Confesso que procrastinei. A coluna desta semana foi escrita no último minutinho do segundo tempo, deixei para depois, levei até o último instante possível. Procrastinar (do latim "pro", que significa "para", e "cras", que significa "amanhã") é a palavra que em partes explica porque, muitas vezes, não conseguimos fazer o que queremos.
Planejamos fazer exercícios com regularidade, mas achamos um motivo para passar o dia inteiro sentados em frente à televisão. Juramos que vamos fazer dieta, mas não resistimos à sobremesa. Prometemos fazer exames de colesterol e depois cancelamos a consulta marcada.
Quanto perdemos quando nossos impulsos momentâneos nos desviam de nossas metas de longo prazo?
Trocar os objetivos de longo prazo pela gratificação imediata também é procrastinação. Conseguir resistir à tentação e manter o autocontrole são metas humanas em geral, mas deixar de alcançar justamente essas metas várias vezes é uma das principais fontes de infelicidade para muitos de nós. A raiz da questão está na luta pelo controle daquilo que está a nossa volta, de conseguir manter o foco no longo prazo em vez da gratificação imediata.
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O tema da “enrolação” é tão interessante que levou o professor de psicologia e economia comportamental Dan Ariely a realizar um experimento com alunos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Ele escolheu três das turmas em que dava aula no MIT e combinou diferentes prazos para a entrega dos trabalhos exigidos.
Na primeira classe, cada aluno entregaria os trabalhos no prazo que quisesse durante o trimestre.
Na segunda turma, os estudantes poderiam escolher a data de entrega, mas depois de decidida a data ela deveria ser respeitada. Na terceira, as datas de entrega do trabalho foram definidas pelo próprio professor.
O resultado é que os alunos da primeira classe que escolheram suas próprias datas de entrega ficaram no meio entre os piores e melhores da classe. Os da segunda classe que não tinha nenhuma data estabelecida para entregar os trabalhos ficaram com a pior média. E os da terceira classe, que tiveram as datas definidas pelo professor com prazo rígido de entrega, conseguiram as melhores notas.
Em resumo, o resultado nos mostra que os que deixaram para a última hora tiveram pior desempenho do que aqueles que criaram prazos limites para entregar a própria atividade. Uma das maiores revelações do experimento é que simplesmente oferecer aos alunos uma ferramenta com que se comprometeriam com prazos os ajudou a melhorar as notas.
O interessante é que os resultados indicavam que embora quase todos nós tenhamos a tendência a procrastinar, aqueles que admitem a fraqueza estão em melhor situação para usar as ferramentas do compromisso precoce para conseguir superar a dificuldade. Em outras palavras, a chave para melhorar resultados pode estar no que chamamos de pré-compromisso. Estabeleça seus prazos e continue tentando manter o autocontrole. Essa é uma luta de todos nós. A grande diferença nos resultados surge a partir do que você faz com o tropeço no meio do caminho. Muita gente desiste depois de uma derrapada. Então, siga adiante, tentando dia após dia ser melhor naquilo que se propõe a fazer.
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