Negócios de impacto socioambiental têm como atividade principal beneficiar ou resolver um problema social e/ou ambiental, mas ainda assim geram lucro — o que também os diferencia das Organizações não Governamentais (ONGs). Para ser classificada desta forma, o modelo de negócio da empresa deve estar baseado nessa resolução, mas isso não significa que deve ter um foco maior no impacto gerado. GZH foi conferir alguns exemplos:
O amor de infância pela costura, uma demissão e o desejo de dar utilidade a tecidos descartados. Foi esse o combo que levou Morgana da Luz, 32 anos, a fundar sua marca de moda sustentável — Otilia e Cristina, em homenagem às suas avós. Em uma parte da casa onde mora desde criança, no bairro Santo Afonso, na periferia de Novo Hamburgo, ela produz bolsas, mochilas, pochetes e demais acessórios utilizando resíduo têxtil das indústrias da região, desde 2017.
— Os tecidos que chegam até mim são novos, só que, para a indústria, não tem como fazer uma coleção inteira. No ateliê, consigo fazer bolsas, mochilas e pochetes. Mas também utilizo os retalhos para fazer detalhes e não descartar nada. Essas empresas pagam para descartar, enterrar ou queimar, então contribuo para o desvio — explica Morgana.
Formada em Artes, a empreendedora costura desde que tinha cinco anos e teve contato com os primeiros tecidos antes mesmo de começar seu negócio na área da moda. Ao fazer uma especialização em Gestão Ambiental, passou a se interessar pelos resíduos têxteis, adquiriu uma máquina de costura melhor e, aos poucos, foi mudando sua produção. No final de 2016, Morgana foi demitida da escola onde dava aulas de artes — o que a impulsionou:
— Comecei a realmente olhar para o Otilia e Cristina como o meu trabalho e ver nele minha principal fonte de renda. Desde então, o ateliê é minha única renda e foi com ele que consegui ganhar alguns editais durante a pandemia.
O que é jornalismo de soluções?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
Grande parte dos materiais que Morgana utiliza em suas produções é doado. Alguns, como fechos, agulhas, linhas e jeans, ela compra em brechós ou em lojas do bairro.
O ateliê também serve como sede para eventos, oficinas e feiras. Ela disponibiliza o espaço para que empreendedoras parceiras da região vendam seus produtos artesanais sustentáveis, como shampoos e condicionadores em barras e absorventes de pano. Essa ação, afirma, é uma forma de oferecer a outras mulheres um apoio que não teve.
— Durante a pandemia, não tive nenhum perrengue, mas também não tive oportunidade. Entrava em contato com lojas colaborativas para vender meus produtos e não conseguia retorno. Aí surgiu a ideia de chamar outras mulheres para somar comigo, pensei: “eu tenho um espaço e um site, então vou oportunizar para outras o que eu não tive”. É engraçado que, quando chamei elas, parece que as portas foram se abrindo para mim. Então beneficia todas nós, é um conjunto — ressalta.
Os tecidos que chegam até mim são novos, só que, para a indústria, não tem como fazer uma coleção inteira. No ateliê, consigo fazer bolsas, mochilas e pochetes. Mas também utilizo os retalhos para fazer detalhes e não descartar nada.
MORGANA DA LUZ
Fundadora da marca de moda sustentável Otilia e Cristina,
Além disso, Morgana dá aulas de costura, com preços mais acessíveis, e abre o espaço para quem deseja promover outros cursos. Uma de suas ex-alunas, Nayane Diaz, 19 anos, aproveitou os ensinamentos para impulsionar seu próprio negócio: Obax Atelier, onde produz bonecas de pano negras. Com Morgana, a jovem moradora do bairro vizinho aprendeu a costurar na máquina — antes, o processo era feito à mão.
— Antes das aulas meu negócio estava engatinhando e foi como um impulso. Além de ser mais rápido costurar na máquina, ajuda bastante na qualidade dos produtos, porque os deixa mais resistentes. Então, agregou bastante valor — afirma Nayane.
Desde o início da pandemia, Morgana também tem promovido ações de arrecadação de alimentos, agasalhos e itens de higiene, que são destinados a pessoas em situação de vulnerabilidade do bairro. Ela ainda destina todos os meses 7% do valor das vendas para ONGs de cidades da Região Metropolitana.