A possibilidade de presença obrigatória de estudantes em salas de aula de escolas públicas e privadas de ensinos Fundamental, Médio e Superior do Estado em 2021 é vista de forma negativa por entidades da área. De acordo com o governo do Rio Grande do Sul, a medida vem sendo estudada pelo Gabinete de Crise do Palácio Piratini. O pedido foi levado ao Executivo pelo Sindicato do Ensino Privado (Sinepe).
Se a medida for aprovada, o modelo adotado seria híbrido, apesar da presença obrigatória. Para evitar aglomerações e o contágio por coronavírus, as turmas seriam divididas pela metade e cada grupo iria se revezar em sala de aula e a distância em intervalos de dias definidos pela escola. A lotação seria de no máximo 50% da capacidade da sala, com distanciamento entre as cadeiras. Quem ficar em casa nos dias de aula remota receberá atividades para realizar a distância, enquanto os colegas estão na escola, e vice-versa.
Nesse modelo, a presença seria exigida para todos, exceto estudantes e professores que fazem parte dos grupos de risco para o coronavírus. No ano passado, os pais podiam optar, mesmo com filhos saudáveis, se os levariam à escola ou se os manteriam no ensino 100% remoto.
Cecília Farias, que integra a direção do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Estado (Sinpro-RS), pondera que a questão envolve diferentes pontos de vista, mas defende que forçar o retorno seria um "excesso" por parte do governo.
— A obrigatoriedade seria um excesso porque isso é algo que depende muito da família, de como ela se sente segura, ou não, com essa decisão. Nós entendemos que essa retomada é necessária, mas não como uma obrigação, uma imposição do Estado — analisa.
Cecília ressalta a importância do convívio dos estudantes com o ambiente escolar, e que isso deve ser feito com o "maior cuidado possível", mantendo medidas de proteção. Além disso, ela questiona como irá funcionar o trabalho do professor, que precisará preparar aulas para a turma presencial e para os alunos em ensino remoto todos os dias.
No entanto, para o sindicato dos professores, o Cpers, o retorno às aulas presenciais, mesmo que com número reduzido de pessoas, não deveria ocorrer antes de a população ser vacinada. Conforme a 1ª vice-presidente da entidade, Solange Carvalho, pais que não se sentem à vontade de enviar os filhos para a escola não devem ser forçados a isso:
— Entendo que muitos pais não vão se sentir seguros de mandar os filhos para a escola enquanto não tivermos a população vacinada. E esses pais que não quiserem aulas presenciais para os filhos têm o direito de, inclusive, acionar a Justiça para garantir o estudo remoto. Na nossa visão, o governo deve melhorar as condições para que o ensino remoto se mantenha até a imunização.
Solange também criticou o fato de o projeto do Sinepe envolver também instituições da rede pública, já que são "estruturas completamente diferentes".
Para o presidente do Sinepe, Bruno Eizerik, as instituições já aprenderam a implementar protocolos sanitários e o ambiente escolar é seguro.
— A gente entende que aprendemos muito no ano passado. Estamos mais calejados. O prejuízo para as crianças, principalmente para os menores, é grande. A escola é um lugar de conviver. No ano passado, cerca de 75% das escolas voltaram às aulas presenciais. Mas quem vai determinar se deve ser obrigatório ou não é o Estado. A vacina está chegando aí. Professores e funcionários foram colocados no quarto grupo prioritário. E para a escola pública, também é importante que as crianças voltem às aulas — acrescenta Eizerik.
Em entrevista a GZH na manhã desta terça-feira (2), o secretário de Educação do Rio Grande do Sul, Faisal Karam, afirmou que vê como "fundamental" a presença de estudantes e professores nas instituições para recuperar o conteúdo não aprendido em 2020. Karam ressaltou que, no Estado, cerca de 25% dos estudantes têm dificuldade no ensino a distância e que o governo está preocupado com uma possível geração perdida na educação por conta da pandemia.
GZH também tentou contato com a Secretaria de Educação de Porto Alegre, com a Universidade Federal do RS (UFRGS) e com o Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung), mas não obteve sucesso.