No Dia da Consciência Negra, lembrada no último sábado (20), a ação de um colégio particular no sul do Estado do Tocantins repercutiu mal nas redes sociais e motivou manifestações de repúdio de representantes de movimentos negros.
Em uma das fotos publicadas no Instagram, um aluno branco do Colégio Adventista de Gurupi aparece "caracterizado" como negro, com a pele pintada e usando uma peruca para simular um cabelo "black power", com a seguinte legenda: "E hoje nossos alunos vieram caracterizados, para comemorarmos este dia tão importante e para refletirmos o quanto Deus nos tornou irmãos e que perante Ele, somos todos iguais". A caracterização, no entanto, é considerada blackface, uma prática racista.
O blackface surgiu no século 19, nos Estados Unidos, como prática de atores do teatro que se pintavam com carvão para representar personagens afro-americanos,associando estereótipos negativos a elas. Isso acontecia porque os negros não podiam participar de manifestações artísticas. A prática se popularizou, tendo espaço no teatro europeu e até na televisão. Os negros eram retratados de maneira debochada e bastante exagerada. Por causa disso tudo, o blackface passou a ser visto como uma prática racista em vários países, incluindo o Brasil.
Ao G1, o Coletivo Nacional de Juventude Negra (Enegrecer) disse que "é inconcebível que uma escola que se propõe o papel de educar futuros cidadãos, se preste ao papel de expor e incitar crianças a discriminação ou preconceito de raça, cor".
Já o Coletivo Negro de Gurupi afirmou que a estratégia pedagógica usada pela escola foi inadequada e que a população negra não quer ser ridicularizada pelo tom de pele, cabelo e outros traços. "Não vamos aceitar atitudes que há muito tempo provocam ridicularização e rebaixamento."
Após a repercussão negativa, o colégio apagou a postagem original e publicou uma nota, na qual afirma que a atividade foi realizada com as turmas do 4º e 5º ano e "teve como objetivo valorizar a cultura negra e afrodescendente na escola e fora dela, assim como promover a reflexão e o resgate da identidade negra". O texto termina com um pedido de desculpas e o comprometimento do colégio em "proporcionar mais momentos com discussão sobre o tema".
Leia a nota do Colégio Adventista na íntegra:
A direção do Colégio Adventista de Gurupi esclarece que é contrário a todo e qualquer tipo de discriminação racial. O Colégio ressalta que o projeto pedagógico do Dia da Consciência Negra, realizado com as turmas do 4º e 5º ano, teve como objetivo valorizar a cultura negra e afrodescendente na escola e fora dela, assim como promover a reflexão e o resgate da identidade negra.
O Colégio incentivou os estudantes a celebrarem de forma livre esse importante dia com respeito e admiração pelas pessoas. Em nenhum momento, os estudantes foram pintados ou estimulados a pintarem o rosto.
O Colégio pede desculpas pela situação que se criou e se compromete a proporcionar mais momentos com discussão sobre o tema. Com isso, a ideia é contribuir para promoção de uma sociedade cada vez mais livre de preconceitos.