João Pedro dos Santos Hartmann, 16 anos, e Marco Antônio Conde, 15 anos, desembarcaram na última segunda-feira (18) no Aeroporto Salgado Filho, trazendo medalhas na bagagem. Eles foram os únicos brasileiros entre os 69 projetos finalistas da World Innovative Science Project Olympiad (Wispo) 2023. O trabalho analisa como aceleradores de partículas podem ser utilizados no tratamento do câncer, e garantiu o ouro na competição.
Os dois são alunos do Colégio Farroupilha, e estão concluindo o 1º ano do Ensino Médio. Essa foi a primeira participação da dupla em um evento internacional. Eles contam que a meta, agora, é desenvolver ainda mais a pesquisa e marcar presença em diversas feiras e mostras científicas.
— Queremos fazer pesquisas mais aprofundadas, abordar temáticas pertinentes para a sociedade e ir a mais eventos assim para compartilhar nossas descobertas. Tinha pessoas de todo o mundo na feira, foi uma experiência muito interessante, repleta de trocas culturais. Foi legal ver os outros projetos e como eles podem ajudar na nossa pesquisa — relata Conde.
Eles passaram três dias em Bandung, na Indonésia, sendo que a viagem foi custeada pelo Farroupilha. Os jovens conquistaram o ouro na categoria Ciências e Matemática no evento, que foi realizado entre 14 e 17 de dezembro e contou com a presença do Ministro da Educação da Indonésia. Todas as atividades e apresentações foram realizadas em língua inglesa.
Os alunos partiram para a aventura acompanhados do professor de Física, Gentil Bruscato.
— O projeto mostra como a evolução tecnológica pode nos ajudar a curar muitas doenças, a melhorar a condição de vida de pessoas que estão acometidas de câncer e como essas tecnologias precisam ser ainda mais utilizadas aqui no Brasil — destaca.
Ele ressalta a importância de três pilares para garantir o sucesso dos estudantes: o apoio da família, a escola e o trabalho duro dos alunos.
Quem orientou a dupla desde o início foi a professora da disciplina de Iniciação Científica, Alessandra Rosa. O trabalho também ganhou o voto popular e quarto lugar na categoria Ciências Planetárias, Terrestres e Matemática e Física na MostraTec 2023, realizada em novembro, em Novo Hamburgo. Na ocasião, os estudantes receberam um convite para continuar o desenvolvimento da pesquisa no Insper, em São Paulo.
Descobertas dos alunos
Conforme estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) divulgada no ano passado, até 2025, o Brasil deve registrar mais de 2 milhões de novos casos de cânceres. Os cinco tipos mais comuns são: mama, pulmão, colorretal, próstata e pele.
Os estudantes contam que uniram interesses para desenvolver o projeto. Conde quer estudar Medicina na faculdade e tinha vontade de estudar sobre questões ligadas à saúde e tratamento oncológico. Já Hartmann, que é fã de física e pensa em cursar Engenharia Mecânica, lidou diretamente com os aceleradores – aparelhos capazes de acelerar partículas subatômicas quase na velocidade da luz.
A partir de revisão bibliográfica e de conversas com especialistas, realizadas desde o ano passado, a dupla desenvolveu um protótipo que simula o que acontece dentro de aceleradores de partículas lineares, de modo a facilitar o entendimento sobre o processo. Ao final, o estudo concluiu que o tratamento que utiliza esta tecnologia tem menos risco de atingir outros órgãos em relação ao método quimioterápico.
— Nosso projeto foi importante para compartilhar esse tipo de conhecimento, para mostrar às pessoas que isso existe. Esse tipo de tratamento ainda é pouco conhecido pela população. E há muito o que pesquisar sobre a contribuição dos aceleradores de partículas no tratamento do câncer, é um tema que precisa ser mais explorado — diz João Pedro.
O estudo evidenciou que a nanotecnologia desses equipamentos é mais precisa para o tratamento da doença porque atinge somente a região afetada. Essa alternativa diminui o risco de efeitos colaterais e minimiza os danos em órgãos saudáveis do corpo humano, resultando em um tratamento menos agressivo. O método também é chamado de hadronterapia e é semelhante à radioterapia, mas a radiação emitida usa feixes de prótons ou íons acelerados para tratar os tumores.