O Rio Grande do Sul completa, nesta quinta-feira (3), um mês do retorno das atividades presenciais na rede estadual de ensino. As salas de aula estão com número reduzido de alunos, e há uso de máscara e distanciamento entre as classes. A rotina do portão para dentro está completamente alterada: sem brincadeiras no recreio, janelas e portas sempre abertas para circulação do ar e o cumprimento das regras está sendo respeitado.
Conforme dados do governo do Estado, 20% dos alunos estão comparecendo ao ensino presencial — de um total de 800 mil matrículas. As aulas estão ocorrendo no modelo híbrido, com turmas presenciais e atividades remotas. A carga horária diária para o Ensino Fundamental é de três horas presenciais e uma hora remota. No Ensino Médio, são três horas presenciais e duas horas a distância.
A Escola Estadual de Educação Básica Gomes Carneiro, no bairro Vila Ipiranga, zona norte de Porto Alegre, dividiu as turmas pela metade e atende presencialmente em esquema de rodízio. Desde o retorno, nenhum caso de coronavírus foi relatado entre alunos e funcionários. A vice-diretora e orientadora educacional Ana Paula Peraldo Martins afirma que o primeiro mês foi de adaptações e redescobertas no ensino.
— As crianças estão entendendo bem esse momento. Muitos trazem curiosidades e dúvidas sobre a pandemia para dentro da sala de aula. De maneira geral, o primeiro mês foi satisfatório. Conseguimos organizar bem os espaços, os alunos estão felizes e os professores, principalmente da alfabetização, entendem que é melhor que eles estejam presentes para auxiliar nesse processo — conta.
A instituição colocou cartazes com orientações de prevenção à covid-19, bloqueou bancos nas áreas comuns e aumentou o espaçamento entre as carteiras. A professora Adriana Tricot leciona há cinco anos na instituição e atende os alunos do 2º ano do Ensino Fundamental. Dentro do esquema de rodízio, dos 26 matriculados, somente 11 alunos estavam na sala de aula:
— O retorno foi muito positivo, pois os alunos precisam desse contato com a professora. Alguns não tinham ajuda para fazer as tarefas em casa ou não tinham acesso à aula online. Agora facilitou. Eles começaram a despertar para a alfabetização, estão interessados e participando das atividades.
Mas a professora também cobra maior comprometimento das famílias, sobretudo em relação às condições de saúde das crianças.
— Tem pais mandando filho com febre ou doente. As crianças não conseguem estudar nessas condições. Verificamos a febre na entrada e tomamos todos os cuidados. Sabemos que existem famílias que precisam trabalhar e mandar o filho para a escola, mas doentes, não há condições — alerta Adriana.
Casos positivos
Desde 3 de maio, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) contabiliza a contaminação de 1.118 pessoas, entre professores, alunos e funcionários. Os dados foram computados pelas coordenadorias regionais e repassados à pasta estadual. O Cpers-Sindicato acredita que esse número possa ser ainda maior. Conforme dados coletados com 199 escolas, foram relatados 437 casos de covid-19 desde a retomada das atividades presenciais.
— Temos um número bastante significativo de contaminações a partir do levantamento feito pelo sindicato. Em relação às aulas presenciais, a maioria dos alunos ainda não voltou. Muitos pais continuam com seus filhos resguardados em casa, pois não se sentem confiantes em levar. Os protocolos, no papel, são maravilhosos. Mas, na realidade das escolas, é muito difícil aplicar — diz a presidente do Cpers, Helenir Schurer.
110 escolas fechadas
Dados da Seduc apontam que 2.267 escolas estaduais estão funcionando no Estado — 1.727 recebendo alunos e 540 em regime de plantão. Outras 110 permanecem fechadas, por motivos como falta de pessoal, de estrutura e obras paradas.
As escolas precisam montar um Centro de Operação de Emergência em Saúde para a Educação (COE-E) para voltar a receber os alunos. O COE-E deve ser formado, no mínimo, por três membros: um representante da direção, um da comunidade escolar e outro da higienização. Eles são responsáveis por medidas de prevenção, monitoramento e controle do coronavírus.
A Escola Estadual de Ensino Médio Itália, no bairro Jardim Itú-Sabará, na zona norte da Capital, é uma que não voltou a receber alunos presencialmente. A instituição atende alunos presencialmente para a entrega de materiais aos que não têm acesso às atividades remotas. No entanto, os plantões precisaram ser suspensos na última semana após dois casos positivos de coronavírus.
— Não temos o COE-E publicado no Diário Oficial do Estado. Além disso, faltam servidores na área da limpeza. Desde fevereiro de 2020, antes da pandemia, a escola solicitou quatro servidores, e tínhamos somente um — conta a diretora Sabrina Silveira.
Vacinação
A confirmação da vacinação contra o coronavírus para os profissionais da educação em todo o Estado a partir desta semana foi motivo de comemoração. A inclusão nos grupos prioritários era uma demanda da categoria desde o início da imunização.
— Estamos todos ansiosos para tentar voltar a uma espécie de normalidade. Ficamos muito felizes com esse anúncio, deu uma paz no coração. Precisamos seguir trabalhando no crescimento do aluno, mas pensando sempre no bem-estar de todos — diz a professora Ana Paula Peraldo Martins.
A medida foi possibilitada pela divulgação de uma nota técnica do Ministério da Saúde com alterações na estratégia nacional de imunização. O documento antecipou o atendimento dos professores dentro dos grupos prioritários e também autorizou que as doses também sejam oferecidas à população em geral, mesmo sem se encaixar em qualquer critério de prioridade, por ordem decrescente de idade a partir de 59 anos.
— Os próximos meses vão depender muito de como a pandemia irá se comportar no Estado e do avanço da vacinação. Lembrando que é preciso completar o ciclo da vacina com a segunda dose. Acredito que vai levar um tempo até isso tudo ocorrer. Depois, precisamos cobrar também a vacinação dos alunos — opina a presidente do Cpers.