Fundada em novembro de 1948, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) completa 75 anos nesta quinta-feira (9). O aniversário acontece em um cenário de conquistas e desafios — apesar da perda de alunos registrada não só na instituição, mas em todas as comunitárias gaúchas, bons desempenhos em rankings internacionais têm sido recorrentes nos últimos anos. Em entrevista a GZH, o reitor Evilázio Teixeira salientou as duas marcas do estabelecimento que têm tornado esse avanço possível, em meio a essa realidade: a força da sua tradição, mas com um espaço importante para a renovação, com investimentos em sustentabilidade, inclusão, inovação e atenção às tendências globais.
Conquistas
Quando falamos da PUCRS, estamos falando de uma instituição que, como experiência de Ensino Superior, inicia em 1931, e, em 1948, se torna universidade. Então, nós temos aí 92 anos de experiência. Foi a primeira universidade Marista no mundo, na história do Instituto Marista. Quando falamos das universidades no Brasil, comparando com Bologna (na Itália), Oxford, Cambridge (ambas na Inglaterra), Salamanca (na Espanha), nós temos uma história curta, já que há universidades com 1,2 mil anos. Mas o que eu posso dizer é que, ao longo desses 75 anos, a PUCRS chega a um nível de maturidade. A PUCRS está entre as top 10 do Brasil, a primeira pela quarta vez na região Sul, a segunda privada de todo o país, e nós figuramos entre a 13ª, a 14º de toda a América Latina e entre as 2 mil melhores universidades do mundo. E, na área de pesquisa, entre as universidades com mais de 10 programas de pós-graduação, a PUCRS ficou em primeiro lugar. Então, eu acho que nós temos, sim, muito o que celebrar. A PUCRS, no meu modo de ver, é um presente não só para Porto Alegre, mas para o povo gaúcho, para o Brasil e para o mundo.
Sustentabilidade
Nós estamos muito adequados àquela agenda da ONU, que é a chamada Agenda 2030. E me deu uma alegria muito grande em saber que, dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, nós estamos integralmente cumprindo 14, sendo que, na verdade, para as universidades, quatro são os mais importantes. Os nossos projetos de pesquisa e as nossas opções estratégicas levam a esse resultado de maneira transversal, com tudo o que ocorre nos laboratórios, muito além dos projetos institucionais. Nós recebemos muitos pesquisadores nacionais e internacionais. É uma área de mais de 3 mil hectares totalmente preservada, que, três anos atrás, se tornou a maior reserva privada de preservação da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul. O Instituto do Petróleo e dos Recursos Naturais também está fazendo projetos maravilhosos para chegar a uma tecnologia que seja capaz de capturar carbono da atmosfera, porque não adianta mais só ter áreas (preservadas). É preciso ir muito além.
Saúde
Quando falamos em campus da Saúde, estamos falando em 10 grandes âncoras. Estamos falando do Instituto do Cérebro (Inscer), que é uma referência no Brasil e na América Latina. Estamos falando do curso de Medicina, com dois programas com nota máxima. Estamos falando da Escola de Ciência da Saúde e da Vida. Muito bem avaliada também. Mas estamos falando também em startups: criamos um ambiente, dentro do Tecnopuc (parque tecnológico da instituição), para 200 startups, e já temos 80 instaladas. É o que a gente chama de biohub. No Inscer, produzimos radiofármacos da mais alta qualidade e relevância. Também estamos investindo pesadamente na busca pela cura do Alzheimer. E o grande projeto do Inscer ali na frente se chama Cita (Centro de Inovação em Terapias Avançadas). Nós não anunciamos ainda oficialmente. Mais do que tratar a doença, nós precisamos trabalhar em cura, buscar a longevidade, a qualidade de vida.
