A Universidade de São Paulo (USP), mais conceituada instituição de ensino do país, aprovou na segunda-feira (22), cotas para pretos, pardos e indígenas em seus concursos públicos para professores e servidores técnicos administrativos. As próximas seleções deverão separar 20% da vagas para esse público. Atualmente, a USP tem 119 docentes pretos e pardos e um indígena em um total de 5 mil.
— Quando as pesquisas são feitas por um grupo muito homogêneo de pessoas, ficam limitadas aos temas que importam a elas. Com diversidade maior, amplia seus horizontes, suas perguntas e fica mais próximo da sociedade — disse ao Estadão o reitor da USP, Gilberto Carlotti Junior, sobre a medida.
A intenção é, segundo ele, ter "mais qualidade nas pesquisas". Além disso, diz, a universidade pretende tentar refletir a diversidade dos alunos entre professores e técnicos. A USP tem cerca de 45% de seus estudantes autodeclarados pretos, pardos e indígenas, por causa de um programa de cotas.
— Não vamos conseguir faze isso do dia para noite, como conseguimos aumentar com os alunos, porque o professor fica 30, 40 anos na universidade, mas vai mudando a situação — completou.
Segundo o reitor, a USP vai abrir cerca 500 vagas até 2025 para professores. Com as cotas, o número de docentes pretos, pardos e indígenas deve dobrar, com mais cerca de 100 contratados. O índice de 20% será aplicado para concursos que tiverem mais de 3 vagas abertas. No caso em que houver menos, o que é comum, a universidade vai usar a chamada pontuação diferenciada, que está estabelecida em decreto estadual. Ela leva em conta a pontuação média dos candidatos em concorrência e a dos pretos, pardos e indígenas — depois dá uma bonificação para o segundo grupo. A autodeclaração como preto ou pardo feita pelo candidato vai estar sujeita a confirmação de uma banca de heteroidentificação.
A USP já havia sido questionada três vezes na Justiça, com concursos paralisados, por não estipular cotas para pretos, pardos e indígenas, já que uma lei estadual estabelecia a obrigatoriedade. A política afirmativa para selecionar professores, no entanto, já era um meta de Carlotti Junior desde que venceu as eleições, como adiantou ao Estadão em dezembro de 2021.
— Se não fizermos de maneira induzida, vai demorar dezenas de anos para ter maior diversidade na universidade — afirmou.
Recentemente, a instituição lançou também uma bolsa de pós doutorado, de R$ 8 mil, para pesquisadores negros e criou uma lista de docentes pretos que poderão ser chamados para compor bancas de seleção de professores. Cerca de mil profissionais se candidataram para as 50 vagas para pós-doutor, segundo o reitor.
Em abril, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) aprovou uma meta de ter 37% de seus professores negros em seis anos. Atualmente esse índice é de 5,34%. Para isso, os próximos concursos, a partir do segundo semestre deste ano, vão apenas selecionar docentes pretos e pardos.
As universidades federais também precisam seguir lei para concursos da União, que estabelece 20% das vagas para pretos, pardos e indígenas, mas há disputas na Justiça para que ela seja cumprida efetivamente. Nos últimos anos no país, e depois da lei da cotas aprovada em 2012, aumentou o número de instituições com políticas afirmativas no ingresso de alunos. Mas o mesmo não ocorreu entre funcionários e professores.