Historicamente, o canteiro de obras com sacos de cimento, tijolos e ferramentas esteve associado à força de trabalho masculina. Mas isso vem mudando de maneira acelerada no país, e cada vez mais mulheres estão conquistando espaço na construção civil. Inclusive, em Porto Alegre há uma empresa de construção formada apenas por mulheres e que está contratando cem operárias.
A Diosa, responsável pela abertura dessas vagas, atua há sete anos apenas com mão de obra feminina. A iniciativa não é isolada, já que o Ministério do Trabalho e Emprego estima que a absorção de mulheres pelo mercado da construção civil cresceu quase 50% nos últimos 10 anos, e que mais de 200 mil mulheres já trabalham na área em todo o país.
– Quando as pessoas contratam e têm uma equipe de mulheres dentro de casa trabalhando, a obra é muito mais organizada, o clima é muito mais tranquilo – relata a fundadora da empresa Diosa, Maira Peres.
O cenário atual vem sendo fomentado por diversas iniciativas, que visam à capacitação de mulheres para o setor. A ONG Mulher em Construção é um projeto que nasceu há 15 anos com o objetivo de preparar e ampliar o número de operárias em uma área em que a presença delas era rara. Bia Kern, fundadora da ONG, conta que já treinou mais de 5 mil mulheres na construção civil. Para ela, a formação é uma forma de trazer autonomia.
– Nós entramos mais com o sentido de mostrar para a mulher que ela podia fazer qualquer negócio que quisesse – explica.
Menores salários
Apesar das iniciativas que propiciam a independência feminina, nem tudo são flores. Mesmo sendo maioria da população brasileira, as mulheres ainda ocupam menos espaço no mercado de trabalho. Segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54,5% das mulheres estão empregadas, enquanto que o percentual referente aos homens é de 73%. Além do mais, as mulheres ainda recebem salários em média 22% menores do que os homens.
Uma das tentativas de amenizar essas estatísticas é um projeto de lei que garante igualdade salarial entre homens e mulheres, que estava pronto para sanção do presidente Jair Bolsonaro, após 10 anos de tramitação, mas deu um passo atrás. Na última segunda-feira (26), o texto voltou à Câmara dos Deputados para nova avaliação.
Preparadas para derrubar o preconceito
Outra barreira a ser vencida é o preconceito que ainda acompanha a carreira de quem decide fazer do canteiro de obras seu local de trabalho. A eletricista Aline Trindade chegou a trabalhar alguns anos como jornalista, mas decidiu parar por não estar mais feliz na área.
Em seguida, percebeu que seu envolvimento constante com pequenos consertos em casa poderia se transformar em uma nova profissão. O próximo passo foi buscar especialização na área. Segundo Aline, depois que começou a trabalhar com o que gosta já teve a capacidade questionada por ser uma mulher realizando o serviço.
– Eu fui na casa de um senhor e tudo que eu dizia que era, ele dizia que não, porque o eletricista que tinha ido lá antes não havia mexido ali – conta.
Apesar dos percalços, o prazer de trabalhar na construção civil tem conquistado cada vez mais mulheres. Paloma da Silveira já passou por várias funções desde que começou a trabalhar com obras, em 2011. Hoje ela é pintora e ceramista, e está construindo a própria casa. Ela acredita ter encontrado seu lugar.
– Trabalhar na construção civil é como se eu estivesse em casa, eu adoro a minha profissão. Eu adoro olhar uma construção e depois ver ela pronta.
Se você ficou interessada nas vagas da empresa Diosa e quer ampliar seus horizontes profissionais, pode procurar o Sine de Porto Alegre, na Avenida Sepúlveda, Centro Histórico da Capital, e retirar a carta de encaminhamento, das 8h às 17h. A retirada também pode ser feita por meio do aplicativo Sine Fácil.
Colaboraram: Rochane Carvalho e Leandro Rodrigues