Apesar de 82% das redes municipais de ensino no Brasil terem definidos estratégias para oferecer aulas ou conteúdos pedagógicos aos estudantes em meio à pandemia do coronavírus, a maioria não consegue propor atividades escolares com regularidade. No Ensino Médio, somente 28% das redes têm sido capazes de ofertar conteúdos diariamente. O maior índice é nos anos finais do Ensino Fundamental, ainda assim, chegando a apenas 31%.
Os dados fazem parte da pesquisa A Educação Não Pode Esperar, iniciativa do Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa (CTE-IRB), do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) e de 26 Tribunais de Contas.
O levantamento mapeou ações de 249 secretarias de Educação, sendo 232 municipais e 17 estaduais, em 23 Estados de todas as regiões do país. Ao longo de maio e início de junho, as redes responderam a questionários online e participaram de entrevistas conduzidas pelos técnicos dos Tribunais de Contas.
Quanto à formação, somente 39% das redes municipais dizem que estão ocorrendo ou já ocorreram formações para os profissionais desenvolverem atividades a distância com os estudantes. Na relação entre secretarias, professores e alunos, as principais práticas pedagógicas identificadas foram o uso do WhatsApp para comunicação e para envio de conteúdos curtos. Foi identificada ainda a disponibilização de conteúdos em páginas online, utilização de plataformas, como Google Classroom, para videoaulas em tempo real e entrega de conteúdos impressos na própria escola.
O presidente do CTE-IRB, Cezar Miola, avalia que um dos objetivo do estudo é diagnosticar a realidade, os problemas, mas também tornar públicas experiências exitosas. Ele explica que, em todas as redes que apresentaram bons resultados, há um conjunto idêntico de fatores que se repetem.
— É importante a transmissão de conteúdo que cumpra minimamente a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mas tão importante quanto isso é manter os vínculos dos alunos com as escolas e fazer com que a família se mantenha engajada nesse processo. Há uma necessidade de uma série de estratégias pelas redes pra mitigar esses problemas, e algumas delas estão indicadas nesse estudo — explica Miola.
Para o pesquisador e diretor fundador do Iede, Ernesto Faria, é necessário mapear o cenário atual para ajudar a entender que tipo de ações podem ser feitas para orientar melhor as redes de ensino.
— É importante trazer referências, apontar caminhos. Há muita tentativa e erro nas ações, e às vezes uma rede de ensino não sabe de uma boa prática que está sendo feita em outro município. Nosso estudo consegue trazer experiências em relação à formação de professores, comunicação com os pais, que tipo de materiais usar na educação infantil. Enfim, traz um panorama que pode ser muito útil para as redes de ensino — define Faria.
A pesquisa mostra, ainda, como as redes estão se preparando para o retorno, envolvendo estratégias para combater o abandono escolar, diminuir as defasagens de aprendizagem e garantir a segurança de funcionários e estudantes
Números da pesquisa
- 82% das redes municipais têm alguma estratégia para oferecer aulas ou conteúdos pedagógicos aos estudantes durante a pandemia.
- Todas as 17 redes estaduais analisadas disseram ofertar algum tipo de atividade não presencial no momento.
Periodicidade das tarefas online
Educação Infantil
- 28% diariamente
- 41% semanalmente
- 31% quinzenalmente
Anos iniciais do Ensino Fundamental
- 27% diariamente
- 44% semanalmente
- 29% quinzenalmente
Anos finais do Ensino Fundamental
- 31% diariamente
- 44% semanalmente
- 25% quinzenalmente
Ensino Médio
- 28% diariamente
- 28% semanalmente
- 44% quinzenalmente