Os rostos parcialmente cobertos por máscaras não impediram os alunos das escolas particulares que retomaram as aulas presenciais de se reconhecerem e celebrarem o reencontro. Aluna do primeiro ano do colégio Monteiro Lobato, a pequena Valentina Oliveira Rother, seis anos, de máscara e abraçada em sua boneca, estava atenta à chegada de uma colega para que entrassem juntas na escola na tarde desta quarta-feira (17).
— Em novembro, quando Valentina retornou às aulas por um tempo, ela me disse: "Esse é o dia mais feliz da minha vida de seis anos". Estamos um pouco receosos este ano, mas a felicidade das crianças e os cuidados que a escola está tomando fazem valer a pena o retorno— afirma a mãe, Jordana Oliveira.
Foram várias as adaptações feitas pelo colégio da zona norte da Capital para poder acolher 100% dos alunos presencialmente, respeitando as medidas de distanciamento e segurança definidas pelo governo do Estado. Em 43 dias, paredes foram derrubadas e espaços antes dedicados a artes e música foram adaptados para permitir a ampliação das salas de aula, que devem comportar classes dispostas a uma distância mínima de 1,5 metro umas das outras.
— A nossa meta, mesmo em outubro de 2020, quando iniciamos o ensino híbrido, era trazer todos os alunos de volta. Criamos um plano e fizemos investimentos para aumentar as salas de aula, qualificar os professores e colocar todos os alunos, da Educação Infantil ao terceiro ano (do Ensino Médio), dentro da escola — afirma a diretora Nara Lobato Almeida.
Desde 11 de fevereiro, os alunos da instituição têm gradualmente voltado ao ambiente escolar. Mas a dinâmica é nova: já na entrada da escola, um funcionário faz a medição da temperatura de todos que acessam as dependências. Alguns metros à frente, o mascote da instituição, o Lobatinho, uma figura em formato de globo vestindo uma máscara, orienta de forma lúdica sobre os protocolos de saúde e a importância de higienizar as mãos com álcool gel. Os caminhos, corredores e escadarias até as salas de aula funcionam em sentido único, para que os estudantes não se cruzem.
Chamam atenção os grandes televisores instalados nos cantos das salas de aula, que fazem a ponte entre as turmas presenciais e os alunos que ainda estão em casa por decisão de seus responsáveis. Na turma 33 do 3º ano, os pequenos já estão acostumados não só com a imagem da colega Antonela Russowsky, oito anos, na telinha, mas também com a companhia do cão Oliver, que faz participações especiais entre uma matéria e outra e é adorado pela turma:
— Em casa, quando é a hora do recreio, eu ando de bicicleta ou brinco com o Oliver — conta Antonela, que acompanha em tempo real os exercícios por intermédio de uma câmera, posicionada em frente à lousa, e escuta a aula transmitida por um microfone de lapela, utilizado pela professora.
A hora do recreio também foi modificada: o lanche é feito em sala de aula, para que os cuidados com o distanciamento sejam ainda mais observados no único momento em que as máscaras descobrem os rostos. Diariamente, cada turma tem um local externo específico onde passa o intervalo, e as brincadeiras não podem incluir colegas de outras classes. Fica a cargo dos professores e da equipe de monitores fazer com que os alunos não abandonem os protocolos contra a transmissão do coronavírus.
— As crianças são muito participativas e parecem estar entendendo bem este momento. Nós, professores, também estamos achando tranquilo, passamos por uma preparação bem grande antes desta retomada — afirma a professora Evandra Vargas.
No centro de Porto Alegre, outra instituição que retomou as atividades foi o colégio La Salle Dores, onde adesivos no chão e nas classes e cartazes pelas paredes reforçam a importância do distanciamento social e alertam para os sintomas do coronavírus. A instituição optou por manter o esquema de aulas presencial e online para quem desejar.
O modelo de retomada escolhido pelo colégio Concórdia, na zona norte da Capital, é o de turmas intercaladas, em que os alunos irão presencialmente à escola em alguns dias da semana.
Já no Colégio Nossa Senhora da Glória, pais de 65% dos 830 alunos matriculados pediram o retorno presencial. A diretora, irmã Maria Angelina Enzweiler, prevê a adoção de aulas intercaladas caso a instituição chegue à lotação máxima de alunos.