Negócios de impacto socioambiental têm como atividade principal beneficiar ou resolver um problema social e/ou ambiental, mas ainda assim geram lucro — o que também os diferencia das Organizações não Governamentais (ONGs). Para ser classificada desta forma, o modelo de negócio da empresa deve estar baseado nessa resolução, mas isso não significa que deve ter um foco maior no impacto gerado. GZH foi conferir alguns exemplos:
Em 2012, Rodrigo Ramos, 38 anos, teve seu primeiro contato com uma usina de reciclagem, no bairro Floresta, em Porto Alegre. Foi a primeira oportunidade de emprego que surgiu após o cumprimento da pena de cinco anos e meio na Penitenciária Estadual do Jacuí. Depois de dois anos de trabalho, Rodrigo alugou um espaço no bairro Bom Jesus e começou seu próprio negócio, ao lado do irmão, Felipe Ramos.
O que é jornalismo de soluções?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
— Eu e meu irmão tivemos muita sorte de ter uma oportunidade de trabalho nesse meio da reciclagem. Não era aquilo que nós queríamos, mas foi o que nos foi oferecido e somos muito gratos por isso, porque da reciclagem surgiram grandes oportunidades para as nossas vidas e de outras pessoas — destaca Rodrigo, que depois de um tempo passou a entender também a importância do trabalho de reciclagem para o meio ambiente.
Não demorou muito para que se tornassem donos da usina e comprassem um segundo terreno, na Vila Farrapos. Com a expansão do empreendimento, contrataram funcionários, dando prioridade para quem, assim como eles, fosse egresso do sistema prisional.
Em 2018, Rodrigo recebeu um convite para dar aulas com a Agência Besouro e abraçou a nova oportunidade. Com a mudança, ele e o irmão decidiram alugar as usinas para dois funcionários que já trabalhavam nos locais e tinham experiência com reciclagem. Mas a ideia de dar oportunidades aos egressos seguiu como uma herança do negócio:
— O funcionário que alugou a usina da Vila Farrapos é egresso e deu continuidade ao trabalho de contratar essas pessoas. O da Bom Jesus também contrata quem passou pelo sistema penitenciário. Ambos abraçaram a ideia e até hoje mantemos isso. Eu sigo indicando pessoas para trabalhar lá com eles.
Desde que passou a atuar como educador social, Rodrigo trabalhou em diferentes instituições, ministrando palestras sobre sua experiência de vida por todo o Brasil, em escolas, empresas e presídios, de cidades como Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo.
Não era aquilo que nós queríamos, mas foi o que nos foi oferecido e somos muito gratos por isso, porque da reciclagem surgiram grandes oportunidades para as nossas vidas e de outras pessoas
RODRIGO RAMOS
Criador do projeto Reciclando Vidas
Além disso, tem um projeto sem fins lucrativos chamado Reciclando Vidas, que começou em 2019, com o objetivo de oferecer cursos de qualificação e preparar os egressos para o mercado de trabalho. Mas, com a pandemia, o foco foi alterado temporariamente para entregar cestas básicas e vale-gás em comunidades como Bom Jesus e Lomba do Pinheiro.
— Agora, queremos voltar ao foco inicial, que são os egressos. Também pretendemos ter funcionários, como assistentes sociais, psicólogos e advogados, que possam nos dar suporte. Sabemos o quanto é difícil para essas pessoas conseguirem um emprego, muitos querem e não conseguem, porque esbarram no preconceito, na falta de oportunidade — finaliza Rodrigo.