Três dias antes da inauguração da nova sede da Gruppen, empresa de tecnologia da informação (TI) de Porto Alegre, os 46 colaboradores foram orientados a trabalhar em home office por conta da covid-19. E poderão não retornar mais ao prédio mesmo depois da pandemia.
No lugar das estações de trabalho, computadores e cadeiras, o ambiente ganhou videogame, mesas de sinuca e de pebolim, cafeteria, sorveteria e uma geladeira com todos os tipos de bebidas, incluindo cervejas artesanais e espumantes — sugestões dos próprios integrantes. A sede virará um clube de convivência para os funcionários.
Segundo o CEO da empresa, Carlos Felipe Jacobs, a decisão de tornar definitivo o trabalho remoto surgiu durante o distanciamento, depois de a Gruppen ampliar em 32% o faturamento, reduzir em 22% as despesas e ouvir os próprios colaboradores. Numa pesquisa interna, com notas variando de 1 a 10, eles indicaram média 8 no "nível de felicidade" no home office.
Para chegar a esses resultados, Jacobs conta que a Gruppen trabalhou, além da segurança do grupo, a questão psicológica, se comprometendo a manter os empregos até agosto de 2021. Além disso, foi criado um grupo de melhorias internas. A partir dele, foram incluídas reuniões diárias de bate-papo com câmeras abertas, no início da manhã e no final da tarde, e ampliou-se as interações entre os times. Também se definiu pelo repasse a cada colaborador de uma verba mensal para custear o escritório em casa (gastos com internet, energia elétrica e telefone).
— Home office não é apenar mandar o colaborador para casa. Sem método, é óbvio que não funciona. É um outro cenário. Não precisamos ver a pessoa trabalhando para saber se ela está produzindo. Acompanhamos os números de produção por escore de tarefas, que inclui até estudar a distância para aperfeiçoar as técnicas pessoais. Controlar custa muito caro. É mais fácil confiar do que controlar — ensina Jacobs.
Antes da pandemia, a Gruppen já tinha implantado o home office de forma esporádica. Agora, em definitivo, a meta é melhorar a qualidade de vida dos colaboradores. Em casa, a carga horária de trabalho foi reduzida para algumas equipes de oito para seis horas diárias.
— Fiz uma conta e percebi que no trabalho presencial perdíamos cinco horas diárias: uma hora e meia, em média, de deslocamento para o trabalho, mais uma hora e meia de almoço e outras duas horas de trabalho. Agora, ganhamos cinco horas do dia para fazermos outras coisas, como passear, fazer academia, estudar e ficar com a família. Quanto custa isso? Nós, com o home office, ganhamos um dia a mais para viver — justifica Jacobs.
Apesar de o clube estar pronto, o CEO alerta que ele só será liberado depois da pandemia. Os colaboradores poderão optar por ir à sede para trabalhar num formato híbrido, pois o espaço do escritório foi mantido, ou apenas aproveitar a área de lazer no horário comercial.
Distribuição dos trabalhadores de forma remota por grupo ocupacional (em julho)
- 51% Profissionais das ciências e intelectuais
- 14% Outros
- 11% Trabalhadores de apoio administrativo
- 9% Técnicos profissionais de nível médio
- 8% Diretores e gerentes
- 5% Trabalhadores dos serviços, vendedores dos comércios e mercados
- 1% Ocupações elementares, operários e artesãos da construção, das artes mecânicas e de outros ofícios
- 0% Trabalhadores qualificados da agropecuária, florestais, da caça e da pesca, operadores de instalações e de máquinas e montadores, membros das forças armadas, policiais e bombeiros
Fonte: PNAD Covid-19
Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea