Depois de a Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, no dia 6 de abril, ter divulgado uma nota aos médicos afirmando que não era o "momento oportuno" para o retorno às escolas, 300 profissionais da área assinaram um manifesto que defende o retorno às aulas presenciais. O documento foi enviado às autoridades.
Na última segunda-feira (12), a juíza da 1ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre (2º Juizado), Cristina Luísa Marquesan da Silva, negou pedido do governo do Estado e decidiu manter a suspensão das aulas presenciais no Rio Grande do Sul. No mesmo processo, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS) e o Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS) se manifestaram favoráveis à volta.
Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta quinta-feira (15), a pediatra Larissa Durães, integrante do Movimento Pediatras pela Educação RS, argumentou que "deve-se levar em conta o impacto negativo sobre as crianças", que "estão pagando a conta com prejuízos cognitivos, emocionais e físicos".
— Há aumento da obesidade, atraso na fala, além de outros fatores relacionados à cognição e ao aprendizado. As crianças das séries iniciais são mais impactadas, devido à janela de aprendizagem. Elas têm um momento em que aprendem habilidades sociais, cognitivas, de matemática. Se não aprenderem neste momento, o prejuízo é enorme, vai ficar um abismo muito grande, isso tem nos preocupado — afirmou a pediatra durante entrevista ao programa Gaúcha Atualidade.
De acordo com a profissional, o Brasil tem tratado o tema da volta às aulas diferentemente de outros países, onde, mesmo em período de lockdown, "as escolas são as últimas a fechar e as primeiras a abrir". Segundo ela, é preciso transformar as escolas em ambientes seguros, por meio do cumprimento dos protocolos sanitários e da "responsabilidade compartilhada".
— Essa responsabilidade pertence a cada um. Ao governo, do caso das escolas municipais e estaduais, de fornecer equipamentos para que a escola tenha ambiente ventilado, que as crianças possam usar máscaras, pias, sabonete. Pertence também aos professores, que precisam usar os equipamentos, e aos pais, que não devem enviar as crianças às aulas se estiverem com quadros virais, como coriza e febre. E também dos médicos pediatras, que devem trazer apoio à família — disse.
Ainda de acordo com Larissa, os pediatras têm percebido, por meio de artigos científicos internacionais, que "as crianças pequenas não se infectam tanto, especialmente as da educação infantil", e que é preciso ponderar os prejuízos, já que "há crianças usando medicamentos ansiolíticos e antidepressivos".
O que diz o Cpers
Presidente do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers-Sindicato), Helenir Schürer também concedeu entrevista à Rádio Gaúcha nesta manhã. Segundo ela, o sindicato permanece com o mesmo posicionamento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul – de que não é hora para reabertura.
— Precisamos ter condições para voltar. Estamos acompanhando as pesquisas dos médicos, temos assessoria de infectologistas, e apesar de, nos últimos dias, ter começado a reduzir a ocupação de leitos de UTI, ainda temos um número alto de mortes e de contaminação — afirmou durante o programa Gaúcha Atualidade.
De acordo a presidente, cerca de cem professores e funcionários já morreram em decorrência do coronavírus, já que "muitos fazem plantão nas escolas e se contaminaram entregando materiais aos pais de alunos que não têm acesso à internet".
A possibilidade de retomar a discussão, na visão do sindicato, ocorreria apenas quando o Estado não estiver em bandeira preta. A recuperação do tempo perdido para as crianças que tiveram a aprendizagem prejudicada, na opinião de Helenir, deverá ser enfrentada "com planejamento":
— É uma preocupação nossa. Sou professora alfabetizadora, sei que a alfabetização talvez seja mais fácil, porque o tempo de maturação da criança surge inesperadamente quase. A gente tem tempo ainda neste ano para alfabetizar os alunos tranquilamente. Agora, conteúdos que serão dados para as outras turmas talvez sejam mais necessários, isso sim vamos ter que pensar e ter planejamento de resgate dessas crianças, para que todos possam ter as mesmas condições de conhecimento passada a pandemia.