Mesmo com 20 anos de idade, não dá para dizer que Nicole Pietra Kerber Ribeiro não é experiente em provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No próximo fim de semana, ela entrará em uma sala de aula para realizar o exame pela sexta vez, em busca do ingresso em uma universidade federal para cursar Medicina.
Em 2015, fez a primeira prova, ainda como "treineira", nome dado ao estudante com menos de 18 anos e que ainda não está concluindo o colégio. À época, ela estava no primeiro ano do Ensino Médio. Os anos de 2018, 2019 e, agora, 2020/2021, marcam as provas feitas após anos de estudos fora da escola.
— Já fiz várias edições, já sei mais ou menos como funciona. Já passei em Medicina para muitas particulares, mas continua sendo muito caro. O valor é muito fora da minha realidade — argumenta.
Após dois anos de cursos pré-vestibulares, em 2020 Nicole optou por estudar cada matéria com grupos de estudos particulares feitos por professores. O que ela não esperava era ter somente poucos dias de atividades presenciais: desde março, as aulas são ministradas via computador. A família precisou mudar o pacote de internet da casa e enviar para conserto um notebook que estava com pouco uso.
— Eu estava muito acostumada já há dois anos tendo aula no cursinho presencial, com toda a dinâmica da aula presencial, então no início era bem complicado para manter o foco, a atenção e até mesmo o aprendizado. É uma coisa que não fazia parte da minha rotina. Imagino como deve ser difícil para quem estava aprendendo novos conteúdos. No meu caso, são revisões, porque as matérias são as mesmas todos os anos.
Nicole estuda cerca de 10 horas por dia, divididas nos turnos da manhã e da tarde. Aos finais de semana, tira um dia para descansar e outro para resolução de exercícios. Moradora de Canoas, ela poupou tempo em deslocamentos ficando em casa ao longo do ano — mas admite que o período extra não foi tão produtivo, já que as aulas online a deixaram mais cansada do que o normal. Para ela, o peso da pandemia no psicológico dos candidatos será geral:
— A gente está chegando mais abalado. Todo mundo teve algum grau de problema depressivo, algo do tipo, e isso com certeza afeta o desempenho em uma prova. A gente tem que tentar não se deixar afetar, o que é um pouco desafiador. Mas acho que, querendo ou não, a essência da preparação continuou sendo a mesma: sentar a estudar.
Entre o fim de dezembro e o início de janeiro, os livros foram levados para a praia de Rainha do Mar, em Xangri-lá, onde ela e os pais passaram os feriadões de fim de ano. Com o trabalho árduo, ela está pronta para, em 2021, ver seu nome em uma das listas para uma universidade federal:
— A cada ano eu fico mais confiante. Eu sei que estou mais perto e que vou poder realizar o meu sonho.