Está aberta a temporada de inscrições para programas de trainee em diversas empresas. Neles, milhares de jovens veem a oportunidade de acelerarem a carreira e de terem um salário melhor do que o geralmente oferecido aos recém-formados que ingressam no mercado de trabalho. Passar pela peneira de entrevistas, no entanto, não é tarefa fácil. Alguns processos seletivos podem ter mais de 200 candidatos por vaga — um recente das Lojas Renner, por exemplo, teve 273. Como se destacar neste mar de gente?
O perfil do candidato desejado, aos poucos, se transforma. Se antes era necessário cumprir uma lista de pré-requisitos técnicos para ser aprovado em uma seleção, atualmente, algumas empresas começam a ficar mais atentas a valores comportamentais e de vivências do postulante. Essa guinada dos recrutadores tem como base estudos sobre cultura das empresas que identificaram a importância da diversidade nos times. Segundo um deles, realizado pela consultoria norte-americana McKinsey, em 2018, o potencial de aumento no faturamento é 15% maior em negócios com mulheres em cargos de liderança e 33% superior com relação à diversidade étnica e cultural.
Para Carla Biasi, gerente sênior de talentos da Page Outsourcing, estabelecimento especializado em processos de contratação em larga escala, essa mudança nas características e valores desejados pelas companhias têm incentivado as empresas a realizarem processos às cegas.
— Antes, os recrutadores procuravam candidatos de determinadas universidades. Hoje, houve mudança de entendimento. Eu conheço as pessoas, vejo o quanto o comportamento dela se traduz nos valores da companhia, porque isso implica uma aderência maior e mais rápida deste funcionário no futuro, para, depois, realizar a validação técnica de suas habilidades — diz a especialista.
Oportunidade de crescimento
Aos 25 anos, o porto-alegrense Thiago Umann, atualmente com 36 anos, decidiu deixar o enfadonho cargo de gerente de comércio internacional em um banco para dar uma guinada na carreira. Ele acabava de se formar em Comércio Internacional e pesquisou sobre programas de trainee. Deparou com o da Renner, considerou que dialogava com seus valores e se inscreveu.
— Meu professor de faculdade falou sobre este programa, pesquisei bastante sobre ele, sobre a empresa, sobre as oportunidades de crescimento e sobre as áreas que poderia vir a atuar. Isso foi bem importante para a entrevista e também para que me sentisse mais seguro em relação a decisão sobre o meu futuro profissional — diz Thiago.
Em 10 anos de carreira na empresa, atuou em duas cidades do Estado de São Paulo, no Rio de Janeiro e no Uruguai. Atualmente, é gerente regional e responsável por 20 lojas distribuídas em Porto Alegre e municípios próximos.
Foco nos nativos digitais
A gerente sênior de talentos da Page Outsourcing afirma que a capacidade de comunicação e de trabalhar em equipe, de maneira colaborativa, são necessidades clássicas das empresas, mas que é muito difícil precisar quais são as outras características requeridas, já que isso depende do momento de cada empreendimento:
— Se a empresa está em fase de franca expansão e transformação, ela precisará de pessoas inovadoras que inspirem a mudança. Se ela deseja se consolidar no mercado, estará em busca de pessoas com perfil mais cauteloso.
Clarice Costa, diretora de Gente e Desenvolvimento das Lojas Renner, pontua que a empesa espera que os postulantes desafiem o status quo e tragam visões inovadoras e desafiadoras para o negócio, justamente, por serem nativos digitais:
— É necessário conhecer as tecnologias que estão a serviço da sociedade, ter capacidade analítica sobre o comportamento humano para, a partir delas, propor soluções e produtos que dialoguem com as necessidades dos clientes.
Habilidade comportamental ganha destaque
Carla pontua que as habilidades comportamentais são mais importantes do que a capacidade técnica, dependendo do processo seletivo. Ela destaca que o olhar atento a este tipo de qualidade é novo. Empresas de setores mais tradicionais, como da construção civil, podem demorar a mudar seus métodos, mas companhias de outros segmentos começaram seu processo de transição:
— Elas estão entendendo que este atributo é importante e começaram a direcionar seus esforços para isso.
Linique Karling, gerente de desenvolvimento humano e organizacional do Grupo Dimed, formado pela rede de farmácias Panvel, diz que os traços comportamentais se destacam, justamente, porque o público-alvo dos processos de trainees são os jovens.
— São pessoas que estão iniciando suas carreiras. O match cultural entre os valores da empresa e os dele é que mais será avaliado. Mas observaremos também o nível de preparo do candidato para aquela vaga, no que tange o quanto ele sabe sobre o momento da companhia, nossos objetivos, novidades do mercado etc. Não exigimos que estejam prontos, mas que tenham proatividade e curiosidade por conhecimento — afirma Linique.
A gerente sênior de talentos da Page Outsourcing faz coro a esta afirmação e complementa ressaltando a importância do autoconhecimento para não se inscrever em processos seletivos de trainee, no qual os valores e propósitos da empresa não dialogam com os do aspirante ao posto de trabalho:
— É importante saber que tipo de ambiente de trabalho se gosta e em quais o indivíduo se sente desconfortável. Estar atento aos possíveis cenários aos quais será exposto ao longo do desenvolvimento da carreira dentro desta companhia é crucial para não chegar nas entrevistas e ficar decepcionado. Estudar a empresa é fundamental.
O que as empresas procuram nos candidatos
- Pessoas que saibam lidar com a diversidade de ideias.
- Indivíduos que estejam aptos a trabalhar de maneira colaborativa.
- Proatividade e sugestões de novas.
- Curiosidade e vontade de constante atualização nos estudos.
- Estar ciente das novidades de mercado relacionados àquele setor.
- Capacidade de análise de mercado é um diferencial importante.
- Estudar o momento da empresa é crucial para você e para chegar bem preparado nas entrevistas.
- Inglês intermediário é desejável.