Planejamento estratégico
Há uma preocupação muito forte entre as universidades comunitárias no Estado do Rio Grande do Sul com a perda de alunos. Cada vez mais, a diferença está nas pessoas. A universidade é um lugar de talentos, de mentes privilegiadas. Iniciamos, agora, um novo ciclo de planejamento que vai de 2023 a 2027. Foram 18 meses de trabalho, que envolveram praticamente toda a comunidade acadêmica. O que mudou é que cada escola terá o seu planejamento. Estamos falando de 12 grandes planos estratégicos que vão se desdobrar em 18 grandes projetos ao longo dos próximos cinco anos. A PUCRS se baseia numa ideia muito forte de tradição, mas ela, por si, não é suficiente. Toda tradição carrega em si alguns aspectos sombrios, se não se renova. Precisamos de uma tradição aberta a se renovar, se questionar e dar respostas para o tempo atual.
Tendências globais
A gente viaja bastante, porque é da natureza do trabalho. Eu cheguei de Genebra, por exemplo, há 15 dias. A grande discussão de que eu participei lá junto à Unesco e em um congresso na Universidade de Genebra foi sobre qual o papel da universidade para uma cidadania global. Me deu muita alegria ver que estamos muito bem alinhados com o que está acontecendo no mundo hoje, e, em algumas coisas, posso dizer que nós estamos pautando (...). O meio acadêmico tem se preocupado muito, também, com a questão da inclusão, da multiculturalidade. No Brasil, esse é um tema emergente, porque quando nós falamos da juventude brasileira, de 18 a 24 anos, apenas 17% acessam a universidade. Então, nós precisamos melhorar muito esses dados, e a PUCRS está muito alinhada a isso: para se ter uma ideia, 49,6% dos nossos estudantes recebem algum tipo de bolsa, financiamento ou incentivo.
Inclusão
Nós precisamos incluir mais. Nós criamos agora, para esses 75 anos, uma bolsa em todos os cursos, inclusive no de Medicina, para pretos, pardos e indígenas. E totalmente gratuita: eles não pagam nada para estudar e recebem amparo. Vai ter uma segunda edição, em janeiro. Mas esse é um programa restrito aos 75 anos. Nós dificilmente vamos conseguir manter isso, porque são investimentos. Depois, vamos estudar essa continuidade. Eu adianto isso para não criar uma expectativa.
Percursos formativos
Em 2017, nós iniciamos um projeto muito importante na PUCRS, que chamávamos de percursos formativos. Todo estudante da PUCRS recebe uma formação complementar. Quando a gente vai fazer um curso, recebemos um núcleo curricular duro. Para ser jornalista, eu preciso disso aqui, por exemplo. Mas, por exemplo, se você quer ser especialista em jornalismo esportivo, você recebe uma formação adicional ligada a essa área de esportes. Em geral, um percurso formativo equivale a 12 a 16 créditos, que permitirão uma certificação adicional. Essa flexibilização tem acontecido no Ensino Superior no mundo, e eu acho isso fantástico. Eu estudei Filosofia, Teologia e Direito, e trabalhei em Teatro há muito tempo. Agora, terminei minha formação em Psicanálise. A universidade é algo fantástico nesse sentido.
Cidade universitária
Cada vez mais, eu entendo que a PUCRS tem que ser menos uma universidade dentro da cidade, e mais uma cidade universitária. Nós temos um campus avançado, há mais de 40 anos, ali na Vila Fátima, onde atendemos toda a população. Todas as escolas estão envolvidas em algum projeto social. O curso de Odontologia oferece em torno de 2,4 mil atendimentos, o Sajug (Serviço de Assistência Jurídica Gratuita), a Psicologia, enfim. É uma universidade muito inserida na comunidade e buscando, pelos seus projetos de pesquisa, discutir os problemas reais da sociedade. Eu espero anunciar, já no início do próximo ano, projetos que serão altamente estruturantes, principalmente para a região da Zona Leste. O campus da Saúde tem um novo empreendimento imobiliário, um hotel que está sendo trabalhado. Cada vez mais, a universidade tem que oferecer que você consiga fazer toda a tua experiência sem precisar sair daqui.