Todo mundo, em algum momento da vida, já postergou uma tarefa importante no trabalho ou em casa sem um bom motivo. Adiar a conclusão de demandas e ocupar o tempo com outras atividades são comportamentos típicos de quem procrastina. Vários aspectos podem estar por trás desse hábito de atrasar afazeres, como perfeccionismo, desânimo e insegurança. A consequência é o impacto na vida pessoal e profissional.
Conforme especialistas, procrastinar geralmente está ligado à saúde mental e tem relação com tarefas que o indivíduo considera difíceis de lidar, que deseja evitar ou que podem desencadear alguma emoção negativa, resultando em uma sensação de falta de controle. Em alguns níveis, a procrastinação pode, até, comprometer toda a rotina.
— Muitas vezes as pessoas enxergam a questão da procrastinação como preguiça ou falta de interesse, mas é preciso identificar por que isso está ocorrendo, pois existem vários aspectos. E varia de acordo com a individualidade de cada sujeito — avalia a psicóloga Ana Cecília Petersen, que é consultora do PUCRS Carreiras.
Ela explica que a falta de motivação e o perfeccionismo podem gerar prejuízos no dia a dia, afetando o desempenho profissional.
— A pessoa pensa que está em um trabalho que não faz mais sentido, o que gera ausência de interesse e de significado da atividade. E isso pode levar à procrastinação, uma vez que ela não se sente exatamente qualificada para o trabalho que está exercendo. A falta de recursos e de habilidades também pode fazer com que de fato uma pessoa procrastine, ao invés de enfrentar essa situação — destaca.
A especialista reforça que pessoas que se cobram muito no trabalho e aquelas que têm medo de não atingir as expectativas, sejam as próprias ou a dos outros, também procrastinam para evitar esses confrontos. Mau gerenciamento do tempo e dificuldade para planejar as tarefas diárias contribuem para a queda da produtividade.
— Isso pode gerar prejuízo no desenvolvimento da carreira do profissional, principalmente por uma questão de perda de prazos no trabalho. O mais impactante é a forma como afeta a reputação desse profissional que atrasa projetos, por exemplo, pois as pessoas acabam não confiando no profissional exatamente pela forma que ele se comporta — completa.
Metas no curto prazo
Para quem tem o hábito de adiar a realização de tarefas, Ana Cecília recomenda avaliar o método de trabalho, definir metas claras e objetivos específicos de curto prazo. Uma das alternativas é a utilização do Método Pomodoro, que consiste no gerenciamento do tempo baseado em períodos de 25 minutos de trabalho ou estudo focado, com intervalos de cinco minutos, evitando distrações, como o uso de redes sociais.
— Sempre que converso com profissionais, sugiro que trabalhem com recompensa. Por exemplo, depois de concluir uma atividade, o que é muito desafiador, qual recompensa posso ter diante disso? É um incentivo para se manter produtivo. Compartilhar minhas metas com meu líder ou com um colega de confiança também cria um senso de responsabilidade com a pessoa. Isso ajuda nesse processo — sustenta.
Não tem uma fórmula. Para cada pessoa funciona de um jeito. É importante descobrir as estratégias que funcionam melhor com ela, porque a procrastinação tem a ver com estratégia de regulação emocional.
ANA CRISTINA GARCIA DIAS
Coordenadora do Núcleo de Pesquisas e Intervenções Cognitivo-Comportamentais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Coordenadora do Núcleo de Pesquisas e Intervenções Cognitivo-Comportamentais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Ana Cristina Garcia Dias reforça a dimensão da saúde mental nas diferentes definições de procrastinar.
— Basicamente consiste em deixar algo para depois, algo que poderia estar fazendo agora e que pode gerar algum prejuízo, tanto profissional como pessoal — resume Ana Cristina, que também é professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRGS.
Ela avalia que a procrastinação tem um lado positivo, porque é uma das estratégias para lidar com situações difíceis. No entanto, isso se torna um problema quando a pessoa só utiliza esse recurso.
— No dia a dia é comum a gente não querer fazer algo naquele momento, mas o problema é que vai se deixando sempre para outro momento e não se consegue realizar ou enfrentar aquela situação difícil que isso gera. Esse atraso pode gerar algum prejuízo ou não, vai depender do contexto. Geralmente alguém procrastina porque pode considerar algo mais atrativo, prazeroso, do que aquilo que tem que fazer naquele momento — pontua.
Na vida pessoal, ela diz que a procrastinação pode se revelar no adiamento do fim de um relacionamento.
— Terminar com o namorado ou namorada é uma coisa chata de fazer. É mais fácil adiar isso até aquele momento em que não tem mais o que fazer — compara.
Na vida acadêmica, por exemplo, Ana Cecília afirma que é importante adotar uma estratégia de gestão do tempo para o cumprimento de trabalhos no prazo estipulado. Ela observa que o Método Pomodoro e outras ferramentas podem ajudar a encarar tarefas que o indivíduo considera menos prazerosas. A ideia é pegar uma atividade complexa e dividir em atividades menores.
— Não tem uma fórmula. Para cada pessoa funciona de um jeito. É importante descobrir as estratégias que funcionam melhor com ela, porque a procrastinação tem a ver com estratégia de regulação emocional, que é esse enfrentamento para lidar com algo que não é prazeroso — explica.