Por Jackson Fernandes
Gerente executivo de tecnologia e inovação da +A Educação
Pedro Valério
Diretor executivo do Instituto Caldeira
Com a premissa de conhecer a cultura e como se organizam as bigtechs globais, principalmente na área da educação, um grupo de executivos realizou uma missão gaúcha ao Vale do Silício, na Califórnia (EUA). Google, IBM, Zendesk, Amazon, Salesforce e as aceleradoras One Valley e Plug and Play, que estão entre as maiores empresas de tecnologia do mundo, inspiraram os visitantes sobre as principais práticas de inovação que podem ser trazidas para a região.
O movimento compõe uma série de visitas nacionais e internacionais a polos tecnológicos, aproximando empresários e empreendedores e oferecendo insights para que as empresas do Rio Grande do Sul sejam mais competitivas. A iniciativa é do Instituto Caldeira, entidade sem fins lucrativos de fomento ao ecossistema de inovação do Estado, da qual a +A Educação, maior edtech para Ensino Superior e profissional da América Latina, faz parte como empresa fundadora.
A visita permitiu entender para onde as empresas do Vale estão olhando e o que valorizam, sobretudo no que diz respeito ao foco na experiência do cliente, à segurança da informação e à cultura horizontal, às soft skills de liderança, a assumir riscos e, por fim, à web3. Além da abundância de investimentos do Vale, observamos o foco absoluto na experiência do cliente, com a intenção genuína de identificar as suas dores, o que torna o polo tecnológico tão pujante na criação de novos negócios. O foco em times menores, com reforço da cultura horizontal e avaliação da capacidade cognitiva no recrutamento com match com a cultura organizacional, é crescente entre as bigtechs.
A denominada Missão Vale do Silício também visitou as universidades de Stanford e Berkeley, palco de formação de líderes globais e propulsoras de profissionais inovadores. Com atmosfera que valoriza e ambiciona estar efetivamente na liderança global da formação e fomentando a inovação, a visita reforçou o ciclo virtuoso da educação: da universidade que forma profissionais altamente competentes, que como consequência criam corporações que, por sua vez, precisam de mais pessoas qualificadas. Soft skills para a liderança também estão na mira das universidades da Califórnia, tendo como alvo formar o perfil de gestor facilitador, preocupado com o bem-estar das equipes, sem deixar de lado as habilidades técnicas.
A pandemia acelerou o desenvolvimento de tecnologias educacionais, explicitas no Vale e reproduzidas no Brasil, sobretudo com a explosão de startups adaptadas para atender às novas demandas. Nesse contexto, e com o crescimento da demanda por ensino híbrido, o desafio é proporcionar experiências integradas e imersivas, aliadas ao uso de tecnologias como realidade virtual e aumentada, por exemplo. Essa é uma das realidades já em uso na educação superior do Rio Grande do Sul, inclusive. No polo estadunidense de inovação, a tecnologia já está em estágio avançado e integrada com o metaverso.
Dessa forma, a sala de aula ganha o papel de facilitadora do aprendizado, não apenas centralizando o conhecimento, mas usando múltiplas plataformas para promover uma experiência completa. Os produtores de conteúdo começam a ter domínio autoral do trabalho que produzem na web, com o advento de NFTs e blockchain, e a novidade atingirá também a disseminação desses materiais, impactando a área educacional com a criação de plataformas e formatos disruptivos.
Isso leva ao seguinte ponto: a próxima revolução da internet, também conhecida como web3, se dará com a gestão descentralizada, trazendo ao usuário o controle sobre seu uso e melhorando a segurança de dados. Nesse contexto, espera-se também a descentralização do conhecimento com impacto na criação de novas instituições de ensino e cursos.
Outro ponto chave para a inovação é que o medo que existe hoje de perder posições operacionais para a inteligência artificial não fará mais sentido com a substituição dessas atividades por novos postos de trabalho relacionados à tecnologia.
O aprendizado que fica é que as mudanças tecnológicas que vêm por aí não esperam que os gestores se adaptem a elas. As empresas do Rio Grande do Sul precisam estar antenadas à tecnologia e à inovação para se adequarem à realidade em curso. A máxima de que bons produtos e serviços são criados com base em falhas reforça a importância de estimular a tomada de risco calculado. Inovar é investimento, não custo, e quem não entender isso estará fora do jogo, incluindo as instituições de ensino.