O violino de Florencia Papanicolau, 15 anos, tinha recém descansado suas cordas quando a artista e estudante do nono ano do Ensino Fundamental do Colégio Rosário deixou o palco para cair nos braços da plateia emocionada. Ela e duas dezenas de outros músicos mirins, uniformizados e ensaiados uma vez por semana como a Orquestra Rosariense, tinham acabado de performar quase uma hora de clássicos e sucessos da atualidade. O espetáculo foi montado para a Mostra de Arte Marista, um dos quatro eventos envolvendo 34 escolas Maristas, que lotaram o campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) nesta sexta (21) e no sábado (22).
— Nossa família respira arte. O principal motivo de termos escolhido o Rosário foi a orquestra — comenta Maria Alice, mãe de Florencia, enquanto a avó Ema, 92 anos, filha de uruguaios, dançarina de tango nas horas vagas e poeta desde o confinamento da pandemia de covid-19, elogia a neta:
— Adoro ouvir ela tocar, é estudiosa, dedicada, e está sempre com o violino. É uma neta perfeita!
Florencia gosta de música clássica, mas também se diverte tocando sucessos atuais em adaptações para as quatro cordas do violino. Além dos ensaios na escola, faz aula particular e toca por lazer diariamente. Ela aprendeu a tocar aos sete anos, quando ainda morava nos Estados Unidos com a família, que é natural de Porto Alegre. Desde agosto, ela é parte da orquestra de estudantes.
— Fiz muitos amigos na orquestra, foi importante na minha adaptação ao colégio e ensinou novas músicas brasileiras que eu nem conhecia — conta Florencia, que também toca piano.
Cerca de três horas depois de ela deslizar suavemente o arco de fibras delicadas sobre as cordas de sons refinados, outra iniciativa Marista levou ao mesmo palco a arte da percussão. Crianças e adolescentes entre seis e 14 anos do bairro Mario Quintana, zona norte da Capital, desfilaram seus tambores, bumbos, repiques e tantans. Com batidas ritmadas, fizeram o repórter questionar o isolamento acústico do pavilhão de eventos do prédio 41 e mostraram o resultado de uma das 10 oficinas oferecidas pelo Centro Social Marista (Cesmar).
Além deles, outra centena de jovens de uma das comunidades mais afastadas do Centro de Porto Alegre encontram atividades no contraturno da escola. Lá, eles aprendem, sem custos, dança e cultura gaúcha, informática, oficinas de literatura, iniciação científica, robótica, prática esportiva e idiomas estrangeiros, além de reforço escolar em português e matemática.
— Fazemos um trabalho muito completo que atende filhos e filhas de várias comunidades vizinhas. Fazemos a alegria deles e eles também fazem a nossa — conta Lucia Teodoro, que dividia a responsabilidade pela turma que se apresentou no palco da mostra artística com a pedagoga e educadora religiosa Olga Chelkanoff.
— São jovens e músicos extraordinários, temos muito orgulho deles e dos colegas que fazem bonito também na robótica e na iniciação científica — complementou Olga, apontando para o restante do saguão.
Muito além dos projetos que simulavam vulcões ou plantavam brotos de feijão em algodão, a Mostra Científica que acontece desde 2016 neste formato atual provoca alunos do Ensino Fundamental e Médio a desenvolverem soluções empreendedoras para questões contemporâneas da ciência. Com o tema Ciências Básicas no Cotidiano, cada faixa etária cria projetos para o Desafio de Robôs, Desafio de Drones a Cidade Laboratório e uma incubadora de ideias, que simula o ambiente inovador encontrado em startups profissionais.
No pavilhão ao lado, drones voavam em um cenário que simulava uma floresta que sofre com o desmatamento. Sensores reconheciam as diferenças na tonalidade e volume de materiais no chão, em uma maquete gigante em que as crianças que pilotavam as naves pareciam gigantes. Engenhocas de cano, madeira ou qualquer outro material ganhavam vida ao receberem os componentes elétricos certos e a programação com comandos adequados, em outra modalidade do desafio de robótica promovido pela congregação Marista desde 2008.
O dia apelidado de “4 em 1” ainda contava com uma feira científica para a Educação Infantil, mostra de pinturas, fotografias e colagens feitas pelos alunos, e um ciclo de debates no formato de assembleia das nações unidas, protagonizado pelos estudantes do Ensino Médio. Com roupas e ritos que simulam uma assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU), são debatidos em grupos com os temas do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa), do Conselho dos Direitos Humanos, Conselho de Segurança (Crise dos Mísseis de 1962) e Ondas de Calor na Europa e no mundo.
— Como o objetivo dos debatedores é encontrar soluções para diversas problemáticas que são propostas ao longo do evento, a iniciativa também auxilia a impulsionar e acolher a diversidade de opiniões em diferentes espaços de diálogo — pondera o assessor de Ciências Humanas da Rede Marista e um dos responsáveis pelo evento, Lucas Ribeiro.