Projetos nas mais diversas áreas estão sendo apresentados nesta quarta (5) e quinta-feira (6) na Mostra Sesi Com@Ciência, realizada no Centro de Eventos da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre. Um dos destaques é a presença de grupos de meninas, que buscam solucionar problemas cotidianos na vida das mulheres.
Sob a orientação da professora de Química Eduarda Fehlberg, as estudantes Caroline Costa, Alanna Chaves e Gabriela Pacheco dos Santos, da Escola Sesi de Ensino Médio Arthur Aluízio Daudt, de Sapucaia do Sul, tiveram a ideia de criar um absorvente sustentável a partir de um desafio em sala de aula em que os alunos precisavam pensar em projetos de impacto ambiental. As adolescentes se inspiraram em uma reportagem do programa Fantástico, que falava sobre pobreza menstrual.
— Isso gerou um sentimento de empatia na gente, e resolvemos pesquisar mais sobre o assunto. A gente achou alguns dados que indicavam que 23% das meninas de 15 a 17 anos não tinham condições de pagar por produtos usados durante o ciclo menstrual. Infelizmente, é uma realidade vivenciada por meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias — relata Caroline.
A ideia do quarteto foi criar um absorvente descartável que agrida o mínimo possível o meio ambiente, tanto na produção quanto no descarte, e que fosse de baixo custo. No público-alvo, elas incluíram também pessoas que vivem em casas prisionais, pois identificaram que muitas recorrem a métodos não higiênicos durante a menstruação, como o uso de miolos de pão, cascas de banana e jornais, o que pode gerar alergias, irritações e doenças inflamatórias.
As estudantes entrevistaram advogadas, dermatologistas e ginecologistas para encontrar soluções sustentáveis e que pudessem chegar até casas prisionais. A partir disso, testaram algumas fibras, entre elas a existente na folha de bananeira e a bucha vegetal. O material é coberto por um bioplástico feito à base de amido de milho e por um tecido feito de retalhos que sobram na indústria têxtil.
— Em muitas dessas grandes empresas, depois que confeccionam a roupa, depois de usar os moldes, sobra muito retalho, e esses retalhos geralmente não têm o descarte correto. Então, a nossa ideia é dar um destino correto pra esses retalhos de tecido. A ideia é que fazer o absorvente com tecido 100% de algodão, porque é mais fácil de se degradar no meio ambiente — explica Alanna.
Segundo a professora Eduarda, as jovens foram provocadas a trabalhar com questões de impacto ambiental, mas a vontade de atuar em algo que tivesse impacto social foi genuína delas. O trabalho faz parte da proposta da escola de que, no final do Ensino Médio, os estudantes proponham uma intervenção que inclua a rota de aprendizagem deles ao longo da etapa.
— Elas pensaram na rota social e na rota ambiental e juntaram. Nossas aulas sempre têm foco em situações e problemas reais. Se estamos estudando a poluição do Rio dos Sinos, por exemplo, buscamos formas de minimizar aquela poluição, por meio da química — exemplifica a docente.
Nos testes das alunas, a percepção do grupo foi de que a bucha vegetal possui uma absorção melhor e poderia ser utilizada em momentos de fluxo intenso do ciclo menstrual. Já a fibra das folhas de bananeira poderia ser usada no final do ciclo. Elas ainda não têm um preço estabelecido para o produto, mas esperam que seja mais barato do que o convencional, para que seja distribuído, por exemplo, por prefeituras e unidades de saúde.
No total, 175 projetos de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e do Ensino Médio estão sendo expostos entre esta quarta e a quinta-feira no Centro de Eventos da Fiergs.
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