a nota máxima na redação, únicos alunos do RS que alcançaram o resultado.
Sonho antigo
Formado em Psicologia em 2017 pela Faculdade Integrada de Santa Maria, Igor sempre gostou muito da área da saúde, mas foi um exemplo da família que o fez ir atrás do sonho de cursar Medicina. Sua mãe trabalhava como diarista e concluiu o Ensino Médio por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA) quando já tinha mais de 40 anos.
Depois, ela fez um curso técnico em Enfermagem e começou a atuar na área. Igor diz que a dedicação e cuidado dela trouxe à tona seu interesse pela Medicina, ainda na adolescência.
— Foi aí que pensei ‘é isso que eu quero’. E também comecei a ouvir os relatos dela, sobre pessoas recebendo atendimento ruim, a falta de respeito com a população. Pensei que talvez eu possa fazer a diferença, pelo menos no meu microuniverso, fazer atendimentos humanizados, tratar bem as pessoas — relata. O psicólogo atua em um Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) em Santa Maria.
Foco total no Enem
Durante todo o período que estudou, Igor ficou focado no objetivo de alcançar uma boa nota no Enem, para ter várias possibilidades de cursos para ingressar e organizar os estudos. Ele fez cursinho por um ano, em 2018, mas durante a maior parte do tempo ficou estudando em casa, com o auxílio de vídeoaulas, simulados, exercícios e provas antigas do Enem.
Eu tento encarar as derrotas nessa perspectiva de tolerância, temos que entender onde precisamos melhorar e seguir firmes no objetivo.
IGOR CASTAGNETTI SILVA
Calouro da UFSM
Ele conta que não tinha como arcar com os custos de um curso pré-vestibular. Então, o jovem criou estratégias para aperfeiçoar sua redação. Ele chegou a elaborar cinco modelos de redação, com estruturas de texto diferentes, para facilitar o processo de escrita.
— Li todo o manual do candidato do Enem e criei uma checklist com tudo que não podia faltar no meu texto, algumas construções frasais importantes, expressões e estruturas para enriquecer a redação. E fui treinando, foi um processo bem metódico. Depois de algum tempo deu certo — afirma.
Segundo Igor, outra dica importante é ter tolerância com o fracasso, tendo em vista que tentar passar no vestibular e não conseguir, ano após ano, pode ser um processo exaustivo.
— O Enem mensura as habilidades, e funciona como o condicionamento físico, se a gente largar de mão, ficaremos mal condicionados. Eu tento encarar as derrotas nessa perspectiva de tolerância, temos que entender onde precisamos melhorar e seguir firmes no objetivo.