Um senhor de 68 anos com uma placa na mão chamou a atenção de quem passava pela esquina da Avenida Ipiranga com a Silva Só, na Capital, nesta semana. O motivo era a frase escrita: “Preciso trabalho”. Essa foi a solução que Carlos Ramiro da Silva encontrou para tentar conseguir um novo emprego depois que a oficina mecânica para a qual ele prestava serviço fechou, há três meses, em função da pandemia.
O motorista aposentado conta que a ideia de fazer a faixa veio quando ele viu que, nos diversos protestos que estavam acontecendo pelo mundo contra o racismo por causa da morte de George Floyd (homem negro que foi estrangulado por um policial branco durante uma abordagem, nos Estados Unidos), as pessoas levavam cartazes para dizer o que queriam.
– Percebi que o cartaz era uma ótima maneira de mostrar o que eu precisava. Se eu não mostrasse, ninguém ficaria sabendo. Então, pedi a uma vizinha que tem a letra bonita para me ajudar, e ela escreveu pra mim – conta.
O aposentado, então, resolveu ir para a rua com seu cartaz. Ele conta que ficou das 7h30min até 11h30min de terça-feira (9) na Avenida Ipiranga.
– Enquanto estive lá, ninguém me ofereceu trabalho. Mas várias pessoas tiraram fotos e algumas até pararam para me incentivar dizendo que Deus estaria olhando pra mim e me ajudaria. À tarde, surpreendentemente, comecei a receber algumas ligações – relata.
Entre algumas ofertas de atividades que Carlos não sabia fazer ou não poderia em função da idade e de limitações de saúde, finalmente recebeu a ligação que lhe daria um trabalho.
– O dono de um estacionamento me ligou me dizendo que precisava de um folguista. Aceitei na hora! – conta.
Aposentado há 10 anos, Carlos já trabalhou como porteiro de um hotel (que já fechou) por cinco, e em um call center fazendo pesquisa. Nos últimos seis meses antes da demissão, estava na oficina mecânica.
Segundo ele, o salário da aposentadoria não é suficiente para pagar todas as contas e o aluguel do local onde vive com a esposa, Lenir Machado da Silva, 72, anos, com quem é casado há 42 anos. Por isso, ele precisa de outro trabalho para complementar a renda.
– Mesmo com a oferta no estacionamento, sigo aceitando propostas de trabalho. Espero que dê tudo certo e eu não precise voltar a carregar meu cartaz pela rua – diz Carlos.