O preconceito com base em estereótipos acerca dos mais velhos, chamado de “etarismo” vai contra o Estatuto da Pessoa Idosa (EPI), segundo o qual são vedadas a discriminação e a fixação de limite máximo de idade em ambiente profissional. Todavia, o mercado de trabalho, é farto em relatos de quem não consegue uma colocação, apesar do conhecimento e da experiência, apenas por ter mais de 50 anos. GZH conversou com gestores e especialistas a respeito das dificuldades desse público no mercado de trabalho e de como as empresas precisarão se adaptar às mudanças vindas com o envelhecimento da população brasileira.
Para realocar profissionais maduros, a Maturi surgiu em 2015 como uma empresa que conecta idosos em busca de emprego a firmas interessadas em recrutá-los. Há cerca de 200 mil cadastrados e mais de 6 mil conseguiram trabalho. O fundador e CEO, Mórris Litvak, diz que o empresariado brasileiro é preconceituoso com idosos, sob o estereótipo de que são lentos e desatualizados. Mas Litvak ressalta que trabalhadores prateados são resilientes, trabalham bem sob pressão e detêm grande conhecimento e inteligência pessoal.
— O Brasil está não só envelhecendo, mas tendo menos filhos. Haverá menos jovens no mercado de trabalho. Isso precisa mudar senão as empresas ficarão sem mão de obra. Esse tema interessa a todos porque todos envelheceremos. Jovens um dia chegarão lá. Se não abraçarem essa causa, sofrerão preconceito etário quando forem mais velhos – diz o CEO da Maturi.
A preocupação em manter trabalhadores mais velhos em seus quadros ainda está restrita, no Brasil, às multinacionais ou grandes companhias, mais atentas à importância da diversidade. Empresas com PepsiCo, GOL, Vivo e Unilever mantêm programas específicos para atrair profissionais prateados, sob o argumento de que querem refletir a sociedade brasileira e atender aos anseios do consumidor.
Desde 2016, quando criou o programa Golden Years, a PepsiCo treina gestores e equipes sobre as vantagens de trabalhar com mais velhos. Com o programa, a empresa contratou mais de 400 funcionários com 50 anos ou mais. Dos 12 mil profissionais da PepsiCo, 1.050 (8,75%) são prateados. Estão em posições qualificadas, como diretores, analistas de compras e gerente de tecnologia, assim como funções que requerem menos estudo, como vendedor e operador em fábrica.
É mentira que profissionais com mais de 50 não seguem aprendendo, assim como é mentira que não se adaptam a ferramentas de computador. E eles têm papel informal de aconselhar os mais jovens. Ao progredirem de carreira, servem como exemplo.
FABIO BARBAGLI
Vice-presidente de recursos humanos da PepisCo
O vice-presidente de recursos humanos da PepisCo, Fabio Barbagli, cita a dedicação, a grande bagagem de vida e a diversidade de pontos de vista dos mais velhos, que ajudam a trazer novas soluções de negócio. Mas ele traz também estatísticas de produtividade: em comparação aos mais jovens, funcionários seniores faltam 30% menos ao trabalho, se demitem 50% menos e demonstram três pontos percentuais a mais de engajamento com a empresa. São sintomas de uma geração que prefere a estabilidade de seguir carreira em uma mesma companhia.
— Identificamos lá atrás que a população brasileira vinha envelhecendo e que nosso quadro de funcionários não seguia esse ritmo. Para refletir a sociedade em nosso quadro, criamos o programa para acelerar a contratação de pessoas 50+. Diversidade, equidade e inclusão são nossos valores. Um profissional com 50 anos ou mais tem experiências de vida que um “30 menos” não tem. É mentira que profissionais com mais de 50 não seguem aprendendo, assim como é mentira que não se adaptam a ferramentas de computador. E eles têm papel informal de aconselhar os mais jovens. Ao progredirem de carreira, servem como exemplo — diz o vice-presidente de RH da Pepsico.
Leia as outras partes desta reportagem:
Primeira parte: Preconceito contra profissionais com mais de 50 anos é realidade, mas funcionários seniores serão fundamentais no futuro
Segunda parte: Profissionais com mais de 50 anos em funções que exigem menos formação também sentem preconceito pela idade
Servir de exemplo é algo valioso para a moral das equipes, dizem especialistas. Colaboradores jovens, ao verem colegas mais velhos sendo valorizados, motivam-se a contribuir para a empresa – afinal, um dia chegarão lá. Todavia, se apenas veem colegas jovens ao olhar para o lado, entendem que, no futuro, não terão lugar na companhia.
— Pessoas mais velhas, por terem diversas experiências, encontram diferentes formas de endereçar problemas e servem de modelo aos jovens. Ouvir a trajetória de alguém que trabalhou anos num setor é ouvir como essa pessoa enfrentou diferentes problemas. Além disso, ter uma pessoa experiente ao lado mostra ao jovem que é possível permanecer muito tempo na empresa se desejar — diz a psicóloga Manoela Ziebell, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUCRS e vice-presidente da Associação Brasileira de Orientação Profissional.
Barbagli, vice-presidente de RH da PepisCo, explica que a empresa busca seniores com conhecimento sólido, abertura de espírito, vontade de seguir em desenvolvimento e sem preconceitos – afinal, será necessário conviver com gerações mais novas.
— Recentemente, tivemos um diretor-sênior promovido a vice-presidente. É uma mensagem forte para os funcionários: todos e todas têm capacidade e condições de seguir crescendo. Com equipe mais diversa, há diferentes pontos de vista, então geramos melhores adaptações para nossos clientes — acrescenta Barbagli.
O programa para trabalhadores com 50 anos ou mais da GOL, Experiência na Bagagem, é premissa em todos os processos seletivos. De acordo com Felipe Sobrinho, gerente de ESG da companhia aérea, 15% dos profissionais da empresa têm essa faixa etária:
— Estamos aprendendo sobre o tema com o movimento do mercado e com nossas experiências. Com base na premissa de que a GOL é uma empresa para todos, o plano é termos ações que nos tornem uma empresa cada vez mais inclusiva